Acordei com o despertador gritando.Assim que abri meus olhos, senti uma forte pontada em minha cabeça, provavelmente por ter pego no sono de tanto chorar. A luz do sol invadia meu quarto, o que me obrigava a levantar. Quando pus meus pés no chão, ouvi batidas à porta, e com toda aquela delicadeza, com certeza era minha mãe.
- Entre. - Disse baixo e com minha voz sonolenta. Sorri fraco ao perceber mamãe entrar no meu quarto com delicadeza, e se aproximar da cama em passos curtos, com aquele sorriso de orelha a orelha.
- Bom dia, minha flor. - Ela se sentou ao meu lado, me dando um beijo melado na bochecha. - Passou a noite chorando? -Ela desfez o sorriso ao perceber. Provavelmente minha cara se encontrava inchada. Eu precisava a tranquilizar, não podia a deixar mal logo de manhã. Então por isso, acabei mentindo -
- Não, mãe. É uma gripe aí. - Disse calma, tentando transparecer o mais verdadeira possível. Ela retribuiu abrindo um lindo sorriso novamente. -
- Vai se arrumar. Não quero que chegue atrasada em seu primeiro dia. - Ela se levantou e me deu outro beijo na bochecha, logo me encarando para que eu pudesse me levantar, assim que o fiz, ela se virou e saiu do quarto.
Ainda estava com as vestes do culto. Olhei para a minha cama com tristeza, por não poder dormir mais um pouco. Entrei no banheiro e tirei meu vestido, o deixando cair pelo chão, para, em seguida, tirar o resto de minhas roupas. Preferi deixar meus cabelos presos para não ter mais trabalho. Abri o chuveiro e deixei que a água morna levasse toda a minha preguiça e algumas breves lágrimas ao lembrar de ontem, e das palavras ríspidas de meu pai. Saí do banho depois de alguns minutos, me olhei no espelho por alguns instantes para ver se tomava coragem de começar a rotina novamente. Recolhi minhas roupas do chão e saí do banheiro. Comecei a me arrumar com certeza dificuldade pelo enorme sono e cansaço que sentia . Após de um bom tempo, finalmente estava pronta. O uniforme da escola era indecente aos olhos de meu pai, pelo simples fato do meu corpo estar " exposto " e que, ninguém via meninas que se vestiam dessa forma, maduras.
Desci as escadas, e do meio meio delas dava para sentir o cheiro gostoso do café da manhã. Assim que cheguei na cozinha, vi minha mãe preparando deliciosos Waffles , seu cansaço era nítido em sua expressão, seus olhos estavam caídos. Em seu braço tinha uma grande marca roxa, aquilo fez meu coração se partir em um milhão. Tentei não pensar muito naquilo, pois afetava muito minha vida na escola, mas era meio impossível. Mamãe estava de costas, e eu apenas a observava sentada em uma das cadeiras que haviam na mesa. Eu a admirava, minha mãe era forte e lutadora, e tudo o que sempre aguentou foi por mim. Assim que ela terminou de preparar o café, se virou e percebi que ela levou um pequeno susto ao ter minha presença ali.
- O cheiro está incrível, mamãe. - Disse sorrindo.
- Hoje você vai comer , não é? - Ela falou, quase nunca tomava café, ou por estar muito cansada ou por simplesmente não ter fome. Mas eu precisava fazer um esforço por ela, já que eu sabia que sua noite provavelmente foi péssima. Balancei a cabeça afirmando, e ela abriu um sorriso largo. - Que bom , filha. Você precisa comer. - Ela completou.
- Mas eu tenho que ser rápida. Daqui a pouco o Joey está aqui.
Joey era um menino, 2 anos mais velho que eu, que estudava na minha escola. Ele fazia um enorme favor ao me acompanhar até lá, já que eu não tinha muitos amigos, e meu pai sempre acordava muito cedo e com mal humor e não tinha paciência pra me esperar.
- Tudo bem. - Disse mamãe em um doce, servindo os pratos que haviam na mesa. -
A esperei se servir e sentar para começar a comer. Ela fazia pratos muito bons, minha mãe era ótima na cozinha, e eu acabei herdando isso dela. Na verdade, eu tenho tudo da minha mãe; Seus olhos, cabelos, modo de falar e agir, e principalmente a calma e gentileza com os outros. Comi rápido, tinha medo de me atrasar novamente. Assim que acabei, ouvi a campainha tocar, peguei minha bolsa, que estava pendurada pela alça na cadeira. Dei um beijo estalado na bochecha de minha mãe e saí de casa. Joey estava plantando em meu gramado, com um sorriso estampado em seu rosto, e assim eu retribui.
- Hey. - Ele abriu os braços e me apertou entre seus braços. - Está pronta para recomeçar? - Falou enquanto já caminhávamos em direção a estrada -
- Nunca estou pronta, Jo. - Seu braço esquerdo estava repousado em volta do meu pescoço, e assim caminhávamos. -
- Verdade. Você precisa parar de ser tão cabisbaixa...Tão... Lana Del Rey. - Ele riu alto, e acabou me fazendo rir também. Joey era um dos meus melhores amigos e uma das pessoas que eu sempre quero ter por perto. A gente se conhece desde sempre. Pelo o que me lembro, ele sempre me botou para cima quando estava triste, e sempre limpou minhas lágrimas mesmo não sabendo o motivo delas. -
- Você é um palhaço, Joey.
- Encantado, Hillary. - Ele brincou.
- Você e esse ótimo senso de humor. Só você pra me fazer rir mesmo. - Ele depositou um beijo em minha bochecha.
Me sentia confortável perto dele. Assim como eu, seus pais não aceitavam seu sonho, e foi praticamente por isso que começamos a nos falar. Joey era muito sonhador e lutador, a única diferença é que ele não tinha a mãe, apenas o pai e madrasta, "Interesseira", dizia ele. Eu até o entendia, seu pai já era de meia idade e sua madrasta era pouca coisa mais velha que eu, Joey achava que era só porque seu pai tinha uma boa condição, mas eu realmente achava que moça gostava dele.
O caminho para a escola nem era tão longo, mas naquele dia parecia. A estrada era fria, e a neblina a cobria, não tinha ninguém além de nós na rua, parecia um dos filmes de terror do Ti West . Após um longo tempo em silêncio, estávamos finalmente na escola. As pessoas se reencontrando, toda aquela gente novamente. O barulho dos corredores me irritavam, eu era mais serena e calma, não gostava nem um pouco de barulho ou muito tumulto, me deixavam extremamente agoniada.
- Se cuida , pequena. - Joey disse tirando a atenção que tinha naquela multidão.
- Tchau, Jo. - Ele me deu um beijo na testa, e em segundos ele desapareceu no meio das pessoas.
O sinal já havia tocado e eu nem tinha percebido. Minha sala era a 2 da direita, e fui até ela. O professor ainda não estava na sala, mas os alunos já estavam sentados e conversando um com os outros. Avistei Ruth e Jackson ao final da sala, os mesmos fizeram sinal com os braços para que eu os visse. Me direcionei até eles e sentei em uma cadeira do lado de Ruth.
- Nossa, que cara de morta Hillary. - Ruth disse, nos fazendo rir.
- Viva eu não estou. - Brinquei.
- NOSSA AMIGA É UMA ZUMBI, SEMPRE DESCONFIEI! - Jackson praticamente berrou, minhas bochechas coraram de instantâneo, mas eu não conseguia parar de rir.
O professor Peter entrou na sala, e o barulho cessou de imediato. Os professores daquela escola sempre tinham a mesma expressão, a famosa cara de enterro, sabe? Como se detestassem a vida deles, era meio desconfortante. A aula de história tinha começado, e em poucos segundos minha cabeça em um universo totalmente paralelo, conseguia me desligar fácil apenas pensando da dança, e também como poderia enfrentar meu pai para conseguir alcançar meu sonho.

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DiversosO que é o inferno comparado ao que eu passei durante todos os anos? Em 1963, a vida era bem diferente do que é hoje; famílias conservadoras vivendo em uma sociedade ainda machista. Minha vida não foi fácil, nem um pouco. Entre 1963 à 1967 eu vivi in...