Treze

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Por Juliana

•••

Cheguei na escola um pouco cedo de mais. Olhei em volta procurando pela Camila, mas a única pessoa que consegui encontrar foi a Fernanda. Ela estava ali sozinha sentada em um dos bancos de cimento, me encarava firme como se quisesse ver o meu interior. Fui ao seu encontro, lhe cumprimentei, mas ela não disse nada, só ficava me encarando.

- Você está me assustando Fernanda. - forcei um sorriso.

Ela sorriu fraco.

- Desculpa... É que você está mais linda hoje, eu não sei como você consegui.

- Boba... — apontei para o banco — Posso me sentar aqui com você? A Cams ainda não chegou e eu não queria me sentar sozinha.

- Claro, por favor. - ela aquiesceu apontando para o lugar vago ao seu lado.

O tempo em que ficamos ali sem dizer uma única palavra foi bem constrangedor.

- Você resolveu aquele assunto com sua namorada? - pergunto quebrando o silêncio.

- Não. - Ela sorriu - E acho que ela não está muito afim de falar comigo.

- E você está bem com isso? - pergunto.

- Não, e você?

- Eu o quê? - franzi o cenho.

- Você não parece muito tranquila, tá meio tensa.

- Talvez. - penso um pouco - Eu só queria poder ter as palavras certas pra te dizer como eu me sinto à respeito de tudo isso.

- Como se senti a respeito do quê? - ela pergunta se virando para mim. Dobrando uma das pernas em cima do banco.

Eu não sabia como dizer absolutamente nada pra ela. Depois daquele beijo, eu não conseguia tirá-la da cabeça, era como se ela tivesse um poder sobre todos os pensamentos. E eu não queria atrapalhar o namoro dela de anos por uma coisa que aconteceu em um banheiro de escola por impulsos que eu não consigo explicar, por uma coisa de momento. Eu queria falar sobre como ela conseguia mexer comigo, como cada parte do meu corpo ficava tenso quando eu estava perto dela ou quando pensava nela.

- Juliana? - ela me chama, e eu me viro para ela e a mesma sorri - Você foi longe em garota.

Anui.

- Um pouquinho.

- Vai me falar sobre o que eu perguntei agora pouco?

- É complicado, Fernanda. - disse tentando manter a voz firme.

- O que é complicado?

- Tudo isso!

- Seja mais clara, Juliana.

- Eu bem que gostaria - encarei aqueles olhos amendoado - Mas isso é errado.

- O que é errado? - perguntou-me.

- Por favor, Fernanda, pare de fazer tantas perguntas. — sorri debilmente.

Ela riu baixinho. Eu não consegui controlar meus impulsos. Quando dei por mim, já estavamos nos beijando.

Paramos de nos beijar e nos encaramos, o silêncio tomou conta daquele ambiente, ouvimos as vozes de alunos chegando e não demorou muito o sinal da escola tocou.

- Eu preciso ir. - me levantei antes mesmo de ter pensando em levantar.

- Juliana - Ela segura meu braço - Espera.

- Eu preciso ir. — disse sentindo todo o meu rosto mergulhar em um tom rubro.

- Nós precisamos falar sobre isso.

- É eu sei, mas eu tenho que ir agora. — puxei o meu braço de sua mão.

- Sério isso?

- Sério, até mais. - afirmei.

- Tudo bem.

Ela deu um passo atrás e eu corri pra sala.

•••

As aulas estavam custando à acabar, ou talvez fosse só eu que estava com muita pressa para ir pra casa! Eu não conseguia me concentrar em nada, Fernanda não tirava os olhos de cima de mim e eu só queria ir embora, me jogar na minha cama e me cobrir dos pés a cabeça. Eu estava com tanta vergonha do que eu tinha feito hoje cedo. O que deu em mim? De onde eu arranjei tanta coragem para tomar uma atitude daquelas? Essa garota vai me enlouquecer.

- Ei?  - Camila estalou seus dedos próximos ao meu rosto - Acorda garota.

- O que foi?

- Estou tentando ter um pouco da sua atenção à horas, mas seus pensamentos estão em outro plano. Posso saber o que se passa nessa sua cabecinha? - Olho para Fernanda que estava congelada me olhando e volto minha atenção para minha amiga. - Já entendi tudo. - Ela continua falando - Você contou pra ela o que senti?

- Não. - afirmei - Eu fiz outra coisa.

- O que você fez? - pergunta curiosa.

- Eu beijei ela mais cedo.

- Beijou? - pergunta surpresa - Beijou como? E por que só agora eu estou sabendo disso?

- Estavamos conversando hoje cedo e eu não consegui dizer nada, então eu beijei ela.

- Caramba, você é lésbica mesmo. - Camila gargalhou.

- Isso não é hora pra gracinha, Camila. - dou um tapinha em seu ombro.

- E o que ela disse?

- Disse que precisamos falar sobre o que aconteceu.

- E você?

- E eu? - entortei a boca - Ah,  eu só queria sair de perto dela. É tudo muito confuso. Tem a Ellen e eu não sei o que fazer à respeito.

- Olha Ju, a Ellen é um problema dela. E se ela, está aceitando seus beijos assim é por que rola interesse, então esquece a namorada dela e deixa que ela resolve isso.

- Não é tão fácil assim.

- Mas, também não é tão difícil.

Rosnei.

- Eu acho que estou correndo o risco de estar me apaixonando por uma garota! - disse passando a mão pelo cabelo.

Camila gargalhou.

- Eu tenho certeza disso.

- O que eu faço?

- Apenas fale pra ela como você se senti. Já disse isso várias vezes pra você. - bufou - Para de fingir retardo mental.

- E se eu levar um fora? — ignorei a sua grosseria.

- E se não levar? - perguntou-me - Para de pensar negativo. Siga seu coração, você é uma mulher forte.
Fala pra ela tudo que você deseja. Se der certo, ótimo e se não der, tanto faz.

- Eu não sei o que séria de mim sem você.

- Eu sei...

- O que?

- Você não seria nada.

- Eu te amo, idiota.

- Eu te amo, lésbica.

Sorri balançando a cabeça em negação.

- Você é louca.

Ela anuiu.

Camila tinha razão, eu tinha que falar sobre tudo que eu vinha sentindo nesses últimos dias para Fernanda, eu não poderia deixar a situação ficar mais confusa do que já estava.

Eu Escolhi Te Amar | Girls Love ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora