Capítulo 3 - Klaus e Melina - Parte III

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* * *

Era um novo dia e Klaus olhava a manhã nublada através do grande vidro da janela. Estava colocando a toga por cima do paletó quando o celular vibrou em seu bolso. Destravou o visor e identificou um número inibido. Atendeu.

- Alô.

- Bom dia novato submisso.

- Bom dia Belle Domme.

- Quantos anos tem?

- Trinta e quatro. E a Senhora?

- Agora toda pergunta que eu fizer devo esperar o retorno?

- Imagino que a Senhora tenha curiosidade, não vou negar, eu também.

- Não uma simples curiosidade. Preciso saber, pois não tomo menores como submissos.

Klaus riu alto.

- Obrigado por dar a entender que tenho voz de garotão. Mas adianto, eu também tenho interesse em não ter uma adolescente como Senhora.

- Devo confessar que você não tem voz de garotão, mas de homem. E também adianto, não sou adepta a ficar infringindo o capítulo 2 do código penal que trata dos crimes sexuais contra vulnerável.

- Uau! Então temos aqui uma Domme Advogada.

- Não, Novato, apenas uma boa leitora. Mas sempre fico com o pé atrás com o tal artigo 213 e pior ainda com o 129.

- De fato é um caso preocupante para qualquer dominador, afinal, o 129 trata da lesão corporal e o 213 sobre constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter sexo ou qualquer outro ato dito libidinoso.

- Ora ora. Um submisso advogado.

Klaus sentou em sua cadeira de couro e sorriu.

- Sou um bom leitor também.

- Gostar de ler é compreensível, ler leis e códigos para quem não é da área de Direito é estranho, mas nada absurdo, o preocupante é um novato submisso saber de cor exatamente os artigos que tratam de lesão corporal e violência sexual.

- Minha querida e perspicaz Belle, nada lhe passa em branco?

- Não sou sua, a título de esclarecimento, e sim, nada me passa em branco. Sou uma mulher observadora e atenta aos detalhes. Afinal meus submissos confiam suas vidas em minhas mãos.

- A vida? Não há um certo exagero você pensar isso?

- Não gosto de seu tom de deboche, tampouco a falta de respeito.

- Desculpe, Se-nho-ra.

- Se você tiver a honra de ter o corpo todo amarrado com cordas de juta e eu lhe suprimir o ar ao tempo que julgar certo, vai querer ser confiante de que sou atenta aos pequenos detalhes para que sua vida seja preservada.

- Minha Senhora, neste caso eu ficarei confiante em falar a palavra de segurança se sentir que está ultrapassando o limite do seguro.

Foi a vez a Melina rir.

- Palavra de segurança? Como se diz palavra de segurança amordaçado?

- Então devo confiar que você é prudente, observadora e cuidadosa.

- Eu sou isso tudo, mas neste caso, você teria que confiar mais do que isso, mas sim sua vida. Então veja, não é exagero.

- Vejo que sob esta ótica, a Senhora está correta.

- Você tem medo?

- Não sei, nunca passei por isso. Mas a ideia de não ter formas de me livrar de algo que me desagrade não é algo que eu aprecie.

Um silêncio ficou ao telefone até que ele ouviu a voz:

- Também não aprecio homens que mentem, se fantasiam do que não são pois acreditam que vão ter uma foda mais pesada do comum. Passar bem, falso novato submisso.

Klaus ficou olhando incrédulo o celular, ela havia desligado e ele não entendia qual a razão dela o ter atacado assim e desligado.

"Quem ela pensa que é para desligar a chamada na minha cara? E pior, insinuando que sou mentiroso e falso!"

Então ele decidiu fazer algo que nunca realizara antes. Não era ético, mas também não era ilegal. Buscou o contato no celular e achou:

- Marcus, sou eu, Klaus. Recebi uma chamada restrita no meu celular e preciso saber o número de telefone. O assunto é particular, porém de extrema importância. É possível?

- Claro, Pela Saco. O celular que ligaram foi aquele te dei?

- Sim, mas só tem um problema: a conversa é de conteúdo extremamente pessoal por isso liguei para você. Não confio em outra pessoa para obter tal dado sem com isso se prestar a ficar ouvindo o que foi dito e fazer juízo de valor.

- Ah! Então não foi porque sou o único que você conhece capaz dessa engenharia? - soltou um riso - Pode ficar tranquilo que eu não vou te zoar. Relaxa, deve ser aquelas suas paradas de submissas, não é? Não se preocupe, eu dei esse seu celular, assim como os dos rapazes, por razão de segurança. Consigo esse número fácil.

- Obrigado. O horário da ligação foi a pouco mais de 15 minutos atrás.

- Beleza. Ah! Antes que eu me esqueça, lembre-se que hoje vamos ver o jogo da seleção lá em casa. Pega uma pequena e leva também.

- Não vai ser só a gente?

- Não é reunião da Confraria é só um jogo da seleção. Todo mundo vai estar com sua mulherzinha, a minha estrelinha da sorte também gosta de futebol, mas acho que as outras mulheres vão ficar tricotando, conversando sobre bolsas, sei lá.

- Olha. Lembrei que tenho uma pilha de processos para levar para casa e ler, deixa para uma próxima.

- É um pela saco mesmo. Hoje é sexta! Dá uma folga, vai? Senão eu vou ligar para Dona Olga e falar que seu filhinho continua no projeto solteiro na capital e neto bau bau.

- Pela saco é você! Deixa minha mãe quieta, ela já tem uma neta e se ela quiser outro que peça a minha irmã.

- Tá certo. Mas aparece lá, com ou sem mulher. Vamos tomar uma cervejas, xingar uns pernas de pau e relaxar um pouco.

- Deixa para outra.

- Bem, você é quem sabe. Agora deixa eu desligar Sr Togadão que vou conseguir o que você me pediu.

- Valeu cara.

- Não por isso. Tchau.

E foi no final do expediente olhando para o número que Marcus havia passado que ele ficou pensando se ligava ou não. Ele não era homem de se justificar, muito menos ficar correndo atrás de qualquer mulher que fosse, quanto mais uma mulher que ele sequer sabia se pesava 200 quilos, com dentes tortos, caolha, tornozelos grossos, axilas escuras e cara de general. Até pensou que tal descrição poderia ser uma possibilidade, mas seu imaginário lutava contra, como se aquela voz doce combinasse com uma pessoa igualmente doce e tal qual o nickname, bela. Foi somente dentro de seu carro que ligou. E foi com sua voz firme, mas sem esconder a raiva, que disse assim que a ligação foi recebida:

-Não desligue.

* * *

✔️ Desejos Ocultos (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora