Capítulo 5 - Cartas na mesa

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— Você é louco! Pior, estou ficando louca junto com você. — tento descontrair, mas a verdade é que estou totalmente apavorada com toda essa situação. Ainda mais se alguém descobrir. Se for a loira falsa então, acho que cometo um desatino.

— Eu estou louco sim. Louco e completamente apaixonado por você. — ele fala muito sério e me desvencilho dos seus braços rapidamente. Suspiro sem saber o que fazer, não quero me meter em outra roubada. — Eu sei o que está pensando Luma, e te entendo — torço a boca, enquanto ele parece muito lógico. — Mas temos que arranjar algum jeito disso funcionar. Por que não quero desistir de você. — sorrio ao morder meu lábio inferior e seu olhar é um convite para a loucura.

— Já parou pra pensar que eu posso não estar tão interessada assim? — ele sorri abertamente, enquanto ostento uma careta marota. — Vai ver só estou interessada em boas notas. O que acha? — tento soar divertida, mas minhas palavras tem um intuito direto: saber se o que estava na mensagem do grupo escolar, passara por sua mente em algum momento. Ele para de sorrir e volta a se aproximar me deixando em cólicas.

— Não concordo e não penso como o texto daquela mensagem Luma. E nem é só sexo que quero com você. Claro que ele está incluso, mas... — ele revira os olhos de modo safado e volto a sorrir. — Não quero mais brincar de adolescente Luma. Eu quero mais. — sua mão envolve meu pescoço delicadamente e mesmo que eu tente, não consigo tirar meus olhos dos seus lábios. Como eles se amoldam perfeitamente aos meus.

— E suponho que esse mais inclua passeios nos finais de semana em trio? — fujo das suas garras, deixando –o intrigado. Ele cruza os braços do modo que me deixa sem ar e sua fisionomia não podia ser mais serena.

— Suponho que sim. Vamos ver! — ele suspira pondo a mão em seu queixo, enumerando uma lista imaginária nos dedos da outra mão. — Passeio na pracinha, sorvete no fim da tarde, pipoca com desenho animado e pra completar a noite... — ele se aproxima de novo e dessa vez não fujo das suas mãos. — Beijos encantados ao luar. — sorrio, sem pensar pela primeira vez na grande confusão que isso vai dar. — Está bom? Ou precisa de mais? — meneio a cabeça em negação e toco seus lábios com ternura, num beijo suave. Em seguida, ele me abraça.

— Vai dar certo, você vai ver. — ele beija o topo da minha cabeça e nesse instante é só isso o que desejo.

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Um mês depois

— Lia! Não esqueça do escudo autografado do Capitão América, pelo amor de Deus. Do contrário seu afilhado vai passar a noite toda com a cara amarrada. — advirto minha amiga, enquanto pauso o enchimento das bolas pra festinha de aniversário do meu menino. Davi conheceu o ator que faz o super herói favorito do meu filhote e não perdi a oportunidade quando Lia me questionou que tipo de presente dar a ele. Está certo que existem outras coisas mais necessárias, mas vamos falar sério? Que criança de quatro anos não ia ficar feliz em receber uma réplica do escudo do Capitão América com um autografo nele? Meu moleque não vai se esquecer disso nunca.

"Pode deixar dona Luma. Já está no carro. Chegamos logo, até já!"

Encerramos a ligação, mas nem tenho tempo de ver a tela do celular se apagar. Sorrio com a mensagem de Dornelles.

"O aniversário não é meu, mas estou muito feliz com meus dois presentes: vocês. Te vejo mais tarde meu amor."

— Passarinho verde? — minha mãe indaga ao meu ouvido e rapidamente escureço a tela do aparelho. Ela anda cada vez mais desconfiada e embora saiba que vou ganhar no mínimo um sermão sobre meu namoro com Dornelles, ainda não quero conversar com ela sobre isso. Não agora. Talvez depois do aniversário de Rubinho.

— Nada demais, mãe. Só bobagens que a Lia me manda — disfarço ao retornar meus afazeres e ela se junta a mim, enchendo alguns balões enquanto me fita vez ou outra. Odeio essa vigília velada. — O que foi Dona Íris? Desembucha logo o que quer saber. — peço impaciente após alguns segundos e ela me lança um inesperado sorriso acolhedor.

— Apresenta o professor do modo certo ao seu pai, ok? — ela se levanta e estou totalmente desarmada e envergonhada.

— Como descobriu? — faço uma careta infantil e ela se agacha bem próxima do meu rosto.

— Já tive meus quinze anos querida. — solta num misto de graça e desdém que me incomoda por um pouco.

— Não é uma paixonite mãe. É sério. — ela parece entender onde quero chegar e assente numa expressão cautelosa.

— Então leve todas as conseqüências disso a sério também, filha. Vou terminar os docinhos. — seu tom é uma clara advertência e fico pensativa por vários minutos. Até agora, estamos indo muito bem. Mesmo assim, suas palavras permanecem ecoando em minha mente e uma leve dúvida se apodera do meu coração. Eu não tenho escolhas a não ser, pagar pra ver.

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A festinha corre de vento em popa e meu moleque não podia estar mais feliz. Além de ter o uniforme do Capitão América, não parava de ostentar a cópia fiel do escudo do seu super herói. Olho o relógio por um segundo e bufo de ansiedade pela demora de Dornelles. Será que ele não vem?

— Acalme-se, ou vai ter um treco. — Lia me avisa, roubando um dos brigadeiros da festa. É o décimo desde que chegou e sorrio na certeza de que a família dela vai aumentar.

— Está tão na vista assim? — ela assente e suspiro tensa. — Quando vai contar ao Davi que ele vai ser pai de novo? — ela quase engasga com o doce e agora sorrio mais.

— Luma, não posso estar grávida. Laura não tem nem dois anos. — ela bufa contrariada, observando a filha no colo da sogra.

— Melhor oras. Irmãos na mesma faixa de idade, eles serão unha e carne, como nós. — beijo sua bochecha e a sinto aflita. — Ei! Desculpe amiga. Não a quero triste ok? — tento remediar minha brincadeira e ela parece a indecisão em pessoa.

— Será que o Davi vai gostar?

— Não fale bobagens Lia. O Davi adora você, grávida ou não grávida. — repreendo-a num risinho debochado.

— Sei disso. Mas não quero ter filhos que nem coelho — volto a sorrir do seu argumento e acho que a possível nova gravidez anda comendo seu cérebro.

— Lia não está exagerando? Concordo que uma gravidez atrás da outra limita vocês de certa forma, mas é lindo poder observar o crescimento do amor de vocês através de uma nova criaturinha. E talvez você realmente nem esteja com um pimpolho aí. Deixa rolar amiga. — solto sensata, enquanto ela me catuca nas costelas. Olho para a porta e a imagem de Dornelles é praticamente um imã para os meus olhos. Simplesmente não consigo desviá-los dele.

— Vou deixar. Agora vai receber seu namoradinho, antes que as mães das outras crianças se lancem sobre ele e não sobre nada pra você. — ela articula divertida e sigo na direção dele, tentando controlar a queimação em meu rosto, que já devia estar mais do que vermelho. Seu sorriso é minha perdição e beijo o canto da sua boca de leve ao cumprimentá-lo, enquanto a vontade de mostrar a todos que ele é só meu, grita em meu peito. Mas ainda não era hora.

— Que horas esse povo todo vai embora? — ele sussurra em meu ouvido e brinco rapidamente com o botão da sua camisa, enquanto sei que os olhos das pessoas estão sobre nós.

— Logo. Paciência. — ele assente e seu olhar é um misto de doçura e perspicácia, enquanto o conduzo pela mão até onde Rubinho está. Meu garoto o abraça assim que o vê e a cena é um alento ao meu coração. Sinto os olhos do meu pai sobre mim e pela sua cara as coisas não estão tão bem. Sei que ele não quer que eu me machuque novamente, mas também sei que tenho o direito de tentar. É minha vida e ninguém pode vivê-la por mim.

Após um pouco mais de uma hora, observo Rubinho bocejar e apesar da farra estar sendo boa, ele já está acostumado a dormir bem antes desse horário, então peço que as crianças presentes se juntem ao redor da mesa para cantar o parabéns. As luzes se apagam e o coro se inicia, enquanto meu pai se ocupa em bater as fotos. Meu menino apaga as velas e ajudo-o a cortar o primeiro pedaço do bolo. Antes que eu possa perguntar para quem ele vai entregar, uma voz que há muito estava esquecida por mim paira no ar e todo o meu mundo para.

— Que tal o primeiro pedaço do bolo ser do papai?

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