Três

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Nicolas




A casa estava totalmente vazia quando pus meus pés nas escadas e desci até a sala, logo adentrando à sala de refeições onde o café estava posto e uma das empregadas saía sorrateiramente para a cozinha. Era assim sempre que vovô saía cedo para a sede da M. Collwin, como costumava fazer nos dias que não ia caminhar. Um suspiro pesado escapou dos meus lábios, enquanto sentava na cadeira que sempre ocupava, imaginando como seria ter uma refeição com o vovô. Nossos dias ultimamente andavam extremamente corridos de modo que nos encontrarmos em horas como esta, era muito raro.

Lembranças de anos atrás ── assim que passei a morar com ele e a vovó e não passava de um adolescente sem compromissos e obrigações ── lampejavam em minha mente, lembrando-me de como aqueles momentos faziam falta. De como éramos felizes nos pequenos detalhes e eu ao menos dava o merecido valor àquilo.

── Tem alguma coisa que queira pedir? ── a voz estranhamente grave de Dora chamou minha atenção. Ela era a primeira pessoa que aparecia naquela manhã.

── Não. Na verdade não estou com fome ── dispenso seus serviços com um pequeno sorriso forçado e levanto-me de onde estava. ── O que o vovô disse?

Coloco a cadeira em seu lugar, diante da comida intocada na mesa, e espero a resposta ao passo que aliso minhas roupas formais ── tais que eu odiava usar, mas o vovô fazia questão de dizer o quanto eram importantes no local de trabalho ── e esperei a resposta para minha pergunta. Ele sempre designava uma loja diferente na semana para que eu trabalhasse, dependendo de como os negócios andavam.

── Ele disse que lhe espera na sede hoje ── respondeu a governanta, que trabalhava para a família Mendes há mais de vinte anos.

── Obrigado.

Lhe ofereci um aceno de cabeça antes de sair da sala de refeições e subir novamente ao primeiro andar, pegar a bolsa com minhas coisas, sair de casa e dirigir sem muitas complicações até a sede da M. Collwin, que localizava-se na região central da cidade.

Os cumprimentos foram os mesmos de sempre, por todos os funcionários que passavam pelos corredores ou que pegavam o elevador para o segundo andar. Nenhum deles tinha intimidade o suficiente comigo, dado que eu nem sempre era designado a trabalhar na sede, a não ser por um único funcionário. Ryan Borges, um dos meus melhores amigos, tal qual cursava Administração na mesma faculdade e exatamente na mesma turma que eu.

── Acho que você está atrasado ── ele disse antes de qualquer cumprimento, surgindo bem atrás de mim com uma caixa de porte médio em mãos. Um sorriso brincalhão adornava seu rosto barbado e em um movimento rápido, ele bateu seus ombros nos meus.

── Essa é a vantagem de ser o chefe ── entrei na brincadeira, fingindo sentir dor onde ele me acertou, acariciando com as mãos.

── Você não vale nada, Mendes ── respondeu sorrindo e parando no corredor, diante da porta branca com o dizer "Secrecy" gravado em dourado.

── Eu sei ── dei de ombros, continuando meu caminho até o escritório do Sr. Wiliam, que ficava na próxima curva do corredor. ── Boa sorte.

Ryan balançou a cabeça afirmativamente enquanto começava a procurar a chave da porta em seu bolso, atrapalhando-se um pouco no processo. Logo mais adiante, a porta do escritório do vovô era aberta por alguém no mesmo instante no qual minhas mão erguida alcançava a maçaneta. Dei alguns passos para trás, arregalando os olhos pelos pequeno susto.

── Ah! Me desculpe! Me desculpe! ── Hirai Mayumi pediu rapidamente, curvando-se em reverências um pouco rápidas demais, como era seu modo de se desculpar com alguém, adquirido no Japão, sua terra natal.

Um Amor CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora