cap.4

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THOR GRITOU POR YO. O DRAGRÃO...


... Não tardou a surgir no céu, mas

um grasnar estridente veio logo atrás

dele. Era o Pássaro de Estinfalo,

monstro metade ave metade mulher,

com garras e bico de metal. Numa

arremetida, o pássaro destrinchou as
asas do dragão, que, mesmo combalido, conseguiu queimar a criatura com seu fogo.
A queda do gigante vermelho estremeceu o solo, e a confiança do rei.
- Pobre dragão... - ironizou uma voz feminina, que não era a de Ísis.
- Você... - surpreendeu-se Thor ao ver Circe: não tanto por ela estar em Olimpo, mas por constatar que a
beleza e juventude da bruxa continuavam intactas, mesmo
com o passar dos séculos.
Circe apeou de seu monstro. Thor fez o mesmo.
- Que homem bonito você se tornou, Alteza! -
provocou a feiticeira, encostando suas mãos no peito do rei.
- Aquele rapazinho franzino parece ter ficado no passado.
O desejo despertado pelo toque da bruxa perturbou Thor.
- O que você quer?
- Quero retomar o que é meu - respondeu, afastando suas mãos do rei.
- Nada aqui é seu. Nem meu.
- Nem seu? Então quem tomou para si a liberdade dos eeianos?
- Eu não era o rei quando tudo aconteceu. Mas agora sou, e estou disposto a mudar as coisas.
- "Agora" é tarde. Muitos eeianos, asgardianos como você, estão vendo o sol pela primeira vez. Outros nunca chegaram a vê-lo. Não vou perdoar a Monarquia Asgardiana por isso.
Circe encostou seus lábios nos de Thor. Mesmo Ísis
testemunhando a cena, ele não resistiu e deixou-se beijar. A
floresta e suas criaturas não acreditaram que os hormônios
do rei o haviam trapaceado. O beijo fez dele serpente.
- A partir de hoje, tudo será diferente - avisou a bruxa ao rastejante rei.
Percebendo o perigo, Sleipnir voou com Ísis.
- Atrás deles, Quimera! - ordenou Circe, mon-

tando no dorso de seu monstro.

O cavalo galopou entre as nuvens mais rápido

que a cabra. Desviando-se do fogo de Quimera, Sleipnir

mergulhou na densa floresta de Hel - no Vale das

Almas, a Lei Divina assegurava a paz. Nenhuma batalha

poderia ser travada na terra sagrada dos espíritos.

***

Os seiscentos e trinta kappas da Guarda de Atena, armadi-

lhados com bolas de fogo, atravessaram o corredor que se-

parava o Céu do Inferno, até chegarem à floresta olimpiana.

Dentro da mata, cento e sete deidades e monstros aguarda-

vam os invasores. Liderando cada batalhão, estavam Atena

e Hermes.

***

Sleipnir deixou Ísis sobre a copa de uma árvore.

- Ficarei aqui aguardando seu retorno - prometeu

Ísis ao cavalo. - Vá ajudar seu rei!

***

Quetzalcóatl havia acabado seu turno, deixando a noite en-

golir a batalha. Bolas de fogo caiam sobre as árvores que far-

falhavam de dor. A magia e o poder das criaturas do Norte

pareciam sucumbir ao preparo dos homens-macaco do Sul.

Dentro de uma gruta, Hermes fazia a contagem dos

mortos. Não eram poucos.

- Atena está aqui, senhor! - avisou um dos mons-

tros que guardava o local.

- O que ela pretende?

- Pretendo conversar - respondeu a senhora bai-

xinha, de dreads brancos na cabeça.

Atena estava acompanhada de duas ninfas que asse-

guraram sua passagem pela trincheira.

- Conversar como velhos amigos que fomos, antes

da segregação - completou a deusa, indo da penumbra

em direção a luz das velas que iluminava a mesa improvi-

sada de Hermes.

- Não houve segregação, e sim conflito de interesses.

- Não vim aqui para discutir o certo e o errado.

Vim para fazer um acordo.

- Em que termos?

- Queremos garantir a liberdade que nos foi conce-

dida pelo acaso.

- Mas isso já foi dado a vocês.

- Que essa liberdade não seja nunca mais cerceada.

- Não será.

- Palavras não nos interessam. Queremos a humana

como garantia. Enquanto ela for nossa prisioneira, ninguém

nos fará mal. Sabemos dos sentimentos de Thor pela jovem.

- Por Zeus, Atena! Você sabe que o rei não permi-

tirá tamanha loucura.

- Então aguarde a morte de cada um dos deuses e

monstros que formam sua tropa - disse a deusa, saindo da

gruta. - Assim que amanhecer, chegaremos ao castelo. Aí

será tarde demais para novas negociações.

A cobra do caduceu se contorceu e silvou, externan-

do os sentimentos de Hermes.

***

Levado da mata à casa de Apolo - o abrigo mais próximo

-, Thor foi desenfeitiçado por Dakota.

- A paz não pode ser mantida a força - alertou

Apolo. - Internalize essas palavras, Thor. Talvez ainda haja

tempo de rever os ideais herdados de seus pais.

- E Ísis? - perguntou o rei, deixando as palavras de

Apolo em segundo plano. - Preciso saber onde ela está.

- Arf! Às vezes esqueço de suas prioridades ju-

venis - lamentou Apolo. - Sleipnir refugiou a humana.

Não se preocupe.

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