Metades Diferentes

Obrigada A Ir!

Era fim de semana, dia de festa no conselho, como todos os fins de semana, meus pais iam,meu pai discutia sobre assuntos relacionados à  política, enquanto minha mãe conversava com as esposas daqueles prefeitos presentes e cada uma  exibia o orgulho pelos filhos e filhas.
  Eu ia, no começo, depois me cansei, estava ocupada demais passando todas as minhas tardes com Leo.  Mas agora, meus pais estavam insistindo para que eu fosse:-Vamos Clarie! Você vive saindo! - Isso mesmo! Desde que você se formou, não vejo mais você treinando, estudando ou ao menos indo para as festas.
-Mas mãe, eu ia tirar o dia hoje para...
-Nós sabemos, para passear, mas acontece que você vai ter que deixar para amanhã, porque hoje você vai á festa conosco.
Tentei inventar outra desculpa :-Mais eu não tenho nenhuma roupa para essa ocasião!
-Sem problemas - disse minha mãe - Eu já resolvi isso, comprei um vestido belíssimo, está no seu quarto, agora vá se arrumar que está quase na hora.
-Tudo bem mãe - Eu respondi forçando o meu sorriso.
Fui até meu quarto, fechei a porta e encostei a cabeça na parede dando um suspiro,Leo ia me fazer uma surpresa hoje, eu gosto quando ele me faz surpresas, agora eu vou ter que deixar o coitado me esperando metade da tarde, enquanto eu tenho que ir nessa festa estúpida! E o pior,ele não tem celular ou algo do tipo para eu ligar ou mandar uma mensagem avisando que não vou poder ir.
  Ouvi minha mãe me chamando para que eu me apressasse. Eu olhei para a cama e vi o vestido que minha mãe tinha comprado, acho que, na minha opinião, eu nunca tinha visto um vestido tão bizarro:

  Minha mãe tinha me comprado aqueles vestidos de época para eu ir numa festa na casa de um amigo prefeito deles. Isso era demais para mim! Mas o pior de tudo :Eu não podia fazer nada a respeito, eu nunca tinha "debatido” com os meus pais, mas mesmo assim, eu sabia que ia dar em uma grande discussão.

Vesti aquele vestido horroroso e desci.
Minha mãe quando me viu, ficou fazendo uma cara que eu conhecia :-Você está linda! Mas...
-O que?
-Tem alguma coisa de errado. Já sei! O seu cabelo!
-O que tem meu cabelo?   Minha mãe revirou os olhos e respondeu:-Não está bom, sente aqui, vou arruma-ló.
Eu, como sempre, obedeci. Depois de pentear e tanto mecher, ficou pronto o penteado, me olhei no espelho e vi alguém que não era eu, ficou assim :

Minha mãe ficou dizendo o tempo inteiro que eu estava linda, para mim eu estava mais parecendo uma pintura daquelas madames de época exposta em uma sala de estar.
  Quando chegamos na festa, foi tudo como eu imaginei :Meu pai foi conversar com os outros prefeitos sobre política e minha mãe foi conversar com as esposas daqueles prefeitos presentes sobre os filhos e filhas.

Enquanto isso, eu ficava isolada num canto sentada numa cadeira. Eu percebi que as outras garotas da minha idade que estavam na festa, estavam rindo e cochichando algo, eu não fui burra o suficiente para saber que elas estavam falando do vestido que eu estava usando.
  Depois de um tempo uma garota veio me perguntar :-Ei você não é a Clarie? Filha do prefeito Robert?
-Sim sou eu.
-Nossa! Meu pai, o prefeito Guliver, fala muito de seu pai, e ele de você, você é uma das mais ricas e privilegiadas filhas de prefeitos aqui presentes hoje. Você deve ser muito feliz com sua vida não?
  Eu abaixei a cabeça, dei um suspiro e respondi:-Claro, acho que sou a pessoa mais feliz do mundo.
   Ela me parabenizou e voltou a conversar com as outras garotas.
  Eu fiquei pensando :Tudo que eu disse era mentira, minha vida é uma mentira! Eu posso ter tudo do bom e do melhor, mais nada disso é felicidade para mim, eu não vivo, eu sou um passarinho preso numa gaiola que quer muito voar, mas não sabe muito bem como fazer isso, e cada vez mais que ele não sabe, mais ele vai ficando preso. Mas essas garotas, elas não entendem, não entendem como é ter sua vida inteira sendo decidida pelo seus pais, e você não pode fazer nada para impedir. Acham que ser rico é tudo. Se elas vissem como é a minha vida, elas não teriam mais tanta certeza.