Capítulo 8

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Eu ouvia ela. Ela não falava realmente comigo, aliás, até falava, mas em meus pensamentos. Eu a ouvia e a via, ela repetia seu próprio nome. Hora com voz baixa, hora com voz alta. Ela estava abraçada com um cara. Ele era alto, magro, tem o cabelo castanho cacheado. Ele parecia comigo, mas não era eu, sei disso por que ele estava abraçando Lara. E mesmo que fosse, como era que eu poderia estar ali de longe observando-os? Não faz sentido. Ele usava uma de minhas camisas. Não fazia sentido. Ele também tem o meu All Star preferido, aquele que tem minha "marcas de guerra". Não fazia sentido. Antes a boca dela não mexia quando falava seu próprio nome. Ela se estende até meu ouvido e começa a pronunciar o meu nome. FELIPE... FELIPE... FELIPE...

—Felipe. Ó Zé ruela. Acorda!— diz André em pé na minha frente.

—Ah. Pensei que era outra pessoa— eu digo isso sabendo bem quem era a pessoa que eu esperava. Por mais que isso fosse "impossível".

Tava esperando que fosse quem?— perguntou ele com a testa franzida.

—Ninguém— respondi.

—Ham. Sei. Tu dormiu sentado— disse ele.

—Por quanto tempo?— perguntei.

—Sei lá. Quando eu cheguei aqui tu já tava dormindo. E já faz uns dez minutos que eu cheguei por aqui— responde André.

Vish. Espero que ninguém tenha tirado foto— damos risada e logo depois ele senta ao meu lado.

Ficamos ali sentados por um tempo sem falar nada. Mas quando eu já tenho uma certa amizade com alguém, não gosto de ficar calado, sem puxar assunto.

—Cadê Beatriz?— perguntei.

—Já foi. O pai dela veio pegar ela— responde ele. —Mas fala aí. Quem tu tava esperando naquela hora?

—Era ninguém não. Achei que era minha mãe—respondi isso mesmo sabendo que aquela resposta era falsa.

—Ah, tá.

—Ó o ônibus!— diz o mesmo porteiro de ontem.

—Ei, valeu!— disse ele estendendo sua mão.

—Valeu!— apertei sua mão e ele foi embora.

As pessoas que tinha nos assentos onde Lara tinha sentado ontem, saíram para pegar o ônibus. Aproveitei e sentei lá no mesmo lugar onde ela havia sentado. Já eram 15:23 hrs da tarde. Eu não acreditei que tinha dormir por quase meia hora na portaria do Instituto. Pareceu tão rápido. Os sonhos estranhos começaram a ficar cada vez mais significativos. Dos três sonhos que tive desde a noite anterior, dois tinha muito haver com Lara. Esse último sonho que tive foi do começo ao fim "dedicado" a Lara. Minha cabeça parecia cada vez mais integra-la a meus pensamentos. Cheguei a sentir um pouco de medo de mim mesmo. Tive medo desse amor me transformar em um Stalker, paranoico que tem ciúme de alguém que não lhe pertence. Eu torcia para que aquele fosse só mais um daqueles momento de reflexão que fazemos sobre certos assuntos. E não um daquele avisos que nosso cérebro nos dá quando estamos exagerando demais em algo. Meu celular tocou. Era minha mãe.

—Oi.

—Oi, olhe não vai dar para eu ir aí lhe buscar não por que vou precisar fazer alguns diagnósticos e vai demorar demais— diz minha mãe, —mas pedi pra Eliabe passar aí e te pegar. Ele estava saindo do trabalho e vai aproveitar para passar aí e te pegar.

LaraOnde histórias criam vida. Descubra agora