Capítulo 2

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– Se sente bem? – perguntei.

Depois que atendi a emergência na noite passada, quando retornei, Katniss já dormia tranquilamente, por culpa dos remédios que estavam dando a ela.

– Sim. Obrigada. – seus olhos haviam voltado para a famosa janela. Ela ficou em silêncio por alguns segundos. – Fico me perguntando se meus pais vão vir me ver. – o tom de sua voz havia abaixado, enquanto ela desviava os olhos para as suas mãos que repousavam em seu colo.

– Finnick disse que vocês vieram do Texas. É uma longa viagem. – comentei, tirando as luvas descartáveis do bolso do meu jaleco, e as colocando.

– Acho que mesmo que fosse na cidade vizinha, eles não viriam. – Katniss deu uma risadinha sem humor.

– Vocês não se dão bem? – perguntei, sabendo que eu estava sendo intrometido, mas não ligava muito pra isso agora.

– Não sou a filha favorita. – ela torceu o nariz e ergueu os olhos em minha direção.

– Acho meio impossível isso. Você me parece uma boa pessoa. – disse começando a tirar a faixa de sua cabeça.

– Pelo pouco que sabe sobre mim, deveria ter concluído o contrário. – murmurou, fechando os olhos.

– Você é inteligente, esqueceu? Engenharia Civil... – comentei

– Ser inteligente não significa nada. – rebateu. – Apenas significa que sei mais do que alguns. Isso não me faz uma boa pessoa.

– Mesmo assim. Ainda acho que estou certo sobre você. – insisti, desenrolando cuidadosamente a faixa.

– Cato não era um completo idiota quando o conheci. – começou a falar. – Na verdade... – Katniss hesitou por alguns segundos, enquanto eu já retirava o curativo para verificar seu ferimento. – A ideia de correr com aquele carro imbecil, foi minha, não dele. – ela confessou, abrindo os olhos pra me olhar.

Franzi o cenho, mas continuei a analisar seu machucado.

– Está melhor. Mas precisarei fazer outro curativo. – avisei, apertando o botão para chamar a enfermeira. – O que te fez ter essa ideia insana?

– Eu sabia que Cato costumava topar qualquer coisa, por isso fui atrás dele.

– E por quê? – perguntei confuso.

Katniss respirou fundo, parecendo entrar em uma batalha interna. Seus olhos agitados passeavam por meu rosto.

Ela precisou respirar algumas vezes antes de voltar a falar, o que estava me deixando preocupado.

– Eu precisava de algo além da bebida, para que eu me sentisse alguém. – confessou baixo, porém rápido.

– Você tem problema com bebidas? – perguntei franzindo o cenho. – Porque nos exames deu negativo pra álcool.

Katniss desviou o olhar para a janela.

– Estávamos indo beber, e depois iriamos para um racha que teria mais tarde. – respondeu, suspirando em seguida. – Finnick sempre tentou me ajudar, mas não fazia ideia dos motivos que me levavam a agir assim. Na verdade ninguém nunca soube, até agora. – Katniss riu sem humor, falando baixo as duas últimas frases, olhando em minha direção. – O fato é que estar no carro, enquanto Cato corria, fazia algo dentro de mim vibrar. Eu me sentia realmente viva, ao contrário do que a bebida causava. – ela fechou os olhos, respirando devagar. – Acho que você não entenderia.

The Patient 193Onde histórias criam vida. Descubra agora