Estava com o pavio curto demais para ter que aguentar pessoas daquela escola me dizendo mais uma vez que eu devia ser educada. O pior é que é sempre assim. Eu tenho que dizer palavras fofas enquanto sou tratada como um verdadeiro lixo. Até quando?
Passei direto pela porta da secretaria com o intuito de ir para casa. Lá, no meu muquifo, era o único lugar onde eu poderia ter um pouco de paz.
Segui o caminho que levava à minha casa e avistei duas crianças e uma mulher, que imaginei ser a mãe delas. Estavam longe, mas vinham em minha direção, na mesma calçada. Percebi o olhar preocupante da mulher quando olhou para mim. Imediatamente ela pegou nas mãos das crianças e mudou de lado. Apressou o passo e seguiu seu caminho, deixando evidente a preocupação ao olhar para trás enquanto andava. Não fora a primeira vez que eu havia passado por situação como aquela. Aliás, elas aconteciam todos os dias. Porque sim, todos os dias pessoas me julgam como um ser ruim, de má índole e perigoso simplesmente por um motivo: a coloração da minha pele não segue padrões. Eu sou preta, sou descendente de africanos. Será que alguém consegue imaginar o orgulho que sinto ao dizer isso? Acho que não, já que, infelizmente, sou só mais uma dessas garotas jogadas num canto, porque, ao que parece, a cor da minha pele é a maior limitação da minha vida.
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Privilégio negro
No FicciónEm qualquer lugar que vou, pessoas dizem que o mundo é perfeito. Se para eles perfeição é ser tratada como sou, recebendo adjetivos como macaca, carvão, favelada e carniça, então sim; sou um ser completamente perfeito. Capa por: @thelourryfactor