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Capítulo 15 - Enganos

Danilo é cavalheiro e puxa a cadeira para que me sente ao seu lado, seu olhar é um misto de apoio e seriedade. Um senhor com idade para ser meu avô expõe alguns dados e gráficos que não consigo entender e Danilo me passa todas as explicações baixinho.

Nossa proximidade começa a me incomodar e o cheiro do seu perfume parece grudar em minha pele. Olho à minha volta e a expressão imponente dos acionistas me deixa ansiosa pra ir embora. A sala se torna cada vez menor e suspeito ter um ataque de pânico a qualquer momento. Não suporto pressões.

— Você está bem, Luma? — Danilo indaga preocupado e assinto numa respiração ofegante enquanto recebo uma lista de bens acumulados pela família Aguiar nos últimos anos. Não fazia a mínima ideia do quanto Donatello havia deixado para Rubinho.

— Seu irmão é muito mais rico do que eu pensava. — digo espantada com os altos valores e me sinto um pouco perdida.

— Isso fora os imóveis fora do Brasil e algumas ações de grupos estrangeiros. — Danilo sorri educado e engulo a seco com tantos números.

— O que acontece agora? — coloco os papéis de lado e espero impacientemente por uma resposta satisfatória.

— Meu irmão não deixou testamento, tão pouco nossa mãe, o que torna Rubinho e eu os únicos beneficiários direto deles. Ou seja, até que meu sobrinho complete 18 anos, você é a tutora legal de tudo o que ele tem direito. — Danilo explica, mas ainda não consigo processar toda a situação. Qualquer garota no meu lugar estaria dando pulos de alegria, eu continuo sem ação por alguns minutos.

— Se eu não quiser? Quer dizer... — pauso um pouco constrangida com a análise dos homens na sala sobre o que digo enquanto o olhar de Danilo é encorajador. — Eu não entendo nada de contas, gráficos e dados, Danilo. Como posso tomar decisões ou votar em reuniões se não consigo nem mesmo manter meu cartão de crédito no azul? — meu tom cai uma nota de modo que somente ele possa me ouvir e seu sorriso surpreso me deixa ainda mais tensa. Deve estar me achando uma irresponsável que não sabe cuidar das próprias finanças.

Sua mão toca a minha num apoio e um leve formigamento toma conta da minha pele sem querer. Tento mascarar meu nervosismo, mas falho totalmente quando nossos olhos se prendem por poucos segundos. Danilo parece tão nervoso quanto eu.

— Tenho certeza que você consegue levar, Luma — seu tom é o mais suave possível e afasto nossas mãos num impulso. Danilo se retrai e apruma o corpo na cadeira antes de tornar a falar. — Também sabe que não precisa assumir essa responsabilidade. Você havia dito que não queria nada da herança do Donatello, então basta assinar esta procuração e tomarei conta da parte do Rubinho até que ele complete maioridade. — argumenta friamente, estendendo um documento na minha direção.

Olho-o indecisa, sem saber o que fazer e impressionada com sua capacidade de mudar de comportamento tão rapidamente. Não sei se ele é bipolar, mas de certo existe um enorme conflito no seu interior. Observo o documento por um instante e dentre os bens que estarão na tutela de Danilo, se eu assinar, um haras e a mansão em Primavera ficarão de fora.

— Por que esses bens estão à parte? — questiono com a caneta em mãos e seu rosto é de uma serenidade sem tamanho.

— Donatello fez questão de deixar os dois imóveis no nome do Rubinho. Provavelmente desconfiava que você seria orgulhosa demais pra aceitar alguma coisa vinda dele — diz num sorriso fraco e volto a olhar o documento com cuidado. — Além destes bens, seu ex-namorado deixou um fundo bancário para o menino que também não entra na procuração — cerro meus olhos ao fitá-lo e sua face se contorce numa careta divertida. — 500 mil reais, Luma. Corrigidos a cada ano de acordo com o lucro total das empresas em 5% — abro a boca pra contestar o valor, mas Danilo me corta taxativo. — Isso é incontestável. Ele fez uma doação e a menos que doe a outra pessoa, vai ter que aceitar.