the date (I)

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— Por que você disse aquelas coisas pra ela? — perguntei, bravo.
— Essa garota fala demais sobre o que não sabe. — ela respondeu, se levantando e indo embora.

Fui atrás, porque, em partes, eu sou um idiota, e porque eu não iria deixar isso barato.

— Ei! — chamei-a.
— O que?! — ela respondeu, elevando a voz, chamando atenção.
— Será que a gente pode conversar, por favor? — pedi, baixo o suficiente para somente ela escutar.

Depois de bufar e revirar os olhos, ela andou até um corredor vazio. A segui e, quando vi que ela estava esperando uma fala minha, disse:

— Eu sei que eu sou novo por aqui, e sei também que eu sou um idiota. Sei que você só fala comigo quando seus amigos te dão as costas, e sei que vocês devem me achar um retardado. Mas eu não ligo pra isso. Eu ligo pra minha única amiga, que você acabou de fazer chorar. Então, será que alguém nessa droga de escola pode me explicar o por quê disso tudo? — falei tudo de uma vez, meio irritado, confesso.

Ela revirou os olhos, depois de dar uma risadinha, e disse:

— Essa sua amiga só entende o que é dito pelas pessoas. Ela não se importa com a verdade, só tá ali pela fofoca. E, desculpa se eu magoei sua amiguinha, mas se você quer saber, ela me magoou primeiro.

Depois de me deixar mais confuso do que eu estava, ela sai e me deixa lá. Argh, essas mulheres são malucas!

Decidi ir atrás de Lox. Bati na porta do banheiro e a ouvi chorar baixinho. Bati de novo e nada dela abrir. Me sentei do lado de fora, encostado na porta, e disse para ela:

— Eu sei que é difícil. Você deve tá se sentindo a garota mais boba e humilhada da escola. E eu sei disso porque eu me sentia assim o tempo todo no Canadá. Mas, Lox, você é incrível demais para se afetar com essas palavras. Eu sei como é gostar de alguém, e sei como é difícil quando essa pessoa não tá nem ai pra você. Mas sabe o que as pessoas não contam? Essa dor vai passar. Eu superei todas as minhas dores com minha amiga do Canadá, a Nancy. E eu percebi que o melhor nessas horas é um ombro amigo pra te apoiar quando chora, e um companheiro pra rir com você. A Nancy foi assim comigo. Deixa eu ser sua Nancy, vai. Oh, isso soou feio. — escutei sua risada do outro lado da porta e acabei rindo junto. — Vem, sai dai. Nenhum garoto no mundo merece suas lágrimas.

Escutei ela se levantar e logo depois a torneira foi aberta. Me levantei e ela saiu do banheiro. Tava com o nariz e os olhos vermelhos, mas não chorava mais.

Lhe dei um abraço apertado, e sussurei no seu ouvido "tudo vai ficar bem". Dei-lhe a mão e nós fomos juntos até a sala, onde a aula já tinha começado.

Bati na porta e quando o professor gritou para entrármos, encontramos uma turma inteira nos olhando de mãos dadas.

— Desculpa o atraso, professor. Mas ela tava passando mal, e eu fui ajudá-la. — disse, ignorando o fato de todos estarem prestando atenção.
— Tudo bem. Vão se sentar. — ele disse, apenas.
— Ae Shawn!! — Skate gritou no fundo da sala, fazendo todos rirem.

Ignoramos e nos sentamos, Lox ficou de cabeça baixa a aula toda. Quando finalmente tocou o sinal, sussurei no ouvido da ruiva que iria a levar para casa, e ela apenas concordou.

Jacob veio até nós e disse:

— Ei. Tudo bem, ruiva?
— Sim. — ela respondeu, seca. É isso aí, Lox!!!
— Hmm. Tá, beleza. Quer ir lá pra casa agora? — ele perguntou.
— O que? — ela pareceu confusa, e eu poderia imaginar minha cara de espanto.
— É! A gente poderia fazer uma maratona de Friends, do jeito que você gosta. Peço pra minha mãe fazer aquela pipoca amanteigada que você ama, como nos velhos tempos. O que você acha? — ele sorria. Lox sorria. Eu estava com a boca escancarada.
— Claro! Eu vou ligar pra casa e avisar. — ela tava radiante, e eu só consegui suspirar. — Shawn, obrigada por tudo. Você é incrível! - ela me deu um beijo no rosto e saiu, com Jacob junto.

Peguei minha mochila e fui em direção à saída do colégio, não conseguindo acreditar em como Mahogany conseguia cair no papo desse cara.

Minha cara não devia estar das melhores, já que Molly veio falar comigo:

— E ai, a ruiva te largou? — apenas balancei a cabeça em afirmativa, sem olhá-la nos olhos. Ela suspirou. — Olha, eu sei que você não deve ter se acostumado ainda, mas toda vez que o Jacob estala os dedos, ela tá lá. Isso acontece desde o primário, e não vai mudar nem tão cedo.
— Tá. — respondi, tentando soar grosso, mas o máximo que eu consegui foi soar normal. Eu sou um imbecil mesmo.
— Não me faz ter pena de você. — ela me olhou. — Argh! Tá, por que a gente não sai hoje a noite? Eu conheço um barzinho incrível, você vai adorar!
— Eu não sou um cara que curte bares, desculpe.
— Vamos, vai ser legal! — ela segurou minha mão, e por um momento eu esqueci como se respirava. — Por mim!

Suspirei. Por que não?

— Tudo bem. — ela soltou um gritinho comemorativo, me fazendo rir e acabou chamando atenção das pessoas a nossa volta. — Onde é esse bar?
— Não confia em mim, Mendes? — ela sorriu, provocativa.
— Nem um pouco.

Ela soltou uma risada e saiu andando, gritando algo sobre me mandar uma mensagem sobre os detalhes mais tarde.

Nem me liguei na hora que ela não tinha meu número. Tudo que se passava na minha cabeça era que eu tinha um encontro com Molly.

Eu tinha um encontro com a garota que mexeu comigo desde o momento que eu a olhei, e não poderia estar mais apavorado.

                             xxx

Ao chegar em casa, mamãe estava na cozinha fazendo um lanche. Cheguei por trás e lhe dei um beijo na bochecha, fazendo-a sorrir para mim.

— Como foi a aula, querido? — perguntou.
— Ah, normal. — respondi, e ela apenas continuou fazendo suas coisas — Hã, mãe? — chamei-lhe atenção — Hoje eu vou sair com uma amiga, tudo bem?
— Lox?
— Hm, não. — percebi a curiosidade em seu olhar. Era agora. — Sabe a nossa vizinha, Molly? — seus olhos se escancararam.
— Não mesmo! Você não vai sair com aquela garota problema. Você não sabe o que dizem dela pelo bairro, barbaridades!
— Mãe, ela é minha amiga. Você mesmo vive dizendo que eu não faço amigos, mas quando eu finalmente arranjo mais de um amigo, você me vem com essas restrições! — respondi todo os pontos a meu favor que eu pensei o caminho todo até em casa.
— Shawn, querido, ela é má influência. — ela chegou perto, segurando meu rosto com as duas mãos.
— Eu não tenho mais idade para ser influenciado, mãe. Por favor. — olhei bem nos seus olhos, suplicando.

Ela suspirou alto e concordou com a cabeça, e eu lhe dei um beijo estalado no rosto como agradecimento.

Seria uma noite memorável.

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2018 ⏰

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