Uma vez ouvi um homem dizer que sua vida estava ruim, e só o que lhe dava paz eram suas memórias — tão doces quanto os tempos em que era mais jovem. É, para ele até que pode ser algo bom.
Para mim é uma maldição.
Minhas memórias se sobrepõem umas as outras; cada fase de minha vida em um nível. São tantos anos que chego até a me confundir: "isso aconteceu quando eu era Allison ou quando eu era Margareth?"
A minha história é meio complicada, mas vou tentar contá-la.
Nasci no ano de 1692, talvez na Grécia. Ou Inglaterra. Não me lembro muito bem como era minha primeira família, mas lembro perfeitamente de minha mãe. Algumas vezes ela me chamava para o quarto e começava a dizer palavras que eu não compreendia; só na minha segunda ou terceira vida é que fui entender do que se tratava.
Era magia. Ou bruxaria, chame como quiser. O fato é que, enquanto ela praticava, falando aquelas palavras misturadas e sem nenhum sentido aparente, me atingiu sem querer.
À princípio, ninguém entendera que era uma maldição. Afinal, eu fiquei muito bem — sem hematomas, cabelo arrepiado nem orelhas de burro. Aparentemente normal.
Estava tudo bem comigo até meus dezoito anos. À meia-noite em ponto, eu morri. No dia seguinte, meus pais provavelmente me encontraram morta. O problema é que, naquele mesmo instante, eu nasci novamente, em outra família. Eu tinha outra aparência, outra voz; mas por dentro ainda era a mesma. Ainda tinha minhas memórias.
Eu vivi muito bem na minha segunda família; eram pessoas boas e amáveis. Até os meus dezoito anos, nada podia me matar. Já escapei de muitos acidentes. Menos da meia-noite do meu décimo oitavo aniversário.
Conheci o amor em dez das minhas 17 vidas — as que vivi até agora. Jace, Luke, Taylor, Tyler, Dylan, Thomas, Theo, Ian, Ainden e George. Todos eles roubaram um pedaço do meu coração, e tiveram que viver sem mim. Conviver com um mundo sem mim, assim que fiz 18.
Agora, na minha décima oitava vida — a final, a qual eu devo morrer para sempre — tenho medo do que pode acontecer. Vou perder meu décimo primeiro amor. James. Vou perder a vida, e todas as minhas memórias se apagarão para sempre.
Por anos, isso tem sido o que mais desejo. Poder acabar com todo o meu sofrimento, poder morrer de verdade, sem voltar depois.
E será hoje, à meia noite. Irei parar de respirar, meu coração irá parar de bater, e minha vida escorrerá para o fim eterno.
— Preparada para os dezoito? — James perguntou, esfregando as mãos com expectativa.
Pus minhas duas mãos em seu rosto e o beijei. Quando nos separamos, falei, já com lágrimas nos olhos:
— Falta meia hora.
Ele sorriu.
— É! Meia hora para você poder dirigir!
Seu sorriso deixava tudo pior. Saber que eu o abandonarei. Que eu deixarei as lágrimas escorrerem pelo seu rosto pálido; deixarei o desespero ficar estampado em seus belos olhos azuis, suas mãos tremendo, o coração apertado.
Eu não queria morrer.
20 minutos.
Não queria deixá-lo.
10 minutos.
Faria qualquer coisa para viver minha última vida normalmente.
5 minutos.
Faria qualquer coisa para amá-lo para sempre.
———
Hora da morte: meia-noite.
E aí? Gostou, não foi? Então, o que acha de conhecer melhor a brilhante criatura por de trás desse conto? Sem mais delongas... Apresento a vocês... !
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Deixa Que A Gente Conta
Short StoryGosta de contos? Veio ao lugar certo. Contos de todos os tipos, formas e tamanhos, para todos os gostos e preferências. Contos desde as épocas mais lindas, até as mais amaldiçoadas. Pequenas histórias grandiosas, sobre natal, amor, assassinatos, tem...