3 anos depois

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  Tudo havia tomado um rumo muito diferente num período de tempo curto. Me demiti do restaurante e, algumas semanas depois, quando o estoque de alimentos de casa já não supria mais a necessidade que minha mãe e eu tínhamos, ela adoeceu. Incrível a falta de sensibilidade nas pessoas. Ninguém foi capaz de ajudar, nem com um grão de feijão.
  Minha mãe se foi 11 dias depois. Tudo que me restou? A desigualdade social, o preconceito e o racismo.
  A pequena casa em que morávamos só me trazia tristeza. A falta da minha mãe estava completamente dominada em meu ser. Por isso hoje estou aqui, deitada sob esse viaduto. Mas eu não estou sozinha, enfim. Sempre recebo visita de uma barata ou um rato. Às vezes até uma aranha aparece para fazer saudações.

  O vento está se tornando mais gelado. Minha mão está começando a endurecer devido à queda de alguns graus celsius, e isso dificulta minha escrita. Sinto pena de quem não tem nenhum cobertor sequer para se proteger dessa sensação friorenta. Eu tenho.
  Porque afinal, negro tem privilégio.

Privilégio negro Onde histórias criam vida. Descubra agora