Conhecendo Mais A Vida Um Do Outro

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Meus pais passaram o dia todo fora. Ultimamente estava sendo assim, eles estavam tão ocupados com reuniões, festas na casa do prefeito Owen e a câmara, que mal paravam mais em casa.
Essa era a oportunidade perfeita para que eu pudesse sair sem que eles vissem para me impedir.
Isso começou um dia depois da conversa que eles tiveram sobre controlar as minhas saídas e me focar mais no futuro de prefeita.
Eles iam conversar comigo sobre esse assunto quando receberam a ligação do prefeito Owen dizendo que havia aparecido uma reunião surpresa e que eles precisam comparecer com urgência, minha mãe, que é o braço direito de meu pai, foi junto, eles prometeram terminar a conversa depois, mas, nunca conseguem.
Eu aproveitei para ir aonde devia: ir até o local marcado falar com Leonardo.
Cheguei em frente à mesma lanchonete onde havíamos nos encontrado antes, mas não o vi lá.
Não demorou muito para que eu o enxergasse do outro lado da rua, ele me viu e eu acenei para ele e fui até seu encontro, mas dessa vez, prestei atenção olhando para os lados. - Oi Clarie!
-Oi!
-Que bom que dessa vez você olhou os lados - Eu ri-Duas vezes seria estupidez! - Bom, como nunca conseguimos nos falar direito, resolvi te chamar hoje aqui para nos conhecermos melhor, quero saber mais sobre a garota que eu salvei- Ele disse estufando - Você tem pinta de convencido- Eu disse - Bom, isso posso até ser um pouco, você, tem pinta de metida- Isso é uma coisa que não está no meu currículo - Ri- Bom, quero conhecer um pouco do seu dia a dia Leonardo - Só me acompanhar!.
Acompanhei ele como pediu, ele segurava uma mochila, fiquei curiosa e perguntei :-O tem na mochila?
-Você já vai ver! - Ele respondeu - Ei, desde quando você trabalha nas ruas?
-Desde dos 7 anos.
-E seus pais?
-Para quem está se conhecendo você é bem curiosa não? - Risos-
Mas eu te respondo, minha mãe morreu quando eu tinha 4 anos, -Ops, desculpa, não devia ter tocado no assunto, sinto muito - Eu disse - Não, tudo bem, eu superei, como eu dizia, eu não cheguei a conhecer meu pai, fui criado só pela minha mãe, a única coisa que sei sobre ele é que ele é rico, muito rico.
Quando souberam que eu estava morando sozinho, me levaram para o orfanato, morei lá um ano, depois resolvi fugir, porque era tratado muito mal.
Eu estava sozinho nas ruas do Rio de Janeiro, como não tinha lugar para dormir, vi uma loja e resolvi dormir lá, como tinha uma cobertura, achei que não ia passar tanto frio.
Fui acordado pelo dono da loja, o Seu Zé, ele me perguntou o que aconteceu e porque um menino tão pequeno como eu fazia ali sozinho deitado na porta de sua loja, e eu contei a minha história, ele se comoveu e deixou eu dormir uma noite lá.
Quando menos percebeu, Seu Zé tinha me adotado,ele trabalhou o dobro para conseguir me colocar na escola, eu estudava de manhã e ajudava na loja a tarde, ele tem uma loja de artigos de teatro. Só que aí as coisas começam a apertar, as vendas diminuíram, e ele já não tinha mais condições de pagar meus estudos, então tive que abandonar a escola e ajuda-ló a trabalhar.
Eu o ajudava a trabalhar na loja, mais aquele dinheiro que ganhávamos não era o suficiente para pagar nossas contas, então resolvi ajudar trabalhando nas ruas, eu faço de tudo, comecei vendendo flores, depois fui mudando para outras coisas, e hoje, aqui estou! Vivo! Em carne e osso!
-Uau! Que história! Mas esperai? Você não disse que tinha um cantinho?
-Tenho, Seu Zé, me arranjou um cômodo ao lado de sua loja, vivo lá!
-Ah! Que bom! Sua história de vida é...
-Magnífica? Esplêndida? Extraordinária?
-Incrível! Nunca tinha ouvido algo com tanta superação como isso.
-É eu sei! E eu só estou aqui hoje por causa de uma pessoa de coração muito bom!
Ficamos conversando sobre esse assunto um bom tempo, até que notei que ele ainda não havia me contado o iríamos fazer, então resolvi perguntar :
-Ei, o que iremos fazer afinal? Você ainda não me contou, depois de horas.
-Você vai conhecer, e, se quiser, experimentar um pouco do que eu faço.
-Eu adoraria! O que vamos fazer? Vender flores?
-Não, não vamos vender flores, hoje vamos fazer uma das coisas que eu mais gosto.
-O que?
-Você já vai saber!
E depois de fazer aquele suspense, entrou em um bar, cumprimentou o dono e entrou no banheiro.
Ficou lá um tempo, e depois saiu vestido com terno e gravata, sem o seu gorro preto, parecia outra pessoa.
Me impressionei:
-Uau! Você está tão. .. Diferente
-Se isso foi um elogio, obrigada!
Eu ri:-Mas acho que isso não ajuda muito sobre o que vamos fazer hoje.
-Então se você acha que complicou ainda mais, é só me seguir!
E assim eu fiz, passamos por duas esquinas e depois paramos em uma praça, numa calçada cheia de pessoas, ele foi até o centro da praça para chamar a atenção delas.
Ele fez um sinal para que eu viesse junto, e eu fui.
Nós dois sentamos em um banco e ele começou a dizer:-Darlene, essa tarde está linda, olha que maravilhoso este pôr do sol.
Logo cheguei a conclusão do que estava acontecendo :Leonardo era um ator de rua.
Ele continuou :-Mas não te chamei aqui á toa, preciso te contar algo muito importante.
Ele ficou um tempo em silêncio e eu pensei que fosse parte da atuação, mas depois entendi que era a minha vez de atuar, ele, tentando me ajudar, disse :-Improvise, você tem que me chamar de Renato.
- Ah sim, e o que é tão importante Renato, estou curiosa.
Ele pegou em minha mão e fiquei vermelha de surpresa, ele prosseguiu:-Eu...
-Fala Renato, está me deixando preocupada.
-Eu descobri que estou completamente apaixonado por você, na verdade eu te amo!
Darlene, antes eu pensava que te amava somente por causa da nossa amizade, mas depois percebi que não, era além disso, mas sei que você não sente o mesmo por mim e que o amor que você sente é de amigo, não quero estragar nossa amizade, mas precisa dizer isso, senão a angústia, a aflição que eu sentia de não conseguir dizer essas palavras para você, iria continuar morando em mim. Sempre que estou perto de você, me sinto vivo, feliz, você é o ar que eu respiro Darlene, mas sei que você não sente o mesmo, eu... Vou embora!

E ele se levanta, eu me impressionei com o seu talento, mas achei que essa história de amor que estávamos encenando não poderia acabar com um final tão triste assim, então, resolvi prosseguir a cena :-Renato! Não! Por favor! Não vá embora! Eu quero te dizer que...
-Darlene?
-Eu sinto sim o mesmo por você Renato! Eu te amo muito! E nunca te disse pois pensei que você não fosse corresponder esse meu amor por você, pensava que fosse só coisa da minha cabeça, um amor impossível.
Mas agora que você se declarou, não pude te deixar ir sem dizer o que eu sinto!
Leonardo se virou e, sem perceber, nós dois dizemos as mesmas palavras :-Você é o amor da minha vida! Eu te amo!
E para finalizar ele me deu as mãos e olhou em meus olhos e eu nos dele.
As pessoas aplaudiam e deixavam seus trocados pela bela apresentação que viram.

Logo em seguida, eu disse :-Seu talento de ator é surpreendente! Parabéns!
-Obrigado, acredite! Se eu tivesse condições, eu gostaria de ser ator.
Mas eu tenho uma pergunta, Porque você fez aquilo? Porque não deixou a cena terminar?
-Achei aquele final muito... Triste, por isso acrescentei um final mais romântico.
-Obrigada! Graças a você, ganhei o triplo dos outros dias, já ajuda bastante!
-De nada! Eu também tenho uma pergunta, onde você aprendeu a atuar tão bem?
-Bom, quando eu tinha 10 anos eu estava vendendo flores perto de um teatro, as flores acabaram, então tive que ir buscar mais na floricultura, eles me davam as flores não muitos úteis, mais boas para se vender.
Eu passei por perto do teatro e vi um pouco da peça que os atores faziam, eu fiquei impressionado com toda aquela arte. Eu comecei a passar por lá todos os dias, até que um dia, um ator me pegou espiando do lado de fora e perguntou o que eu estava fazendo lá, eu contei que gostava de teatro de de atores, ele perguntou se eu gostaria de aprender um pouco sobre essa arte, eu aceitei, ele e outros atores que conheci lá, me ensinaram tudo sobre arte e atuar, e hoje sou apaixonado por tudo isso.
-Entendi. Isso explica todo esse seu talento.

Olhei no relógio. Já estava ficando tarde e mesmo que meus pais não fossem chegar tão cedo por conta do trabalho, achei melhor ir para casa.
-Melhor eu ir, gostei muito da sua companhia e dessa sua vida.
-Você volta amanhã?
Eu pensei um pouco e respondi:-Vou fazer o possível.
-Então Tchau!
-Tchau!
E assim eu fui para casa.

Fiquei pensando em Leonardo. Ele tem uma história e tanto.
Passou por tantas dificuldades na vida, sua mãe morreu, ele não conhece o pai, abandonando aos 4 anos, teve de largar a escola e ir trabalhar nas ruas e mesmo assim, ele é uma pessoa feliz.

Esse sim é o tipo de felicidade verdadeira. Aquela que não inclui o dinheiro, a riqueza e tudo mais, só sendo você mesmo.

Leonardo era a pessoa que você poderia chamar de batalhadora.
Acho que vamos tornar ótimos amigos!

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