A noção de tempo é algo muito vago, demasiado vago até. Existem alturas em que parece que não temos mão no tempo, e que este voa e foge sem pedir permissão. Geralmente, isso acontece quando nos estamos a divertir ou a divagar em pensamentos. Por outro lado todos temos aqueles dias em que a vontade de partir todos os relógios do mundo é imensa, pelo simples facto de que o tempo parece simplesmente não avançar. E quando dormimos então, é algo assustador, num momento estamos acordados a viver - ou a pensar que estamos a viver- o momento, e o no seguinte tudo se apaga e quando acordamos passaram horas, horas pelas quais nem nos demos conta.E era mais ou menos assim que eu estava.
Juntamente com uma dor horrível nas costas vinham um milhão de pensamentos e perguntas ao mesmo tempo, querendo-me localizar mas falhando miseravelmente. Onde é que eu estava? Que horas eram? O que tinha acontecido? Estava viva? Estava morta? Que chão era aquele? Porque é que estava tão escuro? Como é que eu tinha ido ali parar?
E, em segundos tudo me atingiu, fazendo o meu corpo congelar por completo.
A fuga, a casa, o pão, acordar, vozes , vozes-duas vozes, lixo, contentores, soldado, corpo congelado, preto, tudo preto.
O soldado.
Tinha sido ele. A minha única pergunta era " Porquê?". Será que ele achava que eu tinha algum tipo de informações para o exército ou que andava em busca de informações para entregar ao estado irlandês? Se assim fosse a intuição do homem tinha falhado miseravelmente.
A minha atenção foi para uma porta que se abria, iluminando brevemente o local, que até então se encontrava completamente às escuras.
Engoli em seco, recuando em reflexo e batendo com as costas numa parede.
Ao olhar para a porta senti todo o meu corpo arrepiar-se ao identificar um corpo. Um corpo bastante músculado, com mais ou menos metro e oitenta ou noventa. Lágrimas formaram-se nos meus olhos, demonstrando todo o medo que eu sentia, embora essas lágrimas nunca tenham chegado a descer pelo meu rosto.
Eu sabia que estava completamente morta, bastava mais um movimento e não duvidava que ele iria usar a arma que tinha à cintura para deixar o meu corpo estendido naquele chão.
- O que és? - O homem pronunciou-se fazendo-me arquear uma sobrancelha em completa confusão. Era ,como eu já esperava, o soldado com a voz rouca e indiferente.
- Ahn, e-eu - tentei responder pois o medo venceu qualquer promessa de silêncio que tivesse feito mentalmente.
- Eu não tenho muita paciência, sou sincero, mas antes de te matar quero sabem quem ou o que és? - ele disse impaciente pegando na arma.
O meu coração parou por breves segundos, estava confirmado. Era o meu fim.
- Não.. Não sou ninguém - disse e ouvi o som do gatilho a ser pressionado - Eu não sou ninguém mas tu definitivamente pensas que sou alguém caso contrário esta conversa não estaria a acontecer, mas a tua intuição falhou completamente pois não passo de um fugitiva de guerra. - disse com toda a coragem que ainda possuía, já presumindo que aquelas seriam as ultimas palavras que se ouviriam da minha boca.
- Não acho que sejas ninguém além de um monte de ossos com um sotaque horrível - O Rapaz disse, oferecendo-me uma expressão de nojo, só então eu pude reparar no seu maxilar exageradamente definido.
Encolhi-me mais ao que ele moveu a arma pensando que a iria disparar, sendo surpreendida pela mesma sendo abaixada e o seu corpo aproximar-se mais do meu, claramente esperando por uma resposta.
Ele estava a gostar daquilo, ele estava a gozar com a minha cara para depois me matar.
- Eu até posso ser um monte de ossos mas se o sou é graças a pessoas como tu e todos os teus amiguinhos e toda esta vossa palhaçada. Diz-me logo o que queres de mim, caso contrário o trabalho de me trazeres até aqui foi completamente em vão - Atirei rolando os olhos, mesmo sabendo que ele não iria ver. Eu só queria sair dali, cheirava a mofo e suor e a presença daquele soldado incomodava-me.
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Soldier Heart. | H.S || A RESCREVER
Romance"Eu devia matá-la mas, ela matou esse lado de mim"