Aquele não era eu.
Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, aquele não era eu. Um garoto frágil que se rendia a uma simples carinha de choro, eu não sou sensível e amoroso a esse ponto com ninguém a não ser o vovô. Era estranho, eu percebi. O trajeto foi pequeno até o banco que outrora eu estava sentado, estávamos em silêncio, a pequena garota comia sorrindo, ela era um anjo. Sua mãe estava tensa ao meu lado e olhava para a garotinha o tempo todo. Respirei fundo.
- Está gostando do algodão-doce pequena? - ela me olha meio espantada e depois desvia aqueles olhos lindos pra mãe, como se pedisse autorização, então me oferece um lindo sorriso.
- Está delicioso! - ela responde animada. Não consigo evitar meu próprio sorriso, sua mãe também não.
- Que tal você comer outro? - mostrei o quarto doce que segurava. Ela o analisou, a alegria estampada em suas feições delicadas, depois olhou em volta do parque.
- E se eu der ele aquela menina que não tem? - ela apontou para a garotinha que brincava sozinha, triste. Minha boca se abriu em espanto.
- Eu acho que... quer dizer, claro! Claro que pode - o anjinho pegou o doce e correu feliz para a outra garotinha. Olhei para a mulher ao meu lado que estava tão encantada quanto eu. Uma criança que já tem o coração tão bom desde cedo era a coisa mais incrível do mundo. Com certeza a mulher ao meu lado era uma ótima mãe.
- Ela é linda e muito inteligente - comento baixinho. A mulher suspira.
- Ela é incrível - o orgulho estampado em seu rosto deixou tudo muito claro. Ela amava aquela pequena mais que a si mesma - Você... você não precisava fazer isso.
- Isso o que?
- O algodão-doce - ela estava tão tímida que mal a escutei. Sua voz era suave e dolorosamente doce aos ouvidos. Olhei em direção às garotas que agora brincavam felizes juntas.
- Eu disse que não gosto de comer sozinho - repeti minha desculpa. Era única que eu tinha, até pra mim mesmo.
- Olha. Eu acho que você se preocupar é legal mas... mas eu não sou o tipo de pessoa que você deveria estar. Nem falar... Nem...
- Ei - chamei sua atenção, seus lindos olhos se encontraram com os meus - Eu me importo com quem eu quiser e eu não quero que se sinta inferior. Você é igual a todo mundo, se não for melhor que eles. Entende? - ela respirava com dificuldade. Merda. O que eu fiz?
- Eu... Eu preciso ir - seu rosto estava vermelho e os olhos tão brilhantes que achei que ela iria chorar. Ela levantou-se e foi buscar a garotinha que me deu tchau antes de ir embora.
Que idiota. Acabei de assustar uma garota que nem mesmo conhecia. Nem ao menos perguntei seu nome. De novo.
Mas não importava. Ela provavelmente tinha um marido lhe esperando em casa, fosse ele legal ou não, o problema não era meu. Ela mesma deixou isso muito claro. Soltei o ar que nem sabia que segurava. Idiota. Idiota. Idiota!
Minhas mãos foram em direção ao meu cabelo segurando-o com voracidade, alguns fios a menos não me faria tão mal quanto eu já estava me sentindo. Joguei o palito do doce que terminara de comer e levantei do banco, dois pontos pequenos ainda caminhavam rua a fora, bem longe, meu olhar as seguiu e observou até que elas dessem a volta na rua. Eu não podia me sentir mais idiota.
Voltei pra casa caminhando devagar, tentei não pensar em nada que envolvesse olhos azuis ou cabelos longos e pretos e sedosos e .... Droga Nicholas.- Está se sentindo bem? - alguém me perguntou do nada. Olhei pros lados confuso. Eu estava em casa, na minha sala, mais especificamente ao lado da porta de entrada nem totalmente dentro nem fora, com a mão ainda na maçaneta. Elizabeth estava ali, talvez ela que tenha falado comigo, ou talvez meu avô que observava tudo de longe. Como eu havia chegado ali... Não fazia idéia...
Eu entrei e fechei a porta atrás de mim em silêncio. Olhei de um para o outro sem conseguir enchergá-los realmente. Eu estava mesmo péssimo.- Eu preciso subir - anunciei pra ninguém em especial, meu avô não falou nada e desapareceu pelo corredor, a garota encostada no sofá acompanhou meus passos até as escadas.
- Nós precisamos conversar Nick - ela falou. Então eu parei. Tão subtamente que ela esbarrou em minhas costas e quase rolou escada abaixo. Dei apenas um segundo para que ela se estabilizasse.
- Estou ouvindo - falei, ela piscou aturdida - Fale o que quer.
- Eu... Nicholas eu quero pedir desculpas. Por como eu tratei seu avô naquele dia - pelo menos ela foi direto ao ponto. Me recostei no corrimão de madeira polida cruzando os braços - Eu não queria dizer aquilo. Eu juro.
- Tudo bem. Está desculpada. Agora pode ir embora - continuei subindo as escadas e cheguei ao andar de cima.
- Nicholas! - ela me seguiu até lá em cima, sua saia minúscula subindo ainda mais pelas coxas, ela parou a pouco menos de um metro de distância - Vamos acertar as coisas.
Sua voz era um mero sussurro, com um tom sedutor e uma pontada de malícia. Ela caminhou até mim sem se importar em baixar o tecido da saia e eliminou qualquer espaço entre nós, sua mão acariciou meu rosto e depois o pescoço e continuou descendo até a barriga e... segurei seus pulsos com raiva, nossas respirações tensas se entrelaçando.
Eu pensei em afastá-la de mim e por Deus, se eu não o fizesse agora, não conseguiria mais. Eu precisava entrar naquele quarto a tão poucos metros e tomar um banho frio e colocar a cabeça no lugar. Eu precisava esquecer aquela garota e parar de me importar. Mas talvez sozinho eu não pudesse... talvez eu não fosse capaz sozinho...
Puxei Elizabeth tão rápido que mal senti o impacto de seu corpo contra o meu, seus lábios estavam nos meus antes que eu pudesse piscar, me beijando como um furacão, nos movemos pelas paredes até a porta do quarto sem nos desgrudarmos um segundo sequer, as mãos em todo lugar. Suas pernas envolveram minha cintura e eu a carreguei até a cama. Devagar... seria dolorosamente devagar.
E eu tinha certeza que após isso eu iria esquecer de tudo.♡
♡
- "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus"
- Romanos 12 ; 2
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Um Amor Cristão
Teen FictionNicolas é jovem, bonito, rico e cercado de pessoas que se dizem amigos, porém, apesar de ter tudo que deseja, há um vazio em seu peito, um buraco que lhe consome aos poucos. Era algo que ia além do que seu dinheiro podia curar. Seu avô era o único m...