Maria

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Maria é a bala da Zona, a tipa que faz todo gajo querer ser melhor, só para tê-la um dia! Tão cedo abandonou o ranho e as brincadeiras "típicas de crianças"! Com apenas 15 anos, ela já se sente moça e é sempre vista com a Tina. Tina, de 25 anos, é uma Universitária, que apesar de vir de uma família bastante humilde e namorando o André, o Pedreiro da zona, que também está no último de Engenharia na UEM, consegue pagar seus estudos! A faculdade vai de manhã e as 18h, sai para o trabalho! Informações que circulam, dão conta de que mana Tina(como é tratada) trabalha na Linha do Cliente dum dos Operadores de telefonia móvel. Maria não sai da casa da mana Tina, estão sempre juntas, claro, até as 18h, quando mana Tina vai trabalhar.
- Mana Tina, em casa não temos o que comer, meus irmãos estão a sofrer bastante.
- Maria, sabes que teus pais não podem muito e a banca já não rende, tens que arranjar maneira de ajudar.
- Sabes que quero ajudar, mas não sei o que fazer, para além da banca.
-Agora estou atrasada, amanhã falamos melhor. Leve esses 100Mts e vai cozinhar.

Tina seguiu ao trabalho e a Maria, para casa.
-Maria, minha filha, não gosto que fiques trancada com a Tina, tens que andar com meninas da sua idade.
-Mamã, meninas da minha idade teriam dado dinheiro para comermos, hoje?
-Minha filha...
-Mamã, descança, não te podes agitar! Cadê o pai?
-Papá está na barraca do Mabigue. Respondeu um dos irmãos.

A Maria fez-se a cozinha, e preparou o jantar! Deu banho seus irmãos e serviu a "janta".
-Maria, Maria...
-Papá, não grite! Mamã está dormir, e pai sabe que não está bem.
-Maria, sou teu pai eu, me respeite! Dá comida ao seu pai.
-Qual comida? Papá não deixou nada.
-O quê? Estás a discutir comigo?
-Não, pai, mas a banca não está dar nada.
-E esses pratos sujos? Dá comida ou....
Maria, serviu o pai e foi ficar junto da mãe.

No dia seguinte, depois da escola e como era habitua, Maria foi a casa da Tina, contou o que acontecera e da necessidade de conseguir emprego, porque a mãe está morrer por falta dr medicamentos e alimentação adequada.
-Eu posso falar com o meu chefe, para ver se consegue algo para si lá no Bar do amigo, mas não é facil.
-Mana, eu preciso, tenta, por favor!
-Não sei, Maria! Você é criança, trabalho nocturno, não acho bom para ti!
-E no teu serviço? Não é possível?
-Não, com a sua idade? Claro que não.
-Não sei o que fazer!
-Vai para casa cuidar dos seus irmãos, amanhã falamos.

Maria foi para casa, antes mesmo de entrar, viu o carro do tio Mabigue, sua mãe tinha piorado e estava sendo levada para o Hospital Central.
-Papá, o que se passa?
-Tua mãe, piorou bastante! Cuida dos teus irmãos.
Naquela noite, chegou a informação de que a mãe da Maria perdera a vida. Tina ficou sabendo e não foi trabalhar, para ir ficar com a amiga.
-Maria, sinto muito!
-Minha mãe, mana Tina! Minha mãe. O que será de nós? Eu tinha esperança que fosse ficar melhor e devolver a tranquilidade aqui em casa.
-Chora menina, tira tudo para fora.

Passado um mês depois do funeral, as tias regressaram para suas casa, ficaram ali a Maria, seu pai e seus irmãos. A vida estava mais difícil, o pai vivia mais na barraca e a fome, mesmo com a ajuda da mana Tina, instalou-se na casa da Maria.
-Maria, as coisas andam más no trabalho, ando com pouco dinheiro e não suporto ver-te passar fome! Quero que vás comigo ao meu trabalho, depois me dizes o que achas, mas tens que prometer que tudo ficará entre nós.
-Tudo bem, mana, vamos.

Assim, mana Tina levou a Maria consigo, estacionaram nos 33 Andares e caminharam em direcção a praça dos trabalhadores.
-Maria, lembre, tudo fica entre nós! Não quero expôr o meu local de trabalho, OK?
-Está bem mana.
Seguiam tranquilas, mana Tina trazia consigo uma bolsa. Entraram pela Rua de Bagamoio! A Maria começou a ver moças semi-vestidas.
-Mana, estas moças são Garotas de Programa?
-Sim, Maria! São sim.
Seguiram viagem e algumas comprimentavam a mana Tina.
-Colega, trouxe concorrência? Diziam algumas meninas, a mana Tina.
-Mana, porquê dizem isso?
-Por nada, elas brincam com todos que passam por aqui.
Entraram num dos Bares da rua de Bagamoio, mana Tina mandou Maria sentar numa das mesas, enquanto ela falava com um homem ali presente.
-É ela?
-Sim! O que acha, pode ajudá-la a enquadrar-se?
-Tem um bom corpo, tem motivo, e é fresca. Posso sim! Basta a convenceres.
-Deixa comigo! Hoje não vou trabalhar, amanhã falamos.
-OK.

Tina e Maria sairam do Bar e seguiram para casa.
-Mana? Já não vamos ao teu serviço?
-Maria, queres alimentar bem seus irmãos?
-Quero.
-Queres fazer faculdade, ter boas roupas, bom telemóvel?
-Claro que quero!
-Queres ter dinheiro para fazer o que quiser?
-Sim mana! Mas porquê essas perguntas?
-Maria, ali é o meu trabalho! Quando meu pai não pode pagar a faculdade, uma amiga mostrou-me aquele lugar. Dalí sai tudo que tenho! No início foi difícil, aqueles homens nojentos tocando em mim, mas passei a focar nos meus objectivos.
-Mana.....
-Queres melhorar tua vida? Venha trabalhar comigo.
-Mana Tina, não sei se quero isso para mim.
-Preferes passar por necessidades?
-Mas mana, sou nova e vou bem na escola, posso aguentar-me, enquanto espero por algo melhor!
-Algo melhor? Neste País?
-Sim! Mana, posso formar-me como professora.
-Você é que sabe, falamos amanhã. Boa noite!
Maria entrou em sua casa e os irmãos estavam deitados na sala! Deu-lhes banho e serviu-lhes o jantar. A noite parecia longa, a cabeça da moça não parava de girar! Aquele golpe lhe tinha caido forte de mais. "Mana Tina, Prostituta! ", justamente está que é seu espelho? Nada fazia sentido! Queria ela despertar daquele pesadelo. Depois daquela noite, passaram-se dias sem falar com a mana Tina,  não havia coragem para encarar a realidade, era terrível. O tempo foi passando, a banca já não dava, os preços subiram de uma maneira, que não dava para revender, o dinheiro e alimentos deixados pelos familiares, tinham voado! Agravava o problema com o álcool do pai da Maria. "E agora?", era a questão.
-Mana, estamos com fome.
-Não tem nada aqui! Deixem-me ver o que faço.
Maria foi a casa da mana Tina.
-Mana Tina...
-Pensei que já não gostasses de mim, por lhe ter contado a verdade.
-Nada disso, mana.
-Como estás?
-Meus irmãos, não comemos nada ha 3 dias...
-Sério? Teu pai?
-Gasta tudo no Mabigue! Meus irmãos mana, meus irmãos.
-Leva isto para eles, mas, e amanhã? Já pensou no amanhã?
-Amanhã é outro dia.
María foi para casa, e deu de comer seus irmãos. O pai regressou a madrugada e como sempre, fez confusão pelo jantar.
No dia seguinte, Maria foi expulsa da escola, por falta de pagamento da matrícula!  Voltou para casa desesperada e sem chão.
-Mana Tina, tudo bem?
-Tudo, mas já estou atrasada. Podemos falar amanhã?
-Não mana, vamos juntas.
-Sério? Entra no carro, conversamos pelo caminho.
Durante a viagem, María explicou suas motivações e necessidades.
-Mana, eu sou vou fazer isso para juntar dinheiro para pagar matrícula e começar um novo negócio.
-Está bem! Paras quando quiseres.
Na rua do bagamoio, mana Tina preparou a María e levou-na a sua esquina. Nova, linda, corpo de fazer esquecer qualquer problema, não tardou despertar o interesse dos tantos homens que por ali passam, para afogar as mágoas.
-Olá! Qual é o prejuízo, para usufruir desta maçã doce?
-Ainda não está madura, já tem um cliente que quer pagar uma boa soma, para comê-la verde, depois estará aberta para o público. Disse mana Tina ao cliente.
Minutos depois, parou um carrão e o vidro desceu suavemente.
-Está na hora, Maria! Esse é seu primeiro cliente, vai tirar sua virgindade e vais ganhar 2500MT,suficiente para pagar a escola e começares um negócio. Vai. Ohhh Manhique! Cuide bem dela.
-Você sabe.
Maria entrou no carro, e não tirou nem uma palavra, até chegar a pensão. Já no quarto, Mamhique tentou puxar conversa, mas a timidez e o medo, dominavam a miúda. Manhique beijou a Maria, tiraram toda roupa.. Mas Maria não parava de chorar.
-Calma, não vai doer nada.
Maria, não parava de chorar.

O Preco dos SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora