I'm in Canada.

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"Cuidado com o destino, ele brinca com as pessoas." - Meu Novo Mundo - Charlie Brown Jr.

Aqui estou eu, entrando no avião rumo ao Canadá! Procurei pelo meu assento e quando achei, parei um pouco olhando o lado de fora pela janela, agora é realmente a hora de dizer adeus. Me sentei e continuei olhando, pensando o quão inacreditável isso é, o quão inacreditável é ter que dar adeus ao que eu chamei de lar por 17 anos.

Nunca tive que me adaptar a nenhum outro lugar que não fosse aqui na Califórnia, e agora eu estou tendo que deixar tudo para trás. Meus amigos, parentes, minha casa, minha escola, tudo! Triste não é a palavra que me definiria agora, porque não estou completamente triste por ter que ir, em partes estou feliz pelos meus pais conseguirem abrir a empresa deles aqui, eles estavam tentando expandir a empresa há tempos, só não sabia o quanto isso mudaria a minha vida.

Acabei pegando no sono e acordei com a minha mãe me chamando avisando que tínhamos chegado. Desci do avião sentindo o sol bater em meu rosto, o clima estava gostoso. Um sócio do meu pai nos buscou no aeroporto e fomos para casa. Meus pais passaram meses planejando essa mudança, vendo casas e analisando preços. Chegamos em casa e começamos guardar nossas coisas. A casa era exatamente como nas fotos, linda e espaçosa, claro que ainda estava sem toda a mobília, mas o que tinha já dava pra ter uma noção de como ficaria quando estivesse toda pronta.

Depois de uma semana arrumando a casa e fazendo todo o processo de mudança, acho que é finalmente a hora de sair para conhecer algumas coisas na cidade, afinal, ouvi falar muito bem de Toronto.

Saí de casa e estava fechando a porta quando escutei alguém falando "olha a vizinha nova" e olhei automaticamente para onde tinha vindo. Era um grupo de meninos sentados na calçada de uma casa. Eles me olharam assustados e deram um tapa na cabeça de um menino que estava com a mão na boca como quem dizia "falei alto demais", ri fraco e continuei andando. Fui em direção a uma praça que tinha ali por perto, e realmente, tudo aqui parece lindo, ainda mais no verão onde tudo tem mais cor. Fiquei um pouco na praça olhando umas crianças brincarem e resolvi voltar. Parei pra comprar um refrigerante e segui em direção a rua da minha casa.

Quem diria, eu que prometi estar sempre ao lado dos meus amigos, estou agora andando pelas ruas de Toronto, à quase 3.000 quilômetros de todos eles. Eu sei que "estar ao lado" não necessariamente significa fisicamente, mas eu não posso deixar de fazer um drama, né. E agora eu vou começar uma nova vida, completamente nova. Escola nova, novos amigos, nova rotina... Não vai ser fácil entrar em uma escola nova logo no último ano do ensino médio, onde provavelmente as turmas já se conhecem há tempos, mas não é impossível. Tenho 17 anos e preciso aproveitar tudo o que posso viver aqui, não posso me prender à quem eu "deixei" na Califórnia, pois sei que todos vão continuar normalmente as suas vidas e sei que torcem para que eu me dê bem aqui. Saindo dos meus pensamentos e voltando para o carro que quase me atropelou. Espera! O quê?!?!

- Presta atenção por onde anda! Tá no mundo da Lua, menina?! - o homem do carro gritou para mim e eu o olhei assustada.

- Desculpa, moço! - gritei e saí do meio da rua. Parei na calçada olhando o estado da minha roupa e ri percebendo que meu refrigerante caiu todo nela, droga!

Olhei em volta pra ver se alguém tinha visto esse desastre (aquele típico olhar que todo mundo dá depois de pagar mico) e, claro, muita gente viu. Aquele grupinho de meninos ainda estava na rua, e eu só queria saber onde enfiar minha cabeça de tanta vergonha que senti quando percebi que eles vinham na minha direção. Dei um sorrisinho fraco querendo dizer "eu tô bem, obrigada, não precisam ver isso de perto" e então eles chegaram.

- Você tá bem? - um menino moreno perguntou sorrindo e me analisando.

- Tirando que a primeira impressão que vocês vão ter de mim é que eu sou um completo desastre, eu estou ótima, e vocês? - falei rindo um pouco e olhei para minha roupa que era branca e agora estava marrom. - Meu Deus! Olha meu estado!

- Não tá tão ruim... - um menino loiro falou devagar - É... talvez esteja um pouco ensopada, mas não tá tão ruim. - ele disse sorrindo.

- Ah, obrigada! - falei meio irônica.

- Hum... eu sou Gabriel. - o mesmo disse.

- Anthony. - o moreno que falou comigo primeiro se apresentou.

- Sou o Matt. - um branquinho dos cabelos pretos seguiu o ritmo.

- Arthur. - um outro menino falou e acenou.

- E eu sou o Logan. - um outro menino moreno falou risonho.

- Prazer, Julie. - sorri. - Olha, eu até cumprimentaria vocês direito e ficaria mais, só que eu preciso ir trocar de roupa - mostrei mais uma vez minha roupa toda molhada.

- Ah, poxa, tá calor mesmo. - Gabriel disse me zoando, arqueei uma sobrancelha e ele riu. - Tô brincando, vai lá!

- É, sem problemas, a gente ainda vai se ver muito por aqui. - Arthur disse.

- Ok, tchau meninos! - falei sorrindo e segui em direção à minha casa.

Não foi tão vergonhoso como achei que seria.

Entrei em casa já sentindo o refrigerante secando e pregando na minha pele, fui direto para o banheiro. Tomei banho, e continuava rindo lembrando do que aconteceu. Saí do banheiro, me troquei e abri a janela do quarto, me deparando com uma outra janela e o Arthur mexendo no celular dentro do quarto, "a gente ainda vai se ver muito por aqui" o que ele me disse passou pela minha cabeça. Ou ele mora aí, ou é a casa de algum dos meninos.

É muita sorte logo de cara conhecer pessoas legais, tudo bem que não foram nem dez minutos de conversa, e eu não "conheci" nenhum deles, mas a primeira impressão que eu tive é que eles são muito legais. Poderiam ter me zoado pelo ocorrido, mas foram ver se estava tudo bem. Deitei na cama com um único pensamento: Meu primeiro dia na cidade nova, apesar de desastroso, foi legal.

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