THOR GRITOU POR YO. O DRAGRÃO...
... Não tardou a surgir no céu, masum grasnar estridente veio logo atrás
dele. Era o Pássaro de Estinfalo,
monstro metade ave metade mulher,
com garras e bico de metal. Numa
arremetida, o pássaro destrinchou as
asas do dragão, que, mesmo combalido, conseguiu queimar a criatura com seu fogo.
A queda do gigante vermelho estremeceu o solo, e a confiança do rei.
- Pobre dragão... - ironizou uma voz feminina, que não era a de Ísis.
- Você... - surpreendeu-se Thor ao ver Circe: não tanto por ela estar em Olimpo, mas por constatar que a
beleza e juventude da bruxa continuavam intactas, mesmo
com o passar dos séculos.
Circe apeou de seu monstro. Thor fez o mesmo.
- Que homem bonito você se tornou, Alteza! -
provocou a feiticeira, encostando suas mãos no peito do rei.
- Aquele rapazinho franzino parece ter ficado no passado.
O desejo despertado pelo toque da bruxa perturbou Thor.
- O que você quer?
- Quero retomar o que é meu - respondeu, afastando suas mãos do rei.
- Nada aqui é seu. Nem meu.
- Nem seu? Então quem tomou para si a liberdade dos eeianos?
- Eu não era o rei quando tudo aconteceu. Mas agora sou, e estou disposto a mudar as coisas.
- "Agora" é tarde. Muitos eeianos, asgardianos como você, estão vendo o sol pela primeira vez. Outros nunca chegaram a vê-lo. Não vou perdoar a Monarquia Asgardiana por isso.
Circe encostou seus lábios nos de Thor. Mesmo Ísis
testemunhando a cena, ele não resistiu e deixou-se beijar. A
floresta e suas criaturas não acreditaram que os hormônios
do rei o haviam trapaceado. O beijo fez dele serpente.
- A partir de hoje, tudo será diferente - avisou a bruxa ao rastejante rei.
Percebendo o perigo, Sleipnir voou com Ísis.
- Atrás deles, Quimera! - ordenou Circe, mon-tando no dorso de seu monstro.
O cavalo galopou entre as nuvens mais rápido
que a cabra. Desviando-se do fogo de Quimera, Sleipnir
mergulhou na densa floresta de Hel - no Vale das
Almas, a Lei Divina assegurava a paz. Nenhuma batalha
poderia ser travada na terra sagrada dos espíritos.
***
Os seiscentos e trinta kappas da Guarda de Atena, armadi-
lhados com bolas de fogo, atravessaram o corredor que se-
parava o Céu do Inferno, até chegarem à floresta olimpiana.
Dentro da mata, cento e sete deidades e monstros aguarda-
vam os invasores. Liderando cada batalhão, estavam Atena
e Hermes.
***
Sleipnir deixou Ísis sobre a copa de uma árvore.
- Ficarei aqui aguardando seu retorno - prometeu
Ísis ao cavalo. - Vá ajudar seu rei!
***
Quetzalcóatl havia acabado seu turno, deixando a noite en-
golir a batalha. Bolas de fogo caiam sobre as árvores que far-
falhavam de dor. A magia e o poder das criaturas do Norte
pareciam sucumbir ao preparo dos homens-macaco do Sul.
Dentro de uma gruta, Hermes fazia a contagem dos
mortos. Não eram poucos.
- Atena está aqui, senhor! - avisou um dos mons-
tros que guardava o local.
- O que ela pretende?
- Pretendo conversar - respondeu a senhora bai-
xinha, de dreads brancos na cabeça.
Atena estava acompanhada de duas ninfas que asse-
guraram sua passagem pela trincheira.
- Conversar como velhos amigos que fomos, antes
da segregação - completou a deusa, indo da penumbra
em direção a luz das velas que iluminava a mesa improvi-
sada de Hermes.
- Não houve segregação, e sim conflito de interesses.
- Não vim aqui para discutir o certo e o errado.
Vim para fazer um acordo.
- Em que termos?
- Queremos garantir a liberdade que nos foi conce-
dida pelo acaso.
- Mas isso já foi dado a vocês.
- Que essa liberdade não seja nunca mais cerceada.
- Não será.
- Palavras não nos interessam. Queremos a humana
como garantia. Enquanto ela for nossa prisioneira, ninguém
nos fará mal. Sabemos dos sentimentos de Thor pela jovem.
- Por Zeus, Atena! Você sabe que o rei não permi-
tirá tamanha loucura.
- Então aguarde a morte de cada um dos deuses e
monstros que formam sua tropa - disse a deusa, saindo da
gruta. - Assim que amanhecer, chegaremos ao castelo. Aí
será tarde demais para novas negociações.
A cobra do caduceu se contorceu e silvou, externan-
do os sentimentos de Hermes.
***
Levado da mata à casa de Apolo - o abrigo mais próximo
-, Thor foi desenfeitiçado por Dakota.
- A paz não pode ser mantida a força - alertou
Apolo. - Internalize essas palavras, Thor. Talvez ainda haja
tempo de rever os ideais herdados de seus pais.
- E Ísis? - perguntou o rei, deixando as palavras de
Apolo em segundo plano. - Preciso saber onde ela está.
- Arf! Às vezes esqueço de suas prioridades ju-
venis - lamentou Apolo. - Sleipnir refugiou a humana.
Não se preocupe.
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ASGARD
FantasyO conto Asgard é a primeira incursão da autora de paradidáticos Juliana Dalla pela literatura fantástica. Através dessa obra repleta de referências mitológicas, a autora nos leva a uma aventura em sua peculiar versão do solo asgardiano. Nessa terra...