Entrada 125 — 16/04/2016 às 21:18 – Na piscina da cidade, com os pés na água.
Eu sei que eu não sou a melhor pessoa do mundo, realmente tenho plena consciência desse fato, mas eu também não me encaixo como uma das piores, afinal, o que eu fiz para merecer todo esse inferno? O que eu fiz para ter que passar por tudo isso? Eu realmente não sei.
Há alguns dias eu não falo com meus pais. Meu pai finge não notar minha presença, e quando olha em meus olhos, sinto o ódio dele percorrer minhas veias e minha mãe, pequena e delicada, não para de manter a cabeça baixa e blusas de mangas compridas, acho que meu pai provavelmente deve ter voltado a bater nela, denovo. Minha irmã é a que mais me apoia nesse momento, a que mais me ajuda, a que se preocupa se eu respiro ou não. Ela me dá bom dia, faz um lanche para que eu possa levar para a escola, me liga aleatóriamente dizendo que me ama, e essas coisas. Ela realmente parece se importar, enquanto cada dia mais eu desisto de continuar. Há alguns dias, pelo que me falaram, andam pela escola algumas fofocas sobre eu e Dylan, mas essa não é a pior parte, alguém estava escondido nas arquibancadas do ginásio e gravou tudo o que eu disse à Dylan, desde falar para os meus pais sobre minha transsexualidade até a hora em que ele me beijou e disse que me amava apesar de tudo, e como cidade pequena é uma correria, em apenas dois dias a cidade inteira sabe sobre mim e Dylan, e ele parece devastado, mesmo que seus pais o apoie a procurar o amor do seu jeito, ele está mal por mim, por eu ter sido expulso de casa hoje. Para falar a verdade, eu estou com minha mala bem atrás de mim, tentando me controlar para não simplesmente pegar meu canivete decorativo que eu enfiei quando ia saindo e sujar essa piscina enorme de sangue. Eu sei como seria teatral e bonito para todos verem o que o meu sangue pode fazer e sujar suas mãos ainda mais com sangue de inocentes. Eu parei para pensar e por um lado, todos somos uns grandes canalhas. Criticamos o próximo sem saber sua história, recusamos ajuda, gargalhamos de assuntos sérios, brincamos com preconceitos, somos uma raça dos piores tipos de animais. Sujamos nosso habitat, o destruimos e desfazemos o mundo a nossa volta apenas para fazer outro que esteja de acordo com os conformes que desejamos. A vida sempre foi repleta de desgraças para mim, mas nunca me imaginei dormindo em um colchonete de ginásio público em um frio de -12° graus celsius com uma manta que não me mantem quente nem no calor.
Você deve estar se perguntando o porquê de eu ter sido expulso de casa. Simples: meu pai viu o vídeo, gritou comigo, com a minha mãe por ela aparentemente "Não ter criado os filhos dela direito" e que eu era um peso a mais na vida dele, então, me deu uma mala de minha mãe que é de viagem e me mandou colocar as minhas coisas, que na casa dele eu não dormiria mais. Eu sei, meu pai é machista, mas eu já tentei melhorá-lo e nunca consegui nenhuma melhora, nenhuma tentativa dele de mudar, e é isso que me deixa revoltado, ele nunca muda. Até porque, ele já bateu muito em mim e em minha irmã, muito mesmo, de nos deixar roxas a ponto de usarmos blusas de frio em pleno verão no colégio, mas ninguém nunca desconfiou de nada, afinal, que policial bateria em sua esposa piblicitária famosa e suas lindas e queridas filhas?
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Suicide Pills
RomanceMilles Jean é uma garota que não se sente confortável no próprio corpo. Desde criança sempre tinha algo ali que lhe era desconfortável. Ora eram suas unhas, grandes demais; outrora seu cabelo, comprido demais. E por vezes era todo o seu corpo que pi...