A casa estava silenciosa naquela noite, não havia gritarias ou brigas, apenas o silêncio tão incomum aquele lugar. A calmaria parecia fazer bem a jovem Lucille que dormia com um sorriso discreto em seu rosto pálido, ela parecia serena e feliz, sua tranquilidade era quase palpável e Thomas não se lembrava de quando fora a última vez que há via visto assim antes. Ele por outro lado se sentia péssimo, o remorso o consumia e aquele sentimento não o deixava dormir.
Angustiado Thomas se abraçava as próprias pernas, querendo esquecer aquele dia. Ele não sabia o por quê, mas a culpa estava o destruindo, se manifestando em seus olhos azuis que transbordavam de lágrimas que ele não conseguia conter.
Soluços baixos escapavam de seus lábios sempre que ele ouvia uma vozinha gritando em sua mente que ele era um assassino. Perturbado o garoto levou as mãos até os ouvidos e as manteve lá, tentando aplacar aquela voz horrível, forçando sua mente a esquecer tudo o que havia feito naquela manhã, mas tudo ainda estava lá bem na frente de seus olhos, como o sangue invisível que escorria em suas mãos. O sangue de seu pai.
Thomas não queria que as coisas tivessem terminado daquele jeito, no fundo ele só queria ser livre, mas William jamais permitiria isso, o pai o mataria antes do jovem se quer pensar em colocar os pés para fora daquela casa, William havia deixado isso bem claro desde o dia que retornará a Allerdale Hall, cinco dias atrás, no dia que havia espancado esposa e filha. Sua vontade era soberana a todos ali. E se dependesse do pai, Thomas jamais sairia daquele lugar. As marcas ainda visíveis nas costas de Lucille eram um lembrete disso, bem como o estado de sua mãe que voltou a ter problemas com a perna que já havia sido quebrada anteriormente, pelo próprio William.
Empregados e criados não tardaram a perceber o que havia acontecido, mas ninguém se manifestou, ninguém se importava. Com amargura Thomas pensava que se ele morresse naquele dia ninguém se importaria, ou melhor, quase ninguém. Lucille, sua doce Lucille, se importaria, ela era a única que se importava com ele, a que sempre sabia o que fazer, que pensava e agia para o bem dos dois.
Lucille era a sua fortaleza, e graças a ela Thomas havia conseguido escapar de muitos castigos, ela era sua fiel guardiã, e por isso ele nunca a questionava quando Lucille decidia fazer algo, sempre cedia, não se importava com os resultados ou consequências, não precisava se preocupar com nada, nunca se importava, mas naquele dia as coisas eram bem diferentes, o medo e angustia o dominava sempre que se lembrava daquela manhã, e das coisas que fez direta ou indiretamente.
Com remorso Thomas se lembrou do momento que Lucille o acordou, ainda antes do sol aparecer, o garoto em sua ingenuidade se quer imaginou o que estava por vir pela frente. Obediente ele a seguiu sem questionar, como sempre, sem imaginar o que Lucille pretendia.
Com passos apressados e sorrateiros os dois saíram do sótão, ainda sonolento Thomas percebeu que a irmã pretendia fazer algo importante. Com pressa ela o guiou pelo braço até a cozinha. Thomas observou com interesse os movimentos da irmã, ela retirou de uma das gavetas uma faca e pediu que ele voltasse a segui-la.
Mesmo um pouco surpreso com as atitudes dela ele não tardou a segui-la, tudo estava silencioso na casa, todos ainda dormiam, mas eles estavam acordados feito fantasmas em meio as trevas.
- Lucille o que estamos fazendo? – Thomas perguntou aos sussurros.
- Papai nunca mais vai machucar a gente. – ela respondeu no mesmo tom, sem olhar para ele, sem parar de andar.
Thomas não entendeu de imediato o que ela quis dizer com aquilo, mas continuou a seguindo, a curiosidade ainda fervilhava em sua mente feito fogo, e ele não conseguiu esconder a surpresa em seu rosto quando eles caminharam para o estábulo. Um arrepio passou pelo corpo dele quando encarou o cavalo negro que o pai tratava com extrema devoção, era estranho, mas ele sentia inveja daquele animal, aquele ser que era tratado melhor que os próprios filhos.
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Incondicional (Fanfiction - A Colina Escarlate)
Fiksi Penggemar- Você tem certeza disso, irmã? - ele ainda parecia meio receoso. Thomas sentia que havia algo de errado no que estavam fazendo, mas ainda não sabia dizer ao certo o que era. Ele nunca sabia. - Sim. - ela respondeu o beijando, se debruçando ainda ma...