Um

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- Como foi o seu dia, querida? - Mamãe pergunta quando me dá meu prato com macarrão e molho.

- Você realmente quer saber? - pergunto olhando para o pouco de macarrão que ela botou pra mim. Suspiro frustrada.

- Se eu estou perguntando - Mamãe diz começando a comer a salada em seu prato.

- Foi o mesmo de sempre, mamãe - digo sem emoção. - Tive aulas normais e estudei bastante, nada fora do normal.

- Parece ter sido muito... emocionante - ela fala um pouco sarcástica.

- Você não tem ideia - falo baixinho e como um pouco de macarrão. - Aonde eu que está o papai?

- Trabalhando - diz sem me olhar.

- Como sempre - sussurro. Acabo de comer logo e subo para o meu quarto. Vou até o banheiro e encho a banheira, começo a me despir e pego a gilete em cima da pia.

Entro na banheira e me lembro de todas as coisas ruins que aconteceu comigo hoje. As garotas no ônibus jogando bolinha de papel em mim, me xingando, as líderes de torcida gritando 'vadia' enquanto eu corria em volta da quadra por ordens da professora de educação física, o recadinho que deixaram em meu armário, escrito em letras gritantes 'GORDA'. O copo de milk shake que derrubaram em mim 'acidentalmente'. Tudo isso vem à tona e eu caio em um mar de choro e arrependimento.

Passo a gilete no meu pulso, o sangue começa a aparecer. Antes, quando eu era uma criança, eu não podia ver sangue que já começava a passar mal, mesmo não sendo o meu. Agora descobri que sangramos muito mais por dentro do que por fora, não importa o quê aconteça.

Corto meu pulso na diagonal e depois na horizontal, me corto muitas vezes, na esperança de que toda a dor que está em mim desapareça. E por alguns segundos ela desaparece, mas quando o sangue estanca tudo volta em uma onda muito mais forte, fazendo com que eu desmorone novamente. Eu começo a cortar a minha coxa, barriga, quero me livrar dessa dor, dessa culpa por eu ser desse jeito, tão odiada, tão desprezível, tão insignificante. Às vezes me pergunto porquê Deus me colocou nesse mundo, ou nessa vida, ou porquê ele me fez assim. Não entendo o quê eu possa ter feito no passado que justifique tudo o quê estou tendo que passar agora. Parece que sou um alvo de problemas. Quem está jogando os dardos, está conseguindo acertar em cheio.

- Você já vai para a sala? - pergunto para Jenner enquanto caminhamos no corredor do colégio. Uma garota esbarra forte em mim, eu me viro para me desculpar - mesmo a culpa não sendo minha - e ela sai rindo. Suspiro frustrada.

- Você vai em algum lugar? - Jenner pergunta.

- Eu quero ir no banheiro - digo.

Um grupo de líderes de torcida e jogadores de futebol americano passam rindo alto. As líderes de torcida notam a minha presença e param, elas param os garotos também, cochicham algo entre si e começam a rir na minha frente. Eu desvio o olhar e endireito a mochila no meu ombro.

- Hey, vadia! - uma delas chama. Quando olho percebo que é Hilary, uma garota branca, com cabelos castanhos claro e olhos azuis.

- Não chame ela assim - Jenner diz baixo, como se quisesse me proteger mas tivesse medo de acabar tendo toda a atenção para si.

- O quê?! Como você quer que eu a chame? - Hilary pergunta com a voz sarcástica. Algumas pessoas que estão passando pelo corredor param para assistir o show.

- Tenho alguns nomes em mente - Diana, uma morena com lábios carnudos e cabelo alisado diz com um brilho no olhar. Eu abaixo a cabeça corando, envergonhada com tudo aquilo.

- Quem deu para o primeiro que apareceu não fui eu - Hilary diz e depois bota a mão na boca espantada, como se tivesse deixado sair sem querer. - Ops!

Eles começam a rir e eu olho para o chão, lembro-me mentalmente que chorar na frente deles só iria piorar a minha situação. Respiro fundo e engulo a vontade de desabar.

- Garotas, deixem elas em paz - escuto uma voz grossa e rouca. Levanto o olhar para ver quem é e vejo que é Liam Payne, o capitão dos jogadores de futebol americano.

Eu o olho com atenção, ele tem uma beleza simples, olhos e cabelos castanhos, corpo levemente definido... mas alguma coisa me diz que ele é muito mais do que aparenta ser, muito mais forte do que esses músculos que montam seu corpo. Ele me olha, pegando meu momento de admiração. Coro instantaneamente e desvio o olhar.

- É, nós temos que treinar - Carter, outro jogador de futebol, fala com animação.

- Tudo bem, vamos lá ver nossos garotos suar - Palmer bate palminhas e elas riem.

- Adeus, vadia gorda! - Hilary grita quando eles já estão se afastando. O corredor se enche de risadinhas contidas.

Engulo em seco e meus olhos se enchem d'água. Quando faço menção para sair dali correndo, Jenner bota a mão no meu ombro.

- Aonde você vai? Temos aula agora - diz como se estivesse ignorando totalmente o quê acabou de acontecer.

Tiro a mão dela do meu ombro e saio correndo. As risadas aumentam. Ouço pessoas me chamando de vadia, gorda, imunda e vários outros nomes. Eu começo a chorar e empurro as pessoas no corredor querendo sair daquele lugar o mais rápido possível.

Quando chego do lado de fora da escola, eu respiro fundo. Aqui, é como se o ar fosse diferente, não contaminado pela maldade daquelas pessoas horríveis. Olho para a rua, é um longo caminho até minha casa. Mas se eu esperar o ônibus, vou ter que olhar para aquelas pessoas mais uma vez e sofrer mais um pouco. Então decido ir a pé mesmo. São só vinte e uma quadras.

Boto meus fones de ouvido e coloco a playlist Depression. Enquanto caminho eu observo as casas e as pessoas na rua. São casas tradicionais, de uma sociedade de classe média alta, famílias feliz, algumas superficialmente, outras verdadeiramente felizes. Meus pensamentos voltam para aquelas líderes de torcida.

Porque uma pessoa deseja fazer outra chorar, quando poderia fazê-la rir? Não entendo porquê as pessoas às vezes preferem o ódio à paixão. Será que elas não vêem o quanto aquilo me machuca? Todas aquelas palavras imundas que nenhum ser humano merece escutar? Nenhuma garota merece passar por essa humilhação, sentir essa dor. Mas eu mereço, pois estou passando. Não importa o quê seja, fiz algo que me levou à esta situação. Então, é, eu mereço todo esse ódio. Só não sei por quanto tempo ainda consigo aguentar.

Heeeeey! Alguém aí mora em Londres ou em algum lugar que esteja frio? Porque, meu Senhor! No Rio de Janeiro está fazendo quarenta graus, imaginem a sensação térmica! Eu realmente preciso me mudar logo para Londres...

Mas enfim, o quê estão achando dessa nova fanfic? Comentem e votem, por favor! Isso, principalmente essa fanfic, é realmente importante para mim.

Love you all xx Bruna

BrokenOnde histórias criam vida. Descubra agora