23. Ready to fck.

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OBRIGADA POR ESPERAREM.

ENJOY ;)


A viagem dolorosamente comprida até Carolina do norte fora, sem qualquer espaço para dúvidas, a experiência mais desconfortante pela qual alguma vez passei. Foram, posso arriscar dizer, horas de puro sufoco.

O medo corria toda e qualquer artéria e veia de existisse no meu corpo fruto de um grande receio do que estaria para vir assim que pusesse pés em terra.

O meu cérebro, contudo, via os seus pensamentos, maioritariamente sobre o que poderia ter acontecido com Harry, interrompidos pela junção mortífera de uma criança birrenta à volta de seus três anos, com um senhor obeso com problemas nasais que fazia claros os seus problemas de respiração a todo e qualquer passageiro daquele embarque.

Tentei, por mais do que uma vez, abstrair-me. Porém, sempre que os meus olhos se fechavam tudo o que eu podia ver eram imagens do imbecil soldado. Imagens, opostas da realidade do presente, ao que eram correspondentes a agradáveis de momentos de ternura que ele me havia proporcionado. O seu toque era tranquilizante para mim, talvez por ter surgido num momento de tão grande necessidade de afeto, talvez porque era simplesmente o seu jeito de ser, talvez até, quem sabe... porque existia algum tipo de sentimento que nos envolvia numa bolha onde éramos mais do que corpos, aliás, era como se a nossa forma física não importasse porque, no momento em que nos tocávamos era a nossa alma que se envolvia.

Fora então que me apercebei no quão afundada eu estava numa imagem, talvez excessivamente, romantizada de Harry. Tinha sido esse, o meu tão grande erro. Romantizar alguém que desprezava o romance.

Harry não era um romantico. E era essa sua falta de delicadeza que tanto me atraia.

A hora da verdade deu-se quando a senhora, com um sotaque excessivamente característico do sul, se pronunciou dizendo que estaríamos prestes a aterrar. Ideia que fora reforçada pela criança que entretanto se tinha acalmado mas que, pelo medo da aterragem tinha voltado ao seu inicial estado de porco histérico.

O meu silêncio continuo fazia a minha garganta doer, e, por bizarro que fosse, provocava na mesma uma infernal e dolorosa secura. Por muito que eu tivesse oportunidade de comunicar, o meu corpo encontrava-se num estado de dormência tal, que as palavras simplesmente não saiam. Respondia então, a qualquer que fosse a pergunta ou afirmação, com um sorriso forçado, um aceno de cabeça ou, até mesmo, um grunhido.

Eventualmente a hora da verdade teve de chegar e eu dei por mim a arrastar os pés pelos corredores infinitos no Aeroporto Internacional Piedmont Triad.

A sensação que vagueava pelo meu estômago vazio era agoniante ao que eu podia ter quase certeza absoluta que ninguém estaria à minha espera para me dar indicações.

Eu estava totalmente sozinha e entregue aos lobos, num local completamente desconhecido.

O que seria de mim no momento em que eu passasse as longas e pesadas portas de vidro que dividiam o que ainda me prendia a Dublin do que seria todo um futuro frio e sozinho.

Podia prever, sem espaço para muitas divagações que se seguiriam dias de mais fome e solidão. Parecidos, portanto, com todos aqueles que passei em tempo de guerra.

Esse facto deixava-me num misto de emoções entre o aterrorizada e o chateada, que mal havia feito eu para acabar em tal situação tão castradora? Eu sentia-me de pés atados. Sentia-me perdida.

Quando por fim me oficializei na zona de saída de passageiros conclui o que temia.

Harry tinha fodido, completamente, a minha vida.

Soldier Heart. | H.S || A RESCREVEROnde histórias criam vida. Descubra agora