Cap 6

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- Hillary? - Disse o menino, com um sorriso bobo nos lábios. - Nome de gente famosa.

Eu ri. Esse era um grande sonho meu, então fiquei lisonjeada pelo comentário.

- Obrigada. Bem que eu queria. - Respondi com um tom de voz calmo.

- O quê? Ser famosa? - Ele perguntou interessado.

- Sim, sim. - Eu suspirei, pois lembrei do motivo de estar ali. Que era, no caso, exatamente esse : A fama.

- E qual é seu talento? - Os olhos dele estavam fixados aos meus. Seus olhos negros me puxavam para uma escuridão diferente. Uma escuridão na qual eu queria conhecer, e descobrir o que ele escondia naquele profundo vácuo negro. Demorei um pouco para raciocinar suas palavras.

- Eu... Danço. Ballet. - Uma voz fina chamando pelo nome dele nos interrompeu.

- Hillary, eu preciso ir. Depois eu te acho. - Ele deu um beijo estalado em minha bochecha e saiu. Fiquei observando toda aquela gente, e tentei imaginar o que elas tinham. Dá pra imaginar o que essas pessoas passaram? Todo seu sofrimento? Dá pra imaginar quantos transtornos tinha alguém assim?
Me levantei para investigar o lugar, queria entender, investigar. Os corredores de Saint Clair  eram frios, cada passo que eu dava parecia um passo mais perto da morte. Eu podia a sentir a tensão e forte aflição vinda daquele lugar. Tinha alguma coisa de errado, algo intrigante, e eu iria descobrir.

Minhas mãos começaram a suar frio quando ouvi pedidos de socorro baixinhos vindos da Ala 2. Será que eu realmente estava ficando louca? Os corredores vazios me causavam uma aflição enorme. Uma voz masculina, surruva socorro. Mas parecia que seu corpo já estava gasto, parecia que já estava cansado. A voz foi se intensificando conforme me aprofundava mais nos corredores. Tudo parecia vir tudo de um quartinho que tinha no final do corredor, com porta de ferro.

- Tem alguém aí? - Disse, na tentativa de ver se realmente era dali que vinha isso.

- Por favor. Me ajuda. - Confirmei meu palpite. A voz estava cada vez mais baixa, e eu pude notar o desespero daquela pessoa. -

- Qual é seu nome? Quem te pôs aí? - Me aproximei um pouco da porta, para que pudesse ouvir com clareza.

- Paul Laurent.  - A dificuldade era notada na voz dele.

- Quem te pôs aí? - Eu estava desesperada, é bem provável que ele tenha percebido isso.

Uma risada baixa foi projetada do outro lado da porta.

- Margarette Goode. Dona desse local.

Ouvi algumas vozes no corredor. Parecia a voz de Ann, a loira que me apresentou o lugar. Ela trabalhava aqui, e provavelmente eu estava errada em estar ali, então não me daria bem.

- Saia daqui. Agora. Ou você vai acabar igual à mim. - Paul disse. As vozes vinham do lado do direito dos corredores, então corri para o lado oposto, voltando ao salão principal. Eu ainda me sentia assustada, queria saber o que tinha acontecido, como e porquê. Respirei fundo na tentativa de amenizar tudo aquilo. A música que tocava constantemente no salão parou, e uma senhora com um grande crucifixo em seu pescoço abriu as portas do lugar com brutalidade. Ela já aparentava seus 60 anos, mas eu sentia uma sensação estranha vinda dela.

- Bom dia, monstrinhos. - Disse a senhora. - Hoje teremos um toque de recolher, então vocês irão para a cama mais cedo. - Ela sorriu. - Ah. Temos companhia nova? - Ela me olhou com um sorriso maldoso nos lábios. -

- Sim, senhora. - Ann falou baixo. - Essa é Hillary Wright. Ela é de Virgínia.

Após o comentário de Ann, pude ver o sorriso da senhora apenas aumentar.

- Muito prazer, Hillary. - Ela se aproximava lentamente enquanto falava. - Eu sou Margarett, dona desse lugar. - Meu corpo gelou ao ouvir o nome. Era a mesma pessoa que tinha prendido Paul naquele quarto. - Você é de Virgínia? - Eu fiz que sim com a cabeça. - Eu também nasci lá. Vivi até meus 30 anos em Virgínia. De qual parte você  é?

- Middleburg. Cidade pequena, senhora. - Me mantive educada para falar com ela. -

- Eu sou de Old Richmond. - Ela sorriu. - Conhece?

- Sim. Meu pai trabalhava lá.

- Que bom, meu anjo. - A voz dela era rouca, parecia que já tinha fumado muito. Ela acariciou um pouco meus cabelos, e se afastou de mim. Meu corpo tremia só pela aproximação dela, ela parecia ter uma alma sombria e sem piedade alguma. Não conseguia pensar em nada de bom vindo dela.
Margarett finalmente saira no Salão Principal, e todos se entre olharam. Voltei a me sentar em uma das cadeiras, observando a chuva que caía com força do lado de fora da grande janela. Era impossível não lembrar de minha mãe em tempos como aquele. Ela me enrolava na coberta e cantava Over The Rainbow. Era minha música favorita, e com certeza uma das únicas coisas que me acalmavam depois da dança. Minha mãe tinha uma voz extremamente linda, parecia um anjo. Mas, com o tempo, sua voz ficou cansada. Isso é normal de qualquer pessoa, a voz ficar cansada quando envelhece, fica gasta; porém, ficou gasta enquanto ela ainda era muito nova, 27 anos, não era pra ser assim.
Fiquei ali um bom tempo observando a chuva, e me segurando para não chorar. Observei uma movimentação estranha ao final da sala, e então mudei meu foco para lá.

- É melhor você não olhar muito pra lá. - Uma voz  feminina ecoou em meu ouvido, e eu me assustei.

- Por que? - A olhei. Era uma linda menina ruiva, seus olhos eram verdes como uma árvore na prima vera.

- As Freiras são temperamentais as vezes. Elas podem te trancar no quarto do pânico sem motivo algum. - Respondeu a ruiva.

- Quarto do pânico? - Falei incrédula.

- É um quarto escuro, no final do corredor. Frio, com uma porta de ferro. Elas não te dão comida e nem água. Você apenas fica trancado no enorme vácuo. - Eu fiquei realmente assustada. Estava trancada em um lugar como aquele, na verdade, todos nós estávamos.

- Você já ficou trancada lá? - Perguntei.

- Não. Mas já ouvi várias histórias. - Ela respondeu calma.

- Você está aqui desde quando?

- 7 anos. - A resposta dela me deixou bem mais assustada. Eu queria fugir, mas estava em um país diferente, cujo não conhecia nada. Me dava medo só de imaginar o tempo que ficaria lá. - Ah, me desculpe. Nem perguntei seu nome.

- É Hillary. - Minha face tinha paralisado. A menina parecia calma, e eu me encontrava totalmente desesperada. - E o seu?

- O meu é Rennee. Rennee Whatson. Prazer.

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⏰ Última atualização: Nov 20, 2016 ⏰

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