Após a nomeação de Yann como o novo "Pastor", várias reuniões ocorreram, mesmo que sua presença, naquele momento, só representasse mais uma pessoa à mesa de reunião, mas isso o deixará cansado ao raiar o dia. Ele não conseguia entender como havia tantas coisas a serem avaliadas, como haviam tantos pontos ao redor da vila que não conhecia e como haviam tantos problemas necessitando de resoluções.
Nos mais profundos pensamentos de Yann, um momento ele sabia que acabaria se tornando o "Pastor", e isso aconteceria quando encontrasse a mulher de sua vida, quando juntos construíssem uma família e quando seu pai estivesse bem velhinho não mais podendo exercer tão competentemente a função que lhe cabia.
Mas os eventos mudaram, uma grande responsabilidade estava agora sobre seus ombros, e o raiar de um novo dia veio cobrar seu preço. Ele via sua casa aparecendo no horizonte, já que não ficava tão longe da Casa Central, local onde agora seria sua principal "morada". Não demorou muito, mas a caminhada com seu pai, que agora estava um pouco mais leve, um pouco menos atarefado, mas tão preocupado como durante as reuniões foi algo que ele apreciou bastante. Há semanas que eles não mais estavam tendo um tempo de pai e filho, e pelo menos a caminhada, já ajudava a unir mais esses laços que eles tanto prezavam.
Seus Pokémons os acompanhavam, interagindo entre eles, já que por sempre estarem juntos, desenvolveram uma relação de parceria também muito grande, como grandes amigos, irmãos. Ao chegarem a frente, Yann observou a bela casa perolada, sendo recebido por um belo jardim bem cuidado e com lindas espécies de flores das colorações mais variadas, banhadas pelas gotas de orvalhos da noite anterior, exalando um cheiro doce e suave, muito agradável ao olfato e bem característico da mãe do garoto.
O dia não estava com um lindo sol raiando, na realidade, demonstrava uma aproximação de tempestade no meio do caminho, nuvens negras e carregadas estavam se formando e os raios de sol singelos eram escondidos por elas.
Ao entrarem na casa, os dois caíram sob a cadeira da sala e foram bombardeados de perguntas por Paola, a mãe de Yann e esposa de Wilson, uma mulher atraente, com 40 anos e muita garra para conseguir aquilo que deseja, e no momento, ela queria muito saber tudo que estava acontecendo e, porque, seu marido e filho não haviam dormido em casa.
Ela perguntou sobre os comentários que rolaram na noite anterior por toda a vila e demonstrou indignação por não poder comparecer às reuniões e por Wilson ter feito Yann participar das decisões, nas quais ela sabia que necessitava de muita experiência e responsabilidade, dois fatores que faltavam em muitos momentos para o garoto, já que seu impulso de aventura sempre falava mais alto.
Eles então passaram um bom tempo descansando e explicando a Paola tudo que havia acontecido, desde os problemas com os Tauros, a morte do Oddish, até a nomeação de Yann como Pastor, o que a deixou mais preocupada e orgulhosa. Chamando Wilson de inconsequente e desejando a Yann toda a sorte do mundo, entre choro e lágrimas.
Paola não deixou a conversa morrer naquele momento, e levou os dois para a cozinha, da qual exalava deliciosos odores proporcionados pelo delicioso café-da-manhã que ela havia preparado.
– Já que eu não pude estar na reunião, pensei que vocês pudessem estar com um pouco de fome. – Olhando de soslaio para os dois, aproximou-se do seu companheiro Jigglypuff, um Pokémon com pelos belissimamente cuidados, de uma coloração rosada brilhante e grandes e carismáticos olhos azuis turquesa.
Os pratos de massas e cereais estavam exalando aromas acentuados por toda a cozinha e as frutas estavam com cores que aumentavam a sua possível suculência, adoçando ainda mais o seu sabor. Os legumes, cozidos perfeitamente ao ponto, não ficaram moles ou duros demais, estando no ponto exato, além do delicioso suco de mistura de frutas que somente Paola sabia como realizar, uma mistura de frutas vermelhas, com gosto bem distinguível de acerola, morango e maçã, entre outros.
Os Pokémons ficavam em um local separada da cozinha, porém dentro da casa e se alimentavam com rações tão gostosas quanto comidas humanas, às vezes sendo compartilhada, tanto a ração, quanto a comida, pelas duas espécies de seres vivos da casa. A relação entre eles sempre foi muito próxima, os Pokémons possuíam banheiros dentro da casa voltados especificadamente para aqueles que apresentassem características humanóides e aqueles com anatomia diferenciada, poderiam utilizar os arbustos na parte posterior da casa, que eram "adaptadas" e com fossas para dejetos dos Pokémons.
Após o jantar, Yann se despediu dos pais, com um caloroso "Boa noite" e abraçou o pai, que o retribuiu de forma tão intensa quanto o primeiro, seguindo para abraçar a mãe que se derramava em lágrimas quando ela o beijou na bochecha.
– Meu filho, que você tenha toda a proteção que os grandes Pokémons possam te propiciar e espero que seu pai, ...– olhando de forma ameaçadora e fixa para Wilson, que, se fosse qualquer outra pessoa que não tivesse convivido por mais de 20 anos com essa mulher, teria perdido o rumo do que estivesse fazendo pelo medo que tal olhar provocava –... possa te dar o apoio tão necessário nesse momento. Que ele não deixe o fardo que tantas vezes ficou somente sobre as costas dele se acumularem na sua.
– Não se preocupe mãe – Yann respondeu, se desvencilhando da mãe, e pegando a caixa com o Selo de Celebi que eles haviam trazido e colocado em uma pequena mesa aos pés da escada, e dirigindo-se ao seu quarto falou: – meu pai ficará como Pastor "interino", até eu conseguir toda a responsabilidade que esse cargo necessita.
Chegando ao quarto, colocou a caixa sobre seu criado mudo, e Charmeleon acomodou-se próximo da caixa, para protegê-la, enquanto Yann se despia para tomar um banho, no qual passou uns bons quarenta minutos quente e relaxante, graças as chamas do Charmeleon, que fervia a água e deixava todo o banheiro coberto de névoa. Sua cabeça não parava de repetir toda a história que seu pai havia contado e imagens, como que retiradas de algum local, e não criadas em sua cabeça, graças a riqueza dos detalhes, começavam a ser geradas na sua mente, o mostrando como deveria ser o mundo fora da Vila Serena e como o céu parecia ameaçador e temível.
Ao voltar para o quarto, o Charmeleon que estava sento ao lado do compartimento do banheiro estava brincando como um Eevee, com uma pequena garra negra, de um lado para o outro, parecido com uma bola de fios de lã. Yann vestiu-se para dormir e sentou-se do lado do seu companheiro, o acariciando na nuca, o que fez as chamas de sua cauda eriçar. Ele pegou nos seus braços o Selo de Celebi e o fica avaliando, percebendo que os olhos do seu Charmeleon também o seguiam. "Quanta responsabilidade, quanto peso esse pedaço de pano pode possuir" pensou durante alguns momentos. Por um momento, enquanto passava o selo entre seus dedos, ele sentiu um pequeno formigamento, como se este estivesse respondendo ao seu toque.
Deitou-se, com o fundo musical do barulho intenso da chuva que começava a cair lá fora, sendo precedida de não muito raros clarões distantes que se espalhavam por todo o céu. Ele quebrou o protocolo que tanto estimava, o registro de seus sonhos no diário noturno presente na cabeceira de sua cama, que durante tantas noites foram anotados após acontecer, dessa vez teria um registro antes do sono chegar, um registro que não saia de sua cabeça. Pegou então uma pequena pena, molhou na mistura negra que promovia a impressão dos movimentos na folha de grosseiro papel e colocou a seguinte frase:
'Obrigado Celebi, ótimo, sou o "Pastor", e agora?'
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Ruína Pokémon
General FictionUma vila minúscula é governada pelo "Pastor", um governante bondoso e carismático, que administra muito bem seu povo, mas eventos perturbadores começam a ocorrer com os Pokémons que viviam pacatamente com os habitantes, e um grupo de expedicionários...