E novamente eu acordo para viver mais um dia. Poderia ser um dia normal, como um outro qualquer, mas não, é uma sexta-feira fria, gelada e cinza.
Mas um pouco diferente dos outros dias, eu não acordo indo direto para a cozinha beber algo para me embebedar e esquecer dos problemas. Diferente desses dias eu não bebo, eu apenas vou em direção ao banheiro fazer minhas higienes matinais e visto uma roupa diferente, assim como meu humor — não preta como de costume.
Chega a ser estranho não estar bebendo algo forte logo pela manhã ou indo fumar na minha varanda. Já que em todos esses dois anos eu fiz isso repentinamente. Acordava e nem mesmo fazia minhas higienes, eu ia beber e fumava o restante do dia. Apenas acordava no meio da madrugada e voltava a beber até apagar de vez.
Mas dessa vez é diferente.
Eu comecei o dia com um banho quente, com roupas confortáveis, perfume e até um café da manhã um reforçado.
Por alguma maneira eu me sinto leve e animado para fazer as coisas que fazia em minha antiga rotina. E acho que posso começar acrescentando algo nela, como fazer uma caminhada ou ir no mercado comprar algumas coisas que faltam em minha casa — que eu percebi mesmo faltar ao tentar fazer um bom café da manhã pra mim — e quem sabe eu não vá ver Jimin depois de fazer essas coisas?
Sorrio ao pensar nele, enquanto escrevo uma pequena lista de coisas que precisava para a casa. Ter que escrever lista de compras nunca foi tão difícil, principalmente quando não se tem tanto dinheiro e não pode desperdiçar o pouco que se tem.
Ao passar um mês fora de Seul, mais precisamente em minha terra natal Busan, eu trabalhei um tempo em uma lojinha de conveniência e depois trabalhei dois períodos em um restaurante como garçom. Guardei um pouco de dinheiro na conta e gastava feito louco o restante com bebidas, e agora eu percebo que até fui inteligente por guardar dinheiro em uma conta bancária.
E nesse tempo em que passei em Busan, não fiz questão de ir ver a minha mãe. Bem, por que motivo eu iria vê-la? Ela nunca fez questão de me procurar, então por que diabos eu a faria?
Eu não sinto ódio pela minha mãe, não, isso seria idiota de se dizer para uma mãe ou qualquer pessoa. Ódio é um sentimento muito forte pra de sentir, assim como o amor é. Eu gosta da minha mãe e da minha família, e eu sofri quando percebi que estava sendo excluído dela aos pouco.
Eu chorei quando percebi que não estava recebendo atenção dela e que ela estava apenas a dar atenção para o meu irmão mais novo, e eu me senti péssimo. Até mesmo achei que tinha algo de errado comigo mesmo. Teve uma certa vez que eu tentei mudar e ficar igual ao meu irmão, mas minha mãe percebeu e disse que eu estava velhinho demais para me comportar daquela maneira.E tudo o que eu queria era atenção.
Quando eu completei meus dezessete anos — ainda sem maioridade — viajei para Seul com meu pai e comecei a morar em um apartamento que ele tinha. Ele voltou para Busan e eu resolvi ficar em Seul, trabalhando em empregos pequenos e ganhando bem pouco também.
O suficiente para comer e viver.
Eu não tinha caprichos, do tipo roupas caras ou era nojento com algum tipo de comigo. Trabalhava em um restaurante de macarrão e as vezes eu comia alguns dos rostos ou eu mesmo preparava o meu prato antes de ir pra casa.
Consegui viver de boa mesmo sem a maioridade.
Mas um certo dia o meu pai praticamente me obrigou a deixar o apartamento quando estava próximo de completar dezoito.
Ele disse que precisava vender o apartamento pois estavam passando por necessidades em Busan. E eu entendi — até mesmo lhes mandei um pouco de dinheiro quando soube — e sai do apartamento, pegando o dinheiro que eu havia juntado por quase um ano e comprei um apartamento pra mim.