Capítulo 2

57 9 21
                                    

- Entre, por favor. - Pediu ele assim que a porta foi aberta.

Caminhei rapidamente para dentro da sala com minha mãe ao meu lado.

- Samantha, o que você está sentindo?

- Sin...sinto como se não tivesse mais motivos de viver, como se nunca mais fosse ser feliz, só quero ficar na minha cama, não tenho fome, ou vontade de viver como antes. Eu não sei o que está acontecendo. - Esperei por alguma resposta, talvez fosse comum. Mas o silêncio me fez continuar. - Vou contar a história toda.

"Acho que começou quando estava no último ano do Ensino Médio, sempre fui muito boa em tudo, eu simplesmente amava estudar, e por amar estava me dedicando ao máximo possível, afinal, seria meu futuro. Percebia que alguns alunos falavam sobem mim, questionavam minhas notas, mas sempre achei isso normal, afinal, sempre era a melhor da turma. Mas um dia tudo mudou.

- Samantha? - ele era o meu professor favorito na matéria que todos odiavam. Física. - O diretor pediu que te avisasse para ir a sala dele quando acabar o horário, ele precisa conversar com você.

- Tudo bem - respondi. - Irei para lá assim que acabar minha aula. 

A principio não me preocupei, ele sempre me chamava para falar sobre minhas notas, meios de ajudar aos outros alunos e até mesmo sobre o grupo de estudos que estava organizando para um estudo extra ao vestibular, e era um fato que estaria participando, afinal, sempre quis fazer Arqueologia e queria passar em uma faculdade pública, então sempre procurei estudar o máximo possível para passar. No final daquele período fui até a sala do diretor ver o que ele queria falar comigo.

- Diretor? - disse assim que entrei na sala. - O professor William disse que o senhor queria falar comigo.

- Ah, mas é claro. Entre, por favor.

- É sobre o grupo de estudos, não é? Estou tentando convencer  mais alunos da minha sala a participar.

- Não é nada disso, Samantha, preciso conversar com você sobre isso. - Ao dizer isso ele colocou um pedaço de papel branco sobre a mesa, e assim que olhei fixamente li as palavras: "motivos da Samantha ser tão boa". - Já sabia sobre a existência dessa lista?

- Nã...não, senhor.

- Creio que saiba os motivos para isso. Todos se surpreendem com sua inteligencia, é como falei para sua mãe assim que soube. Você deveria ir para uma escola melhor, onde todos têm os mesmos níveis de QI que o seu. Mas a sua mãe sempre disse que você gostava daqui. Que se sentia em casa.

- E-eu me sinto, gosto muito daqui e não quero ir embora agora, o senhor sabe que o ano está prestes a acabar, e logo depois vem a faculdade...

- Eu sei, minha querida. Mas se isso - ele apontou para o papel - continuar, teremos que mudar algo.

- Algo?

- Sim - respondeu ele. - Possivelmente vamos ter que conversar com sua sala, ou até lhe tirar de lá.

Depois disso as coisas se acalmaram por um tempo, não ouvia mais nenhum comentário do tipo, as coisas haviam voltado ao normal, os professores começam a passar lições extras aos que queriam, para se preparar pro vestibular. E claro, eu sempre estava nas listas de alunos que estavam se dedicando cada vez mais para o vestibular. O tempo foi passando quando finalmente chegou Outubro, o mês que faria a prova do vestibular, na verdade foi depois da prova em si, quando mostrei para a professora de português o rascunho da minha redação. Tudo voltou, ainda pior.

Por um momento fechei os olhos, parecia que havia voltado no tempo, era como se tudo estivesse acontecendo novamente, minhas memórias faziam questão de me trazer novamente toda a intensidade da dor que estava sentindo exatamente naqueles dias.

O Último DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora