13. Nossos pequenos segredos.

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A noite está chuvosa, e parece que quanto mais a Carmen dirige, mais longe estávamos da casa da Leona. Passamos pela praia que ela adorava ficar, fico observando a chuva bater na areia molhada e o mar cada vez mais agitado. Lembro de quando Leona e eu passamos o dia ali, e não havia quase ninguém. Ela estava linda, como sempre. Ela saiu da água com o cabelo molhado, e eu lá, a admirando por quase cinco minutos, sem acreditar que aquela garota era mesmo minha namorada. Por que tudo entre nós tem que ser tão difícil e tão complicado assim?

Encolho meus pés para cima do banco e abraço minhas pernas tentando afastar as memórias boas que só me deixam mal, desejando que toda essa maré de azar passasse logo e tudo voltasse a ser como antes.

Carmen para em frente a casa de Leona, algumas luzes estão acesas. A mulher me olha com um olhar de reprovação. Dá pra perceber que ela acha que isso não é uma boa ideia, mas eu preciso saber o que está acontecendo com Leona. Pego minha bolsa e jogo o capuz da minha blusa pra frente.

— Quer que eu te espere aqui? — pergunta Carmen com um tom de arrependimento.

— Não, qualquer coisa eu arrumo um jeito de voltar pra casa. — murmuro — Obrigada.

— Não demore muito.

Concordo com a cabeça e saio do carro, correndo o mais rápido possível para a parte seca da varanda. Olho para trás e aceno para Carmen,  ela logo arranca com o carro. Respiro fundo e fico quase dois minutos parada olhando para a porta e pensando se devo tocar ou não a campainha. Quando finalmente decido tocar, o diretor Marinn — bom, agora senhor Marinn, abre a porta e me encara surpreso.

— Kali. — diz esticando a mão para me cumprimentar — Que bom vê-la de novo.

— Boa noite, senhor Marinn. A Leona está?

Ele coça a cabeça e dá espaço para que eu entre na casa.

— Entre, quem sabe com você aqui ela come alguma coisa. Ela está lá em cima. — responde gentilmente.

— O que aconteceu com ela?

— Não sei, ela saiu ontem de tarde e chegou essa manhã e desde então está trancada no quarto. Ela não conversa muito comigo. — fez uma pausa e me olhou sério — Não tive a chance de conversar com você pessoalmente depois da tragedia que aconteceu, sobre os documentos do seu pai e da empresa terem sumido. E eu queria dizer que fico muito feliz que você tenha relevado essa situação, ela não fez por mal.

— Sei que não. - respondo calmamente — Somos capazes de fazer loucuras pelas pessoas que amamos.

— Que bom que você entende. — fala — Bom, eu estou de saída, espero que não se incomode. Tem uma bandeja com uma sopa que eu fiz logo ali em cima da mesa, será que você pode levar para Leona, por favor?

— Sem problemas.

— Boa noite, Kali. — se despede abrindo a porta.

— Boa noite, senhor Marinn.

Vou até a mesa de jantar pegar a bandeja e acabo percebendo que tem umas fotos dela quando era pequena em um dos porta-retratos pendurados na parede. Solto um pequeno sorriso ao vê-las, Leona não mudou praticamente nada. Ela sempre teve aqueles olhos cinza enormes e o cabelo com um tom amarelado, quase branco. Vou andando até o quarto dela e a luz está apagada, bato na porta algumas vezes a nada dela se pronunciar, abro a porta com cuidado e percebo que ela está deitada, dormindo!

Coloco a bandeja perto da sua cama e me abaixo, ficando apoiada apenas no meu joelho. A luz do poste da rua atravessava a janela e ilumina um pouco seu rosto, e seu sono está tão profundo que por alguns segundos fico com receio de acorda-la, passo meus dedos lentamente pelo seu cabelo, colocando-os para trás do seu ombro, então ela dá um pequeno suspiro. E com muita sonolência, acaba abrindo os olhos.

Não ouse me deixar | lésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora