Capítulo 5

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Após um tempo, minha cabeça doía de tanto chorar. Minha mente ainda estava tentando processar tudo aquilo que tinha acontecido. Eu não acreditava que meu pai realmente seria capaz disso, minha ficha não caía. Eu borbulhava ódio, tristeza e qualquer sentimento ruim que um ser humano é capaz de produzir. Ouvi algumas batidas na porta e ,pela delicadeza, era minha mãe. Pedi para ela entrar com certa dificuldade, o que fez sair como um sussurro. Conseguia ouvir minha mãe chorando baixinho, seu corpo se aproximou do meu e seus braços se envolveram em minhas costas. Naquele momento eu desabei novamente, não ia conseguir ficar sem minha mãe, sabia que não conseguir viver sabendo que ela estava em perigo.

- Me desculpa, minha filha. - Sua voz soou rouca, e seu sofrimento era notável . - Eu não consegui fazer nada e nem vou tão cedo. - Pressionei meus lábios para evitar de chorar alto, mas me controlar era impossível naquela hora. - Mas eu prometo Hillary, que eu vou te tirar daquele lugar, nem que isso custe minha própria vida. - Apertei forte as mãos de minha mãe, que estavam geladas. Me virei de frente para ela, e a apertei entre meus braços. -

- Eu sei que a culpa não foi sua, mãe. - Minhas palavras saíram entre soluços, quase não saíam direito. Um berro de meu pai foi emitido da sala. Minha mãe me apertou, estava na hora e eu não estava nem 0,1% pronta pra isso. -

- Vamos? - Ela se afastou, seu rosto estava completamente encharcado por lágrimas. Balancei a cabeça positivamente, por mais que eu não estivesse pronta, eu não tinha outra escolha.-

- Eu só preciso terminar de arrumar minhas coisas. - Limpei minhas lágrimas na tentativa de impedi-las de continuarem rolando, mas foi em vão. Mamãe sorriu amarelo e saiu de meu quarto; Assim que ela saiu, fitei minhas sapatilhas rosas no canto do quarto. Tantas lembranças, tanto sofrimento por causa de amor. As escondi no fundo da mala, dessa vez, eu precisava ser cautelosa. Meu pai berrou novamente para me acelerar, e assim, o fiz. Fechei minhas malas e desci as escadas com um aperto enorme em meu coração.  Quando cheguei na sala, meu pai me olhou com desgosto.

- Finalmente eu vou me livrar de você e dessa sua teimosia. - Ele disse. - Um amigo meu vai te levar até lá. Não quero ver você por nem mais 1 segundo. Espero que passe bastante tempo lá para aprender  a me obedecer, mas acho que quando sair de lá estará bem mais velha que isso. - Eu não consegui dizer nada, ou ia acabar me descontrolando. Me mantive quieta, e encarei isso como umas férias de meu pai. - Ele vai chegar daqui a pouco.

Pareceu tudo muito rápido, tudo muito desesperado e impulsivo, mas meu pai estava certo de sua decisão. Quando o amigo de meu pai chegou, já estava quase noite. Eu preferi me manter distante de meu pai nesse período, não conseguia olhar para o rosto de nenhum dos dois. Eu fiquei na sala enquanto eles discutiam na cozinha, e ela só foi interrompida pela a buzina do carro do amigo de meu pai. Minha mãe apareceu na sala com resquícios de lágrimas recentes em seus olhos, aquela cena quebrou meu coração em um milhão. 

- Filha. - Sua voz saiu rouca.- Está na hora. - Ela pôs-se a chorar novamente, e eu levantei correndo para abraçá-la.-

- Mãe...Não fique assim. - Eu disse tentando me manter forte, para que ela se acalmasse pelo menos um pouco. -Eu vou voltar, eu juro que vou. - Meu pai entrou na sala calmo, pois sua maior preocupação era passar uma boa impressão para todos sobre nossa família. - 

- Hillary,  este é Robert, amigo meu do trabalho. - Lancei um sorriso amarelo para o cavalheiro.- 

- É você quem vai para o Sanatório Saint Clair? - Perguntou ele em bom tom.

- Sim. Sou eu. - O respondi no mesmo tom.

- Me desculpe,mas você não parece esquizofrênica . - Abaixei meu olhar,  meu pai deve ter dito aquela calúnia para Robert para ele não se passar de doente por internar uma filha só porque ela gosta de dançar.

- Mas ela é, Robert. E está fazendo mal a nossa convivência. - Meu pai disse sarcástico, confirmando o que havia dito anteriormente para Robert. - Não quero mais esta lunática na minha casa, leve-a daqui. - Aquelas palavras só fizeram meu ódio pelo meu pai aumentar. Eu deveria dizer para Robert tudo o que acontece aqui e tudo o que ele faz comigo e com a minha mãe, mas decidi ficar quieta.

- Nossa. Então vou leva-la agora. - Por mais que eu sentisse ódio, aquilo tudo quebrou me coração. Queria entender por quê de tanta amargura da parte de meu pai.

- Faça isso, meu amigo! - Papai disse e puxou meu braço para fora de casa com brutalidade e me colocou dentro do carro como se eu fosse uma ladra prestes a ser presa. As lágrimas já caíam, mas lágrimas de ódio.  Apenas respirei fundo para tentar me acalmar. Antes de Robert entrar no automóvel, pude ouvir minha berrando, desesperada para que ele não me levasse, e aquilo acabou comigo.

Minha cabeça estava girando, me sentia totalmente perdida. Estava prestes a começar uma vida em um país diferente, sem meus pais, e contra a minha vontade. A sensação de estar sendo levada era assustadora, estava totalmente amedrontada. Além disso, tinha Robert, que eu não conhecia e também me assustava o fato de estar sozinha com ele em um carro com um estranho, que poderia muito bem me levar pra onde ele quisesse. Minha vida estava indo por água abaixo,  tudo o que eu mais desejava era que tudo isso fosse apenas um pesadelo. Já estava de noite quando saímos de minha casa, então, pelo visto, estava bem tarde. Provavelmente nós íamos ter que parar na estrada para poder dormir, até porque era um longo caminho.

Fechei meus olhos na tentativa de conseguir dormir, pra ver se me tranquilizava pelo menos um pouco. O barulho das rodas do asfalto me deixavam angustiada, porque eu sabia que a cada segundo eu ficava mais longe de tudo. Não tive tempo pra me despedir de meus amigos, nem de nada. Por dentro, eu estava em prantos, chorando como uma criança após um tombo, mas por fora eu estava calma, ou, pelo menos, era o que eu tentava transparecer. Após um longo tempo, finalmente consegui dormir, me peguei sonhando em como seria minha vida lá. Era um sanatório que tinham freiras como principais responsáveis, eu não sabia se seria bom ou ruim. Queria muito ter um pouco de paz depois de tantos anos atormentada. Porém, pensando bem, seria o meu "castigo", então é bem provável que não fosse tão agradável assim.

- Chegamos. - A voz de Robert me acordou , fui me levantando lentamente, meio confusa. Como assim tão rápido? -

- Já?

- Você dormiu o trajeto quase todo. - Ele disse ríspido, o que me fez questionar o porquê de tanta grosseria, mas eu estava pouco me importando para Robert. Saí do carro e ajeitei minhas vestes, Robert pôs - se a pegar minhas malas e entrar no sanatório junto a mim.
O lugar estava cheio, era limpo, mas ao mesmo tempo assustador. Era tudo enorme e muito chique, haviam lustres enormes e uma pequena recepção ao meio de uma enorme escada, que, particularmente, eu não queria saber pra onde levava. Robert se afastou de mim e foi falar com uma das mulheres atrás do balcão, que me olhou assustada e logo fazendo um crucifixo em seu peito pela suposta doença. Naquele ano, as doenças eram curadas com rezas, exorcismos, até mesmo choques, tratamentos psicológicos ou físicos.
A freira, que aparentava ter a minha idade - até mesmo um pouco mais velha, veio em minha direção com seus olhos assustados.

- Senhorita Wright, deixe-me levar suas coisas até teu quarto. - Apenas assenti e ela pegou minhas malas e subiu às escadas. Meu quarto era no segundo andar, então nós não subimos muito. Aquele quarto parecia uma cela, totalmente desgastado, sujo e frio.

- Vocês não podem ficar no quarto agora. - Disse a Freira, calma. - Precisam ficar no salão principal.

- Onde fica? - Disse em tom baixo, o que fez minha timidez ficar em evidência.

- Me acompanhe. - Ela disse e caminhou em minha frente, saindo do quarto. Enquanto descíamos as escadas, gritos eram escutados, vindos do andar de cima. Era assustador, não sei se ia me acostumar com isso, mas era necessário, não tinha outra escolha. Observei cada lugar que passava, cada rosto que via, eu memorizava. O salão principal transbordava gente, a gritaria incomodava e a música era de irritar qualquer ser. - Vocês ficam aqui. - Disse novamente a loira, logo saindo dali.

Me sentei em uma das cadeiras e fechei os olhos para tentar me acostumar com todo aquele barulho. Senti a presença de alguém, mas deixei pra lá. Tinham umas cinquenta pessoas ali, presença era o que eu mais tinha.

- Ei. - Uma voz masculina foi projetada perto de mim, e, imediatamente, abri meus olhos para ver. Era um garoto moreno, aparentava seus vinte anos. Fiquei parada, eu era tímida, ainda mais nessa situação. - Eu me chamo Eric. E você?

- Hillary. - Disse baixo.

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