Um dia comum no colégio

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Ouvi meu nome diversas vezes para que eu finalmente me desse conta de que estava na sala de aula. Deitada com a cabeça sobre os braços cruzados, levantei meu olhar vagarosa e imediatamente ouvi risos vindos de todos os cantos daquela merda de lugar.
— Zola, quantas vezes vou ter que fazer isso? Onde você acha que está? Na sua casa? Ou deveria chamar aquele lugar de muquifo?
Os risos aumentaram consideravelmente. Olhei para o lado e vi um garoto cochichando e apontando para o meu cabelo. Novidade. Nunca vou entender o porquê da não aceitação com o meu black power.
— Desculpa — comecei. — Pode ter certeza que vou me esforçar mais para assistir essa aula escrota que você dá.
Pude ver a insatisfação no rosto dele começar a aumentar gradualmente. No entanto, eu não me importava; eu já tinha muito com o que me preocupar.
— Saia da minha aula, pirralha — ele falou quase gritando — aliás, você nem deveria estar aqui. Pessoas como você deveriam estar em casa, com a mão dentro do tanque esfregando um roupa suja.
Nesse momento, risos viraram gargalhadas.
Eu sabia o que ele estava querendo dizer. Era só mais um desses preconceitos com pessoas negras como eu. Não que eu já não estivesse acostumada com isso, mas todas as vezes que ouvia algo do tipo, sentia um vazio dentro de mim, como se minhas células não existissem.
Peguei minha mochila e saí da sala. O caminho até a porta nunca pareceu tão longo. Todos os olhos existentes ali estavam vidrados em mim, enquanto os meus se esforçavam para não derramar nenhuma lágrima. Eu não daria esse prazer àquele professor medíocre. Não permitiria me demonstrar afetada por aquelas palavras, porque sabia que ele me acharia fraca. Mas se tem uma coisa que esse babaca precisa aprender é que fraqueza é uma palavra desconhecida no meu dicionário.

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