Capítulo 22 - Desabafo

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Meu coração está batendo tão forte que ele pode realmente sair pela minha boca a qualquer momento. Minhas mãos nunca suaram tanto em toda a minha vida, assim como as borboletas no estômago nunca se mexeram tanto. Acho que devem estar fazendo uma festa por eu estar tão perto do Jimin, depois de dois longos e torturantes anos.

Eu sequer estou conseguindo falar bem, quem diria cantar para ele?

Minha voz falharia e eu acabaria desafinando. E no final ele riria de mim e me chamaria de louco por dizer que quero seguir algo relacionado a música, quando nem mesmo tenho talento.

Não consigo manter a minha postura e acabo abaixando minha cabeça, sentindo o peso de seu olhar sobre mim. Ele está esperando que eu cante, mas eu não sei o que cantar ou sequer falar.

— Eu não acho que seja uma boa ideia.— Ele nega sorrindo, e me sinto um tanto aliviado ao sentir sua mão suave em meu ombro.— E nem acho que canto tão bem assim, não pratico faz um bom tempo.

— Você me parece nervoso.— Diz.— Não precisa ficar nervoso ou tímido.

— Mais eu-

— E nunca se coloque pra baixo, Jungkookie-ah.— Crio coragem e o olho bem no fundo dos seus olhos.— Tenho certeza de que você tem sim muito talento, só não se sente confiante o bastante.

Ele tem razão, eu não posso viver colocando meus sonhos em último lugar e muito menos dizendo que não sou o bastante e que não tenho talento. Mesmo sem praticar, eu devia tentar cantar para Jimin e mostrá-lo que sou bom em algo, isso me daria sua atenção. Me daria sua atenção nem que seja por míseros segundos.
E isso é tudo o que eu quero. Quero sua atenção pra mim, quero que ele sorria pra mim e por mim.

Eu vou tentar, por você.

— E então?— Eu apenas assinto, me preparando psicologicamente para cantar depois de tanto tempo sem o fazer.

Feeling like I'm breathing my last breath.— Começo, e agradeço a quem seja por eu não ter desafinado logo no começo.— Feeling like I'm walking my last steps. Look at all of these tears I've wept, look at all the promises that I've kept.Fecho meus olhos, sem coragem de olhar para Jimin. O Park tinha sua mão em meu ombro, e apenas percebo isso quando ele a tira do local e sinto saudade de seu toque.

Tento manter a calmaria em minha voz, o contrário do que está dentro do meu peito.

É como se uma tempestade estivesse ocorrendo dentro de mim, e piorasse a cada momento que eu me lembro que Park Jimin se esqueceu de mim. Ele se esqueceu de quem eu sou e dos poucos momentos que tivemos juntos. Mesmo que todos eles foram poucos e eu não entendi realmente o que Jimin sentia por mim, eu guardei essas lembranças a sete chaves dentro do meu coração e em minha mente.

Eu tento colocar todo o meu coração enquanto canto. Tento mostrar como realmente me sinto em relação a tudo isso, como me sinto nesse exato momento em que canto pra ele. Como se eu me rasgasse e tirasse meu coração apenas para mostrá-lo como ele está depois que eu o perdi, mesmo sem tê-lo por completo antes.

E eu espero que ele entenda o que estou tentando lhe mostrar.

Espero que ele veja as feridas no meu coração, espero que ele veja a bagunça que está em minha mente e como estou doente por dentro. Espero que ele veja que mesmo sorrindo, eu estou triste por dentro, acabado e devastado.

I put my heart into your hands, here's my soul to keep. I let you in with all that I can, you're not hard to reach.Meus olhos ardem e sinto um bolo se formar em minha garganta.

Eu não irei chorar, eu não posso me deixar levar pelo momento e apenas chorar. Ele não me entenderia.

And you bless me with the best gift that I've ever k-known.Então eu crio coragem e abro meus olhos, ele me encara sem expressão e eu aoenssno encaro antes de continuar.— You give me purpose. Yeah, you've given me purpose.

E eu faço o que eu disse que não faria.

Fico em silêncio e deixo o primeiro fio de lágrima cair dos meus olhos.
Deixo ela cair e Jimin me olha, com a preocupação visível em seu olhar. Não sei quanto tempo passa — pra mim foi uma eternidade — mas eu abaixo a cabeça novamente e deixo que as lágrimas caem.

Me sinto como uma criança. Não sei o que dizer ou o que devo fazer.
Eu provavelmente correria daqui e iria até minha casa, onde eu choraria e passaria o resto da noite bebendo feito um louco. Também descontaria a minha raiva e tristeza no cigarro e dormiria até tarde, e na manhã seguinte eu me lembraria de tudo.

I'm more than grateful for the time we spent, my spirit's at ease.— Eu não canto agora, apenas sussurro apenas para ele ouvir.

E então eu tento me acalmar por fora, pois tudo por dentro já está bagunçado e quebrado.

Levanto minha cabeça e sorrio tímido, limpando os rastros de lágrimas do meu rosto. Digo um pronto sem nem mesmo dizer, apenas sibilo com os lábios e ele assente me olhando com uma feição que não consigo distinguir qual é.

— Por que chora?— O menor pergunta baixo, tornando a pôr sua mão delicada em meu ombro.— Eu não deveria ter te forçado a cantar, não sabia que isso iria acontecer.

Me sinto envergonhado agora, como se estivesse completamente nu na frente de várias pessoas desconhecidas. Só que nesse caso, eu conheço o Jimin e ele não me conhece.

— Só.. Por favor, esquece isso também?— Peço e ele assente confuso, sem nem mesmo entender o motivo de eu lhe pedir isso.— Desculpa.

— Jungkook.— Põe a mão em meu rosto o levantando para que eu o olhe.— Está tudo bem em chorar, isso só o torna ainda mais humano.

— Você deve me achar um idiota.— Sorrio, me distanciando de seus toques.

Ele não se lembra.

Jimin apenas nega, se sentando na minha frente. Tento me distanciar, lembrando a mim mesmo que não devo me iludir com seus atos.
Mas ele dificulta, segurando meus pulsos e me levanta, me puxando para um abraço.

Ele me abraçou.

Sinto seus braços rodarem a minha cintura e resolvo me entregar, colocando meu rosto na curvatura de seu pescoço e respiro fundo o seu aroma doce e suave. Deixo mais algumas lágrimas caírem e o ouço sussurrar que tudo estava bem.

Mas nada está bem. Eu não me sinto bem e não irei me sentir bem, feliz ou completo até que ele se lembre quem sou eu.

Ele não se lembra!

De uma maneira um tanto bruta eu empurro seu corpo para a cama fazendo com que ele se deitasse e ficasse perplexo com o que fiz.

— Não haja como se lembrasse.— Limpo as lágrimas e torno a ficar ainda mais sério.— Isso dói, a maneira que você age comigo me machuca. Eu estou machucado por dentro, você me machucou, mesmo sem querer me machucou.

Eu havia chegado ao meu limite com esse abraço. Eu sou um desconhecido, então porque ele não me trata como um? Por que ele me abraçou se eu não passo de um estranho para ele?

E pra que se controlar quando se pode falar umas verdadeiras verdades? Por que eu posso dizer tudo do passado pra Jimin, ao invés de sofrer com tudo guardado dentro de mim?

Jimin ainda me encara confuso e percebo um certo medo no seu olhar.

— Você me olha como se lembrasse de nosso passado juntos. Você me abraça e faz com que eu pense que você se lembra de tudo.— Deixo as palavras saírem.

— Do que você-

— Do que eu estou falando? É disso que estou falando, de você não se lembrar e agir como se lembrasse.— Rio irônico e ele se senta na cama, me olhando.— Também estou falando do nosso passado que tivemos! Das nossas transas, dos nosso beijos e dos momentos que passamos.

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