meeting my problem.

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Nunca pensei que fosse me mudar. Uma mudança mesmo, de sair do país e não do bairro. Sempre achei que fosse morrer no Canadá, e eu gostava disso. Gosto de como o Canadá combina comigo, tudo muito calmo e respeitoso.

Não sou o tipo de "garoto problema". Sempre fui o número um da classe, aquele que só tira notas boas e que respeita todos. Alguns garotos maldosos me chamam de nerd, mas eu não me importo de fato. Gosto de como eu sou, gosto de que a minha família tenha orgulho de mim. Mas parece que tudo mudou.

Agora estou nos Estados Unidos, e não que eu tivesse algum problema com isso ou com o país, mas eu nunca me imaginei de fato morando em Los Angeles. Calor o tempo todo, pessoas baladeiras e legais, garotos bonitos fazendo sexo com garotas bonitas. Isso não combina comigo.

- Shawn! - ouço minha mãe gritar do andar de baixo de nossa nova casa.

Desde que meu pai anunciou, a dois meses atrás, que a sua firma o tinha transferido para cá, eu venho tentando ser um filho melhor. Melhor do que eu já era.

Desço as enormes escadas e a encontro ao pé da porta, com uma caixa em mãos. Pego de sua mão, e devo ressaltar que estava muito pesada, e a coloco junto às outras.

- Obrigada, querido. - ela beija meu rosto.
- Tudo bem, mãe. - respondo.
- Sinto muito que isso esteja acontecendo, principalmente no seu último ano acadêmico. Sei que é difícil uma mudança como essa, e que você vai sentir falta de seus amigos, mas você poderá fazer novos! - minha mãe sempre foi uma pessoa muito otimista, e eu realmente amo isso. Mas depois de ouvir quatro vezes o mesmo discurso, quero muito mandá-la calar a boca.

- Tudo bem, mãe. Além de que não era muitos amigos, só a Nancy.

Nancy é uma garota extraordinária. Eu a conheço desde o primário, quando eu fiz seu trabalho na escolinha. Ela era a garota bonita, e eu seu nerd. Uma boa combinação, se você parar para ver. Nancy sempre me ajudou com tudo.

É engraçada, extremamente bonita, culta, sabe cantar muito bem, vai a igreja todo domingo e nunca faltou ao respeito com os pais. Claro que eu iria me apaixonar. Claro que isso não iria dar certo.

Ela se apaixonou por Josh Kingston, o capitão do time do colégio. Ele e seus amigos eram os que mais me importunavam, mas ela não parecia ligar. Tudo que Josh fazia, ela venerava. Vomitei todo o meu almoço no dia que ela me contou que ele a tinha beijado.

Foi minha primeira dor amorosa. Depois, ela me apresentou uma amiga, bonita até, e nós namoramos por um ano. Mas ela acabou se mudando, então terminamos. Por isso, não posso falar que sou um fracasso total com garotas, graças a Nancy.

Quando Josh tentou convencê-la a transar com ele, ela se negou. Disse que não estava preparada, por mais que quisesse muito que sua primeira vez fosse com ele. Resultado: ele deu um chute nela. Limpei todas as lágrimas que ela derramou, me perguntanto por que garotas legais se apaixonam por garotos maus.

- Ah querido, eu sei que você tem mais amigos do que só a Nancy. Não é possível um garoto tão bonito e interessante não tenha amigos! - minha mãe disse.

Queria desmenti-la, falar que eu era o garoto mais antisocial do Canadá, mas eu sei que isso seria maldade. E eu não sou mau.

Quando eu ia responder o meu terceiro "tudo bem, mãe" em menos de 15 minutos, escutamos um barulho de carro freiando bruscamente na rua.

Saímos correndo para ver o que tinha acontecido, e vimos 2 carros cheios de adolescentes parando na casa ao lado. Ah não, vizinhos problemáticos não.

Uma garota saiu de um dos carros, com a maquiagem borrada, os olhos azuis vermelhos, as roupas rasgadas e descuidadas, o cabelo preto bagunçado. Ela era o problema em pessoa, mas eu achei a garota mais linda do mundo.

Olhei de canto de olho para a minha mãe, que estava de boca aberta.

Um garoto saiu do carro também, cheio de tatuagens, os olhos vermelhos e um baseado nos lábios. Foi de encontro a menina e lhe beijou tão intensamente que tive que desviar os olhos.

- Qual foi, Skate! Vocês acabaram de sair do quarto e já estão de fogo? - perguntou um dos garotos dentro do carro, fazendo os outros rirem.
- Você sabe que eu não nego uma foda. - o tal Skate respondeu, dando uma piscada de olho.
- E todos vocês sabem que não tem como não ficar camado pelo meu corpinho, né? - a menina enfim falou. E que voz. Parecia música para os meus ouvidos, a melhor voz que eu já escutei, mesmo sendo palavras de baixo calão.

Minha mãe parecia ouvir tudo horrorizada, e eu até entendo. Ela sempre concordou com sexo só depois do casamento, e ela acha que todos pensam o mesmo. Bem, achava.

Quando eu achei que aquilo já tinha acabado e que todos iriam embora, alguns sairam do carro. Olharam em direção a nossa casa e fizeram um gesto militar, como se batessem continencia. Os outros apenas riram, e a dona dos olhos mais lindos do mundo disse:

- Dá pra vocês serem menos babacas? São meus novos vizinhos, idiotas.
- Nossos, minha Mollyzinha. - disse um dos meninos.
- Sua não, babaca. - o possível namorado da Molly falou.
- Comi ela antes de você, otário. Nem vem querer marcar posse. - o outro respondeu. Que desrespeito com uma mulher!
- Já chega, vocês dois. Ninguém merece, viu? Dois idiotas chapados discutindo. Desculpa o barulho, senhora. - ela fala. Só depois de alguns segundos consigo perceber que é com a minha mãe que ela está se direcionando.
- Ah não, tudo bem. - mamãe responde, mas é claro que não está tudo bem. Ela está surtando por dentro, consigo até imaginá-la jogando a Bíblia no rosto deles, pregando a palavra do Senhor. Seria cômico, se não fosse tão trágico.

Skate olha para mim e, ao perceber que estou olhando descaradamente para sua namorada, me lança um sorrisinho presunçoso. Como se dissese "você nunca vai tê-la".

E, por mais que eu não queira, sei
que isso é verdade.

Bad ReputationOnde histórias criam vida. Descubra agora