03- Bath.

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Mudar uma mentalidade é, sempre foi e sempre será complicado, digam o que disserem, façam os estudos que fizerem. Se alguém cresceu e viveu toda ou a maior parte da sua vida com um determinado tipo de educação e conceitos, dificilmente consegue aceitar outros.

Pelo menos era assim que funcionava o mundo em que vivia, era um mundo de pura crueldade. Eram, na sua maioria, jovens adultos,  ensinados desde que aprendiam a falar, que não se devia ter qualquer tipo de consideração pelo outro e que todo e qualquer um que não pertence-se à  família, não prestava, e era, sem dúvida, inferior.

Lembro-me de em mais nova ter ouvido a minha mãe falar-,me nos dias de ouro, em que toda a gente se respeitava, que se aceitavam todas as etnias e orientações sexuais e que se repugnava quem não o fazia,  até que chegou a um ponto em que o mundo enlouqueceu e, de repente, todos se achavam melhores e superiores por serem, diferentes, mesmo não passando de umas cópias uns dos outros. Foi desde então que a sociedade se foi deteriorando, e o que era toda uma comunidade feliz e respeitadora virou um jogo de cada um por si numa busca desesperada de auto-afirmação .

E era mais ou menos numa situação desse género que se encontrava a maioria da Europa e talvez do mundo. Numa constante guerra para provar quem era o melhor.

Eu sentia-me cansada, o meu corpo doía e eu simplesmente não entendia porque é que ainda não tinha desistido. O meu corpo parecia queria continuar juntamente com o meu coração, esperançoso que um dia tudo fosse acabar, mas, por outro lado o meu cérebro simplesmente me incentivava a desistir relembrando-me constantemente de que, mesmo que tudo acabasse, e a paz retorna-se, provavelmente eu já não estaria cá para ver.

A minha cabeça permanecia até então encostada à parede deteriorada daquele local, que emanava um intenso cheiro a mofo e podridão,  um turbilhão de pensamentos invadiam a minha cabeça fazendo-me sentir como se estivesse a enlouquecer.

A horas passavam, não eram certas quantas já tinham chegado e partido desde que ali estava fechada, o relógio na parede deixava-me com vontade de cortar as orelhas e o frio que ali estava fazia-me querer arrancar a pele.

Os meus olhos fechavam-se e eu forçava-me a  imaginar uma noite estrelada e serena, sem tiros, guerras, medos ou terror. Imaginava o sol, a nascer nas montanhas e a despedir-se nos mares gelados,  que, em tempos tanta felicidade me proporcionaram. Era triste dizer, mas aquela cave, por mais estranho que soasse, dava-me uma certa paz e sossego, eu sabia que não tinha de fugir mais, morresse ou vivesse dali não tinha como sair. Desesperar era apenas um inútil gasto de esforços.  Sinceramente nem o queria realmente fazer, não existiam mais forças para tentar. O que tivesse de acontecer, aconteceria.

E realmente nada do que é minimamente bom ou agradável dura muito, pois, talvez menos de um dia após me ter deixado ali, Styles voltou. Com a sua farda suja e gasta e a sua postura impassível, típica de um soldado que não se importa minimamente com ninguém, talvez nem consigo mesmo.

O seu rosto parecia mais pesado e a sua expressão permanecia indecifrável, não eram possível ser identificados nenhum tipo de sentimentos ou emoções.

Os meus olhos arderam pela luz, que entrou repentinamente fazendo-me acordar do transe em que tinha permanecido todas aquelas horas.

- Vejo que ainda estás viva, não pensei que estivesses. - disse num tom seco, dando de ombros - Mas é melhor assim, dá para ver do que és capaz. - esboçou um sorriso carregado de sarcasmo.

- O que é que queres? - Inquiri com a voz a falhar devido ao tempo que esteve sem uso.

- Divertir-me, anda. - Disse, aproximando-se e fazendo-me encolher por reflexo.

Soldier Heart. | H.S || A RESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora