Não ouse me deixar | lésbico

1. Insonia

Fecho os olhos e é como se eu estivesse vivendo tudo novamente, cada momento, cada toque, cada beijo e até as fodas malucas que havíamos tido. Nada era o mesmo desde que Leona havia sido presa, não era o mesmo desde que descobri que ela não gosta de mim, e por mais que eu tentasse tirar essa história a limpo, meu pai me proibiu de vê-la depois do que ela fez com a empresa que ele trabalhava.

A imobiliária Sancristovan o demitiu por justa causa depois que os documentos que a empresa tinha para ganhar a causa da demolição da escola sumiram dentro da nossa casa. Tivemos que colocar a casa pra alugar e ir morar em um lugar um pouco menor. Com o aluguel conseguíamos pagar algumas contas e também ajudar a manter nova casa.

A casa não é tão pequena assim, mas em comparação com a outra, é praticamente um ovo. Tem apenas dois quartos — sim, eu divido o quarto com o Daniel - uma sala de estar e outra de jantar, a cozinha e um banheiro. Para nossa sorte, Anthony alugou um apartamento e foi morar sozinho, bem, não tão sozinho assim, Ethan está morando com ele, e de vez em quando ele nos dá uma ajuda quando papai está apertado para seguras às contas sozinho. Carmen conseguiu um emprego em uma agencia de decoração de casamento, o que era a cara dela. Depois de um tempo comecei a incentivar Daniel para encontrarmos um emprego, para ajudar nas contas também, mas a escola atrapalha um pouco.

Por falar em escola, a nossa nova é legalzinha, é  melhor do que qualquer um poderia imaginar e os alunos de lá foram bem mais simpáticos do que os das outras escolas que já estudei em toda minha vida. Pelo menos no quesito escola, minha vida está ótima. Ethan e Daniel estão treinando pra entrar no time de basquete da escola. Fiquei até surpresa quando Dani disse que não tem nada que ele goste mais do que basquete, no principio pensei que fosse só por causa dos garotos pelados dentro do vestiário, mas com o passar do tempo ele provou que realmente entende o que está fazendo.

Nova Iorque na minha antiga escola eu era a capitã do time de handball, e eu era boa naquilo. Quando a treinadora ficou sabendo, perguntou se eu estava disposta a entrar no time, mas eu teria que fazer um teste igual as outras garotas. E isso era uma merda, porque eu sou péssima com testes, mas acabei topando, é melhor do que não fazer nada, e assim eu tinha até uma desculpa para fugir das aulas e para não voltar para casa cedo.

Nossa turminha aumentou. Além de Daniel, Ethan e Megan agora tem Brad e Casey. Brad é um garoto um pouco esquisito, mas Megan se encantou por ele desde o primeiro dia de aula. Eles estão juntos, só que pensam que ninguém sabe, na verdade eles são péssimos atores, então está na cara. Até hoje não me lembro muito bem como Casey conseguiu se enturmar com a gente, ela é muito lerda, tipo, muito mesmo. Só que por algum motivo todos os garotos da escola gostam dela.

Estou deitada na minha cama, olhando para o maldito desenho que Leona havia feito para mim, ele ainda está colado na parede junto com algumas fotos nossas. Eu estava tão perto de conseguir, por que ela não confiou em mim só por mais um tempo? Não estava pedindo algo tão impossível assim. A escola no fim das contas acabou sendo demolida, pois o juiz não iria ajudar o diretor Marinn depois de  descobrirem que foi a filha dele que pichou a imobiliária Sancristovan toda.

Eu sento falta dela, eu confesso. E tudo piora ainda mais quando eu me lembrava das palavras de Olivia "Ela nunca amou você, você era apenas uma pequena distração pra ela conseguir o que queria." Essa cena passava como um loop na minha cabeça. Antes que eu pude me conter, as lágrimas já começam a descer do meu rosto involuntariamente. É horrível. Me levanto com todo o cuidado do mundo para não acordar Daniel, pego meu edredom e coloco em volta do meu corpo e vou pegar o copo de água que está em cima da escrivaninha no nosso quarto.

— Não consegue dormir? — pergunta Daniel ainda deitado em sua cama.

—  Impossível, e os meus calmantes acabaram.