O Suicidio

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-Não, sr. Manhique! Não farei isso. Deus sabe o que faz.
-Ou fazes isso ou sais da minha loja.
-Que seja! Mas aborto, NÃO! E não precisas preocupar-te, não direi sua esposa que o senhor é o pai! Tchau, preciso trabalhar.
Dito isso, María regressou a loja.
-O que aconteceu filha? Pareces nervosa!
-Nada! Patroa, deve ser por causa do calor, cansa-me.
-Beba água e favor de não esforçar-se tanto! Lembra que carrega meu neto.
-Pode ficar tranquila.
-Saiba que tem meu apoio! Saiba também que te tenho como filha, podes contar comigo. Sabes que gostaria de ter tido uma filha! Deus mandou-te para completar esse vazio, conte comigo sempre.
-Obrigada!... 
O dia passou depressa, María já se sentia melhor. Já na rua de casa, Maria ouviu que a mana Tina tinha passado mal e fóra levada ao hospital.
-O que lhe aconteceu?
-Já passava mal ha meses, emagreceu bastante! Disconfio que seja HIV. Disse uma vizinha.
-Não é possível! Para que hospital foi levada?
-Para o Hospital Provincial.
-Obrigada.
Maria deixou as pastas em casa, e correu para o hospital.
-Mana Tina! O que se passa?
-Maria, minha irmãzinha! Estou morrendo, tenho HIV e já no estado avançado.
-Como é possivel? Sempre tiveste cuidado.
-Sim! Até envolver-me com o Manhique! Ainda bem que usaste preservativo, quando andaste com ele! Não foi?
-Maria!
-Não mana! Não pode ser verdade.
-Maria! Me perdoe...
-Maria saiu do quarto e foi-se embora, a chorar. "Meu Deus, o que fiz? Como deixaste isso acontecer? Eu não merecia isso, não, não farei o teste".
Passados alguns meses, circulou a noticia do falecimento da mana Tina.
-Maria, pareces abatida, o que se passa?
-Perdi uma amiga! Era que nem uma irmã, para mim.
-Sinto muito!
-Também sinto, não sei se será possível superar!
-O que lhe aconteceu?
Maria pôs-se a chorar...
-Estava doente, muito doente! Ai, mana Tina.
-Tina? A prostituta?
-A conhecia?
-Respeito sua dor, mas aquela não merece isso. Uma ordinária, que dormia com o meu marido. Como tantas vagabundas que andam por ai!
Maria congelou! Uma nuvem negra assombrou o local...
-Com certeza morreu de HIV, porque sem dúvidas o galinha do Manhique não usava preservativo!
-Mas...
-Não devias saber disso! Mas tu és da família, és minha filha. Eu e o seu pai Manhique, somos HIV positivo.
-Não! Isso é verdade?
-Sim! Filha, espero que essa informação, não mude o nosso relacionamento.
-Claro que não! Preciso contar algo, a senhora tem sido boa para mim! E acho que deve saber.
-Maria, vai conferir as caixas. disse Manhique, que entrara na loja a tempo de evitar o terramoto.
-Sim! Patrão.
-Ola esposa.
-Manhique, a miúda parece ter um assunto sério para me falar! E quero que saibas que ela já sabe que somos HIV positivo.
-O quê? Estás louca mulher? Como confias tal informação a uma estranha?
-Estranha? A Maria? Desde quando?
-Bolas PAH!
-Porque estás assim? O que se passa?
-Nada! Mãe, desculpa.
-Está bem! Vou a igreja, podes ficar com a Maria?
-Posso sim! Ore por nós.
-Está bem. Tchau! Maria, até logo.
-Maria, vem ao escritório! Esses cuidarão da carga.
-Estás louca?
-Louca porquê?
-Pensas tu que podes estragar meu casamento? Que direito tens?
-Que direito tinhas, quando passate-me o vírus de HIV?
-Não forcei-te a nada!
-Hoje dizes isso?
-Olha! Eu posso construir uma casa para ti, e abrir-te uma loja. Apenas saía da minha vida e arranja um pai para o seu filho.
-Não me vendo! Fique com sua loja, e informe sua esposa que me demiti.
Maria correu para casa, quando chegou, o pai estava em casa.
-Boa tarde pai.
-Boa tarde! Quem é o pai da criança?
-Pai...
-Quem é o dono dessa barriga?
-Não posso falar.
-Já arrumei suas coisas, podes ir. Na minha casa não ha espaço para mais um! Queres ficar? Tira essa barriga e vá deixar na casa do dono.
-Pai, eu sempre cuidei do senhor! Como pode...
-Sai! E rápido.
Maria levou suas roupas e deixou a casa. Não sabia e não tinha para onde ir! Estava sendo um dia terrível! O que fazer? Onde ir? E a qualquer altura poderia chegar a hora.
-Maria, o que se passa?
-Acho que vai nascer, não tinha para onde ir, por favor, sra. Manhique, me ajuda.
-Vamos ao hospital.
Já no Hospital, a criança nasceu.
-É uma menina linda! Parabéns mamãe. Como iremos chamá-la?
-Milagre! Ela é o meu Milagre.
-Milagre! Bem vinda. Maria, você e Milagre vão para minha casa, não podem ficar na rua.
-Não! Não podemos.
-Deixa de ser orgulhosa, minha neta não vai andar na rua, e também sinto sua falta! Porquê me abandonaste?
Maria desabou em lágrimas.
A senhora Manhique foi para casa, com a promessa de regressar bem cedo, para levá-las para casa.
"Não, como farei? Como viverei? Ela tem muito amor por mim! Minha filha não estará perdida. Não posso viver assim! E se viver, posso arriscar o futuro da minha filha, espero que não tenhas o vírus, filha. A senhora Manhique cuidará de ti. Vou morrer com este segredo".
Dito isso, Maria pediu papel e caneta e escreveu um bilhete para a senhora Manhique, onde de entre várias coisas, disse "(...)Sua neta! Filha da sua única filha, que não suportou a agressividade da vida. Deixo a miúda com a senhora, é o nosso milagre! Por favor, faça dela, uma mulher como a senhora, que não lhe falte nada. Quando falar para ela, sobre mim, apenas diz o quanto a amei, e que até a minha morte, foi para garantir um futuro melhor para ela(...)". María escondeu o papel na pasta da Milagre, foi a casa de banho, e tirou sua própria vida.

O Preco dos SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora