02 - Styles.

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A noção de tempo é algo muito vago, demasiado vago até. Existem alturas em que parece que não temos mão no tempo, e que este voa e foge sem pedir permissão. Geralmente, isso acontece quando nos estamos a divertir ou a divagar em pensamentos. Por outro lado todos temos aqueles dias em que a vontade de partir todos os relógios do mundo é imensa, pelo simples facto de que o tempo parece simplesmente não avançar. E quando dormimos então, é algo assustador, num momento estamos acordados a viver - ou a pensar que estamos a viver-  o momento, e o no seguinte tudo se apaga e quando acordamos passaram horas, horas pelas quais nem nos demos conta.

E era mais ou menos assim que eu estava.

Juntamente com uma dor horrível nas costas vinham um milhão de pensamentos e perguntas ao mesmo tempo, querendo-me localizar mas falhando miseravelmente. Onde é que eu estava? Que horas eram? O que tinha acontecido? Estava viva? Estava morta? Que chão era aquele? Porque é que estava tão escuro? Como é que eu tinha ido ali parar?

E, em segundos tudo me atingiu, fazendo o meu corpo congelar por completo.

A fuga, a casa, o pão, acordar, vozes , vozes-duas vozes, lixo, contentores, soldado, corpo congelado, preto, tudo preto.

O soldado.

Tinha sido ele. A minha única pergunta era " Porquê?". Será que ele achava que eu tinha algum tipo de informações para o exército ou que andava em busca de informações para entregar ao estado irlandês? Se assim fosse a intuição do homem tinha falhado miseravelmente.

A minha atenção foi para uma porta que se abria, iluminando brevemente o local, que até então se encontrava completamente às escuras.

Engoli em seco, recuando em reflexo e batendo com as costas numa parede.

Ao olhar para a porta senti todo o meu corpo arrepiar-se ao identificar um corpo. Um corpo bastante músculado, com mais ou menos metro e oitenta ou noventa. Lágrimas formaram-se nos meus olhos, demonstrando todo o medo que eu sentia, embora essas lágrimas nunca tenham chegado a descer pelo meu rosto.

Eu sabia que estava completamente morta, bastava mais um movimento e não duvidava que ele iria usar a arma que tinha à cintura para deixar o meu corpo estendido naquele chão.

- O que és? - O homem pronunciou-se fazendo-me arquear uma sobrancelha em completa confusão.  Era ,como eu já esperava, o soldado com a voz rouca e indiferente.

- Ahn, e-eu - tentei responder pois o medo venceu qualquer promessa de silêncio que tivesse feito mentalmente.

- Eu não tenho muita paciência, sou sincero, mas antes de te matar quero sabem quem ou o que és? - ele disse impaciente pegando na arma.

O meu coração parou por breves segundos, estava confirmado. Era o meu fim.

- Não.. Não sou ninguém - disse e ouvi o som do gatilho a ser pressionado - Eu não sou ninguém mas tu definitivamente pensas que sou alguém caso contrário esta conversa não estaria a acontecer, mas a tua intuição falhou completamente pois não passo de um fugitiva de guerra. - disse com toda a coragem que ainda possuía, já presumindo que aquelas seriam as ultimas palavras que se ouviriam da minha boca.

- Não acho que sejas ninguém além de um monte de ossos com um sotaque horrível - O Rapaz disse, oferecendo-me uma expressão de nojo,  só então eu pude reparar no seu maxilar exageradamente definido.

Encolhi-me mais ao que ele moveu a arma pensando que a iria disparar, sendo surpreendida pela mesma sendo abaixada e o seu corpo aproximar-se mais do meu, claramente esperando por uma resposta.

Ele estava a gostar daquilo, ele estava a gozar com a minha cara para depois me matar.

- Eu até posso ser um monte de ossos mas se o sou é graças a pessoas como tu e todos os teus amiguinhos e toda esta vossa palhaçada. Diz-me logo o que queres de mim, caso contrário o trabalho de me trazeres até aqui foi completamente em vão - Atirei rolando os olhos, mesmo sabendo que ele não iria ver. Eu só queria sair dali, cheirava a mofo e suor e a presença daquele soldado incomodava-me.

Soldier Heart. | H.S || A RESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora