Capítulo 4

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A aula estava cada vez mais tediosa. Por mais que eu gostasse muito dessa aula, não estava em um bom dia para ir à escola. Não sei porque, mas todas as lembranças de meu pai me assombraram...Não apenas o que tinha acontecido ontem, tudo o que passei e sofri até agora passou em minha mente em segundos, como um pesadelo. Após um longo tempo com minha cabeça longe, o sinal tocou. Minha expressão estava completamente abalada, lembrar de tudo realmente mexia muito comigo.

" A chuva lá fora caía forte, como se o mundo fosse acabar naquela noite. Era uma tempestade, na qual eu nunca havia presenciado antes. Meus pais estavam brigando novamente, já tinha até perdido as contas de quantas vezes isso aconteceu. Meu pai estava completamente descontrolado, seus olhos estavam avermelhados, e os cabelos bagunçados. Ele provavelmente passou a noite bebendo, motivo suficiente pra descontar em minha mãe tudo o que não tinha dado certo na vida dele graças à mim e minha mãe. Haviam pedaços do vaso de porcelana espalhados pela casa, mesas e cadeiras viradas, era uma cena de filme de terror. Os berros de meu pai poderiam ser escutados até do outro lado da cidade.  Eles estavam na sala, mas tinha medo de ir lá; eu estava na cozinha, encolhida em um canto, abraçando minhas pernas. Chorava baixo, tentando pensar quando aquilo ia acabar. Minha mãe havia mandado para eu ficar na cozinha por causa de minhas roupas, que ainda eram o uniforme rosa  da aula de balé. 

- Cadê a Hillary? - Ouvi meu pai dizer descontrolado, e naquele momento eu temi mais que nunca. - Me fala. Onde está a Hillary? - Não ouvi minha mãe responder, apenas berrar. Os passos do meu pai se aproximaram, e eu me encolhi mais ainda. Senti as mãos fortes do meu pai puxarem meu cabelo com força, me fazendo sair de imediato dali, e logo me colocando de pé. Naquela hora eu não me contive, e comecei a gritar. Minha mãe estava desesperada tanto quanto eu. 

- Quer dizer que a sua mãe estava te levando para o balé escondida de mim, é? - Ele perguntou. - Da próxima vez que eu vir a Hillary neste estado, eu boto as duas pra fora de casa. - Suas mãos me soltaram e eu corri para os braços de minha mãe, e a agarrei com força. Ela era meu abrigo e único refúgio. " 

Tentei ao máximo esquecer daquela cena, daquela noite, daqueles gritos e principalmente daquelas palavras. Os olhares de meu pai eram meu pior pesadelo. Saí da sala ainda meio zonza pelas lembranças, até que senti mãos agarrarem meus braços e a voz de Jackson me tirar de imediato do meu transe. 

- Hillary? - Ele disse com uma expressão  preocupada.- Você está bem? - 

- Eu? Estou. - Desarrumei meus cabelos para tentar esquecer por completo aquilo tudo. Jackson suspirou aliviado e largou meu braço. - 

- Vamos, a Ruth está esperando a gente lá no refeitório.

- O que tem pra comer hoje? Batatas assadas de novo? - O olhei triste, já caminhando para o refeitório. 

- Não, hoje temos peixe. - Ele disse.

- Não gosto de peixe. 

- Por que não? O que eles fizeram pra você? 

- Só não gosto. - Passei a fitar o chão, com os braços cruzados -

- Eles também não gostam de você. - Jackson murmurou e me abraçou, ele provavelmente percebeu que estava abalada com algo. - 

- Você é idiota, Whills. - Disse rindo, Jackson era uma das únicas pessoas que conseguiam me fazer rir nos momentos que eu estava mais acabada. Assim que chegamos no refeitório, avistei a Ruth sentada em uma mesa com mais quatro cadeiras, o refeitório estava cheio, e o cheiro de comida exalava pelo local, mas por mais que estivesse muito bom o cheiro, eu não tinha vontade alguma de comer. Não sei porque me sentia muito mal, as lembranças das "Noites de Horror"  que passei. Aquelas palavras, aquele ódio, aquela sensação de perigo me atormentavam mesmo depois de anos, e me deixavam mais apavorada a cada dia. A vontade de chorar tomava conta, tentava me manter forte.

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