Verdade, parte um

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Há três semanas eu não via Peter. O vi pela última vez quando fui presa, o vi da pior maneira que poderia ter visto: desesperado, chorando e furioso, tudo isso por minha causa, mas não tinha jeito melhor de conta-lo. Confesso que de certo modo esperei alguma compreensão da parte dele, mas não o culpo por não ter compreendido, sequer conversamos e a única coisa que lhe disse foi desculpas o que no caso, não era a coisa certa a se dizer. Não sabia onde estava, se ainda estava na S.H.I.E.L.D., se sequer estava em Nova York, mas não podia fazer nada para saber, afinal, estava na cela sem conversar com ninguém.

Apenas dormia e comia naquela sela, eram os únicos momentos em que me movia para algum canto. Ficava sozinha a maior parte do tempo, com todas as celas á meu redor vazias e preferia daquela maneira. Os únicos momentos em que via alguma alma viva era quando algum segurança vinha me entregar a refeição diária ou então, me encaminhar ao banheiro que não era muito longe dali, mas mesmo assim, era muito raro ter contato com outras pessoas, no meu caso, ter contato com seguranças. Cheguei a perguntar o brutamontes de cabelos loiros e lisos se ele tinha alguma noticia de Peter, mas é claro que ele não tinha autorização para me contar, e mesmo que tivesse, sabia que não me contaria, afinal, eu era uma presa, uma infratora e fiz a pior coisa que algum ser vivo podia fazer: traí a confiança de Fury e mais ainda a de Ália, mas ela era a que menos me preocupava, mas mesmo assim não deixava de pensar em como seria sua amarga vingança e estava preparada para qualquer coisa, não faria muita diferença.

Á essa altura, três semanas após eu ser presa era bem provável que Ália já soubesse do que tinha acontecido comigo e que, principalmente, eu quem tinha desmascarado a Corporação, e por isso não tinha certeza do que ela faria comigo, mas sabia que não sairia imune disso tudo, não tinha ninguém mais ao meu lado, ninguém para me ajudar, era apenas eu e meu conhecimento da Corporação, e por ter passado anos lá dentro, sei o que fazem com traidores, então, antes mesmo de tentarem acabar com a S.H.I.E.L.D. – como o plano inicial – eles acabariam era comigo. E ficar esperando pela morte, não é algo que alguém sonha todos os dias.

Uma única coisa me confortava: meus pais. Não sei para onde irei quando morrer, mas sei que será a minha hora, e quando for embora deste mundo, sei que vou encontrar meus pais e fica com eles durante a eternidade, e isso era o que mais me confortava, mas não, eu não ansiava pela morte, mil e um pensamentos passaram pela minha cabeça de modo que fugisse da ira de Ália, mas nada me parecia bom o suficiente para ganhar, mas é claro que, tentaria até o último segundo.

A única coisa que não suportaria seria ver Peter machucado, pelo menos não fisicamente porque emocionalmente não podia fazer mais nada. Gostaria que ele, principalmente, soubesse que me entreguei por causa dele, que tentei mantê-lo em segurança, porque nunca senti por ninguém o que estava sentindo por ele no momento, e mesmo após três semanas insuportáveis, sem vê-lo, sem ouvir sua voz, sem tocá-lo, o amava cada segundo mais e aquilo me torturava de uma maneira inexplicável, queria chegar até ele e poder explicar tudo, com direito a lágrimas e textos improvisados de amor, mas simplesmente não podia, aquilo não estava á meu alcance, e mesmo que estivesse não acreditava que ele queria me escutar, não depois de todo o ocorrido.

E não tirava sua razão.

Na manhã de terça feira fui chamada por Fury para lhe dar algumas respostas que ainda estavam implícitas, não tive nem chance de negar, simplesmente fui puxada pelo braço por dois seguranças e arrastada até a sala do interrogatório. Não entendi muito bem porque, já que a S.H.I.E.L.D. tinha acesso á qualquer pesquisa e já era para terem descoberto tudo sobre a Corporação, não entendia porque tinham que falar comigo sobre mais alguma coisa, mas como não tinha como dizer não fui obrigada á ir.

Assim que me empurraram para dentro da sala cinza com um vidro escuro vi Fury sentado em na cadeira, com seu sobretudo preto e seu tapa-olho da mesma cor. Ele estava me olhando com sua cara de furioso e mantinha as mãos em cima da mesa, como se estivesse de braços cruzados. Fiquei de pé o fitando e ele apontou com a mão direita para uma cadeira em frente á ele, do outro lado da mesa e apenas me sentei, sem falar uma única palavra, apenas esperando o interrogatório começar.

Never Let Me Go, Peter.Onde histórias criam vida. Descubra agora