Dia 4

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Já é o quarto dia em que estou sozinha neste pequeno apartamento que partilho com a rapariga que, neste momento, me odeia.

Todo este ódio e confusão trazem-me memórias antigas, de quando a pequena rapariga morena descobriu que eu e o seu namorado tínhamos estado juntos de forma casual pouco tempo antes de eles começarem. O que eu tive com Harry, o moreno de olhos verdes, foi algo puramente sexual, ou tal eu achava.

Acho que, honestamente, nunca consegui compreender o que nós tínhamos. Sei que não era algo totalmente normal onde o sexo nos consumia e onde o rapaz ia embora após o ato. As noites em que dormimos juntos foram demasiadas, e as manhãs em que agíamos como um casal tornaram a nossa separação demasiado complicada para algo que seria apenas físico.

No entanto, e se eu for realista e analisar todos os sinais que fomos dando um ao outro, a minha falta de sentimento aniquilou aquilo que me poderia ter feito demasiado bem e o excesso de sentimento da parte dele, matou o fogo que havia em mim.

O meu estado deprimente era visível por toda a sala, desde a minha vestimenta ( nada que uma grande sweat não resolva), à forma como as caixas de pizzas se vão acumulando na mesa central.

Decido sair do sofá, aquele ao qual chamo de "fortaleza contra boa disposição" e dirijo-me à minha carteira, tirando de lá o que torna tóxico a minha existência, pondo-o na minha boca e inspirando o fumo que me retirava a vida. Um vicio é algo complicado, difícil de combater e eu acho que só percebi isso quando o deixei. Nunca o vi como aquilo que realmente era, uma pessoa, mas tentei constantemente compará-lo com um vicio que me retirava a vida aos poucos e que me fazia mal.

Porque verdade seja dita, ele foi o meu pior erro de iniciante e manter-me sem ele é algo que não consigo controlar como gostaria. Posso usar como exemplo aquilo que agora meto novamente nos meus dedos e que me deixa com um sabor amargo na boca. Quando o conheci, o cigarro estava sempre na minha boca, o fumo enchia os meus pulmões a toda a hora, e só depois é que troquei esse vicio pelo seu beijo ou pelo seu toque, que me deixava muito mais relaxada do que qualquer tipo de droga existente. No entanto, tive de o deixar e sendo assim, não me encontrava viciada a nada.

E o pior é que ter substituído um por outro, só me tornou mais fraca. Porque infelizmente, bastou-me um dia. 15 segundos perto de um fumador no espaço fechado que é o elevador que me leva a minha casa, para que o cheiro do que me matava subisse à minha cabeça e fizesse falta no meu organismo.

Bastaram 15 segundos para me sentir dependente de algo que já foi meu, e bastaram 15 minutos para voltar a ter o cigarro na boca e que o fumo enchesse os meus pulmões na sua totalidade, tornando-os pretos da cor do teu cabelo e do que eu me tornei.

Bastaram 15 horas para que eu ficasse totalmente dependente da sua presença, para que eu me desfizesse dela e para que eu voltasse a ficar viciada.

Parece que a dependência é algo curioso, e que nos mata demasiado.

No entanto, ele sempre disse que eu bebia, e fumava e falava demasiado. Mas nunca disse que eu o queria demasiado e talvez tenha sido por isso que se tornou a minha pior perdição e o meu maior erro.

Pensar demasiado é o meu pior erro, e parece que estar assim também.

Olá, eu sou a Ruth, e vivo sozinha com os meus demónios.

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