Capítulo 1

111K 4.7K 1K
                                    

– Não pai, eu não vou naquela festa. Sim, eu sei que você é o chefe e não pode atrair escândalos. Sim, eu ainda lembro que sou detetive. Sim, eu vou ficar em casa!

Desligo o celular e jogo sobre a cama, às vezes me sufoca a forma que meu pai tenta me tratar. Eu acho que ele ainda pensa que sou sua garotinha, a quem ele sempre precisou proteger desse mundo perigoso em que a vida toda viveu, mas como na maioria das vezes eu não obedeço ele. Corro pro closet, para pegar as roupas que já separei.

Essa festa de hoje é tipo um marco anual, ao qual todos os melhores DJ's e bandas estão presentes e por isso não posso perder por nada. Mesmo que meu pai sempre faça um drama depois, eu a maioria das vezes consigo fugir e me livrar dos sermões. Visto que, morar sozinha me dá uma certa vantagem, mesmo que não em cem por cento das vezes.

Toda vez que vou sair para algum lugar, ele faz questão de me lembrar que faço parte da polícia e devo me comportar como uma pessoa responsável. Hoje é sábado, ou seja, estou de folga e só volto na segunda ao trabalho. Tenho vinte e três anos, então não vou ficar sempre presa em casa igual uma pessoa idosa. Apesar da minha profissão, eu sou jovem e preciso me divertir. Nada me impede, só ...

– Alô! – Atendo, talvez alguém que possa me impedir. Coloco o celular preso entre o pescoço e o ombro e continuo olhando as combinações de roupa.

– Oi, meu amor. – Filipe diz em tom meloso.

Ontem nós brigamos e ainda não entendi o que eu tinha na cabeça a três meses atrás quando finalmente cedi às suas investidas. Ele é meu amigo desde sempre e tinha aquela típica paixão por mim, resolvi dar uma chance. Acho que foi de tanto meu pai insistir, algo sobre o genro perfeito - pois ambos são bem chatos e parecem velhos- , desde então ficamos nessas drs infinitas e sempre que tento terminar, ele faz uma expressão bem triste que me parte o coração.

– O que você quer? – Pergunto seca e sem dar muita confiança.

– Tudo bem? Seu pai acabou de falar comigo, disse que você não vai sair. Quer companhia? – Pergunta e suspiro fundo.

Exatamente isso que me irrita, ele parece o cachorrinho do meu pai, pronto para acatar qualquer ordem.

– Não, estou muito bem assim. – Respondo enquanto pego minhas maquiagens e levo para a penteadeira, deixando o vestido que irei usar pendurado no gancho. — Aliás, precisamos conversar depois. 

– Tem certeza? Eu posso comprar uns chocolates e aí podemos assistir algum filme novo. — Propõe. — Conversar sobre o quê? Algo está errado? — Ele não pode ser tão sonso assim. 

– Que oferta tentadora, mas já marquei com a Ashley. – Solto um suspiro longo. – Tchau, Filipe. Até depois. 

– Tchau, meu amor. Eu te ... – Desligo o telefone antes dele completar essa frase.

Tenho total certeza que estou sendo grossa, mas em nenhum momento desse relacionamento esquisito tivemos brechas para chegar a tal ponto tão complexo do que seria o amor. Nós não tivemos nada além de alguns amassos.

Balanço a cabeça, esquecendo todos que querem me atrasar e foco em me arrumar, pois realmente preciso pegar minha amiga em casa. Bom, pensando bem, eu não menti para ele, pois eu marquei com ela mesmo. Penso isso e solto uma risada.

Eu tenho muitas limitações, que eu mesmo me impus, mas sair só para dançar na companhia de minha amiga já é uma ótima terapia para mim. Que costumo passar horas presa no escritório, relendo casos e mais casos.

Termino de me arrumar e olho pro espelho. Minha pele branca agora carrega um pouco de maquiagem, meus cabelos loiros estão batendo na cintura e fiz alguns cachos na ponta. Meus olhos azuis estão destacados pela maquiagem mais forte ao redor deles e um batom nude pinta meus lábios. O celular apita e vejo que a Ashley mandou uma mensagem dizendo que está pronta. 

Degustação - Sequestro do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora