Vinte e Cinco

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- Me quer? - o olho, mas dessa vez ele não tenta manter contato visual.

Liam não tenta falar mais nada, mal ouço sua respiração, ele apenas desliga o carro, retira a chave e abre a porta, porém não sai. Fico o olhando, pensando que tipo de garoto problemático e confuso tomou conta dos meus pensamentos, é a coisa mais ridícula que eu já pensei. Não sei se falo alguma coisa, não sei se ele espera que eu saia, mesmo não sabendo, eu faço. Abro a porta do carro e me retiro do mesmo sem olhar para trás, sem saber se ele fez o mesmo, só olho pra frente, tendo consciência de todos os olhares curiosos que estão voltamos para mim no momento. Meu coração parece que vai pular pra fora do meu peito, não consigo deixar de pensar nas mil e uma possibilidades do que poderia ter acontecido se ele continuasse a falar. Mas não o fez, então chego à conclusão de que talvez tenha se arrependido do que disse. Seja como for, eu não vou atrás dele, o medo de ser humilhada é muito maior do que o sonho de ser amada por Liam Payne.

- Você precisa sair comigo nesse final de semana! - Jenner exclama, juntando as mãos como se implorasse. Caminhamos até os armários, em plena terça-feira, próximas aulas de exatas, e Jenner só consegue pensar na festa que Collin vai dar na casa de praia dele.

- Eu não posso, o.k.? - repito, mais uma vez. - Preciso estudar pra as provas da semana que vem, o que você também deveria fazer.

- Só preciso tirar um seis e meio, e consigo fazer isso lendo apenas menos que a metade do livro - afirma revirando os olhos, enquanto eu abro meu armário separando organizadamente os livros das próximas aulas. - E você também!

- Não, eu preciso estudar - confirmo com a cabeça, reparando pelo canto do olho Hilary passando pendurada no pescoço de Zayn.

- Essa aí vai em qualquer um, não é? - Jenner diz em um tom debochado.

- Ela fica com ele?

- Bom, eu não sei, mas na hora do intervalo já vou ter a resposta - diz rindo e andando para trás, começo a rir também acenando quando ela diz: - Até mais!

As aulas de exatas passam se arrastando, o professor que não liga para quem está fazendo alguma coisa lê um livro sobre a teoria do começo de tudo quando a matéria já está no quadro. Esse é um daqueles dias que eu não consigo nem abrir o caderno, muito menos ter a audácia de prestar atenção no que ele falava à uns dez minutos atrás. Eu não sei nem porquê eu saí da cama hoje, sinceramente.

Viajo ainda lembrando dessa manhã, no momento em que vi Liam parado na porta da minha casa; no seu sorriso enquanto me aproximava; no seu nervosismo para me fala qualquer coisa que seja.... Fico tão curiosa e ansiosa que não aguento ficar um segundo quieta, mexo na cadeira, ou estalo os dedos de cinco em cinco minutos, ou tento arrancar todas as pelezinhas do lábio.

Socorro!

Acho que nenhum ser humano com um pouquinho de paixão no coração conseguiria ficar normal depois de uma meia conversa daquela. Queria ter mais coragem, ter atitude de o olhar e manda-lo desembuchar logo, e não sair correndo como uma covarde, apesar de achar que ele logo iria fazer o mesmo. Posso fechar os olhos que sinto sua respiração quente pelo carro, seu perfume, e todas essas outras milhares de coisas que me fazem pensar nele boa parte do meu tempo. Preciso dar um jeito nisso.

O sinal soa e mal percebo quando todos já saíram da sala. Retiro os fones de ouvido, guardando junto o caderno - que mal toquei - dentro da minha mochila. Me levanto, ajeitando o moletom e reforçando o coque no cabelo, então escuto alguém limpando a garganta. Olho pra frente e vejo Hilary com os braços cruzados. Sozinha, pelo menos.

- Ora, ora - começa com um sorrisinho perverso no rosto. - Somos só eu e você, Cassie.

Continuo imóvel, até onde sei com uma expressão no rosto normal, tento não demonstrar medo dessa vadia mesquinha, que se acha tão poderosa quanto Deus, agindo por aí como se o colégio fosse dela e não houvesse ninguém superior.

- Se você soubesse as coisas divertidas que tenho vontade de fazer com você... - mexe os ombros com uma risada falsa, descruzando os braços e passando a unha na mesa, fazendo um barulho que faz meu tímpano estremecer. - Você sabe, é fácil. Poderia pedir pra qualquer um desse colégio fazer o que eu quiser, até mesmo tirar a sua vida.

Acho que arregalo os olhos, pois a mesma faz uma expressão de surpresa, como se estivesse me imitando. Clareio a garganta, tentando tirar forças da onde não tenho e sair logo daquela sala de aula que sempre me pareceu mais uma sala de tortura.

- Entretanto, isso traria problemas demais pra mim, e já chega de sujar meu nome com algo tão inútil como você, não concorda? - começa a tagarelar novamente quando vê que eu estava pronta para dizer algo. - Enfim... Fiquei sabendo da sua chegada triunfal na linda BMW do Liam, admito minha surpresa, mas a sua burrice é maior ainda.

- O que quer? - quase não tenho voz quando essas pequenas palavras saem. Ela olha em volta, depois para em mim novamente, os olhos como duas facas prontas pra cortar meu pescoço, se preciso.

- Você ainda não percebeu que ninguém nesse colégio quer saber da sua existência? Você ainda não entendeu que é pra se manter INVISÍVEL? - Hilary grita a última palavra, perdendo a compostura e deixando o ódio transparecer no olhar. - Se aproxime dele de novo e você acorda careca.

Paraliso.

- Chegue perto da BMW e eu arranco suas unhas com um alicate! Uma por uma!

Meu coração já está mais acelerado que o motor de um avião à essa altura. Meus olhos lacrimejam, ao mesmo tempo que minhas mãos tremem. Não sei se ela realmente seria capaz disso, mas já foi capaz de tanta coisa cruel comigo... Não pagaria pra ver.

- Você entendeu, ou quer que eu desenhe? - sua voz volta a doçura de antes quando um garoto volta para pegar o caderno que esqueceu debaixo da mesa. - Foi tão bom conversar com você, até mais, Cassie!

Minha respiração cortada, minha cabeça girando, eu acho que vou desmaiar. Espero um tempo até Hilary sair da sala para eu também poder sair, não consigo pensar em mais nada senão nas suas palavras cruéis. Como alguém é capaz? Como alguém tem coragem de ameaçar outra pessoa por algo tão banal desse jeito?

- Cassie! Ou! - Ouço Jenner gritando meu nome pelo corredor, assim como ouço seus passos apressados para me alcançar. - Hilary não está com Zayn, há! Eu não falei que ia descobrir?

Aceno com a cabeça, andando com o olhar fixo no chão, sentindo o peso do meu coração no peito. Se aproxime dele de novo e você acorda careca.

- Cassie, acorde! - Jenner tenta chamar minha atenção mais uma vez, a olho atordoada, e acho que ela percebe meus olhos marejados. - Ah não... O que aconteceu? Foi a Hilary de novo?

- Não é nada, apenas avise para os professores que eu não estou me sentindo bem e precisei ir pra casa - tento parecer convincente, mas é claro que ela não cai nessa, aliás, ela nunca caiu.

- Você não vai pra casa desse jeito - diz, envolvendo um braço no meu ombro. - Podemos dar uma volta, ir no shopping, ou apenas, se você quiser, podemos ir lá pra casa, assistir um filme... O que você acha?

Quando percebo o tamanho da generosidade de Jenner, meus olhos se enchem mais de lágrimas e acabam transbordando. Ela me abraça e sussurra um 'Oh, Cassie...', mesmo sabendo que eu odeio esse apelido.

- Chega de colégio por hoje, vamos.

Não me lembro qual foi a última vez que apenas agradeci mentalmente pela amizade de alguém.

Algumas ameaças chegam até a me incentivar, amo ver a empolgação de vocês e como se envolvem com a história... Só tenho a agradecer! Amo vocês ❤️

BrokenOnde histórias criam vida. Descubra agora