Parte VIII - Solidão

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Quando criança uma das empregadas de sua casa havia lhe dito que ele deveria ter paciência, porque tudo na vida passava com o tempo, inclusive a dor e o medo. Ele acreditou e se apegou com força aquelas palavras quando se viu sozinho, tentou convencer a si mesmo que aquela mulher estava certa e esperou pacientemente que a solidão que o afligia passasse com o tempo.

Ele aguardou, passaram-se dias, noites, meses e anos, mas aquele sentimento de perda ainda continuava lá, tão intenso quanto antes, vivo em seu coração, não permitindo que ele passasse um único dia sem pensar em Lucille, em sua Lucille.

Era difícil viver sem ela, e a solidão sempre o invadia com mais afinco no final do dia, quando ele se via pensando na irmã, se perguntando se ela estaria bem e se ainda se lembrava dele.

Claro que ela se lembra, ela nunca me esqueceria, ela me ama! Ele tentava a todo custo se convencer disso, mas o tempo era o seu cruel inimigo.

Cinco longos anos já o separavam, e com horror Thomas percebeu que por mais que se esforçasse não conseguia lembrar de como era a voz de sua irmã, aquela constatação veio por meio de um sonho que o deixou desnorteado.

Em seu sonho Thomas corria atrás de Lucille, que parecia estar fugindo dele, ele gritou o nome da irmã diversas vezes e quando finalmente teve alguma resposta não foi a voz da irmã que ouviu, mas sim a de uma estranha, uma voz desconhecida que o fez despertar de seu sonho.

Se até ele havia esquecido a voz dela, o que poderia garantir que Lucille não o havia esquecido por completo? Aquele pensamento o deixou desolado, foi como levar uma punhalada no coração, será que a única mulher que ele amava podia tê-lo esquecido?

Lucille, a única mulher que ele amava.

Era estranho pensar naquilo, depois de todos esses anos distantes de Allerdale e com tudo o que aprendeu no colégio, se sentia estranho por nutrir tais sentimentos pela irmã, seus colegas de turma achariam aquilo nojento, seus professores algo monstruoso.

Ele se ainda se lembrava dos risos quando havia perguntando inocentemente algo relacionado ao amor de irmãos como o dele e de Lucille, seus colegas de turma acharam aquilo deveras engraçado e não pararam de rir, deixando um Thomas aflito e sem graça. Então o moreno ouviu pela primeira vez a palavra incesto sair dos lábios do velho professor, acompanhado de adjetivos nada satisfatórios como impuro, asqueroso, desumano, monstruoso.

Incesto era tudo isso, era o que havia entre Lucille e ele.

Se lembrar daquele dia o deixava extremamente desconfortável, como podia ser errado amar a única pessoa que também o amava? Lucille era tudo o que ele tinha e ele não podia amá-la sem ser taxado de monstro? Será que Lucille sabia daquilo?

Aqueles pensamentos o atormentavam com bastante frequência e ele se sentia um idiota quando lembrava que um dia pensou que poderia se casar com a irmã. Sua situação só ficava mais tensa quando pensava no futuro, o que faria quando finalmente a reencontrasse? Será que ela sentiria nojo dele? Thomas não suportaria ver o desprezo nos olhos dela, Lucille era tudo o que havia lhe restado, além de um título de nobreza e um pedaço de terra que segundo o velho advogado da família eram terras que se encontravam em péssimas condições, assim como o que restara da herança da família.

O velho gorducho e baixinho que se apresentara como Philip era o advogado da família há muito tempo, ele havia visitado Thomas fazia alguns dias para lhe comunicar sobre o processo de sua maioridade e a sua atual situação financeira que já não era das melhores, assunto este que deixou o jovem tenso ao pensar no futuro. Thomas havia enchido Philip de perguntas sobre sua situação, tentando traçar algum plano para o futuro. Embora não soubesse os detalhes ele já tinha alguma ideia do que faria, investiria parte do dinheiro que lhe restara em estudos de engenharia, depois construiria alguma máquina que possibilitasse reabrir as minas e quem sabe conseguir dar uma vida digna a irmã.

Incondicional (Fanfiction - A Colina Escarlate)Onde histórias criam vida. Descubra agora