Depois de se alimentar como deveria Vlad já via-se de volta aquela enorme casa no centro de Paris. Pondo uma roupa apropriada para se apresentar ao jantar. Mesmo que esse não seja de grande validade para ele ainda era belo ver uma família unida daquela forma. Para um jantar. Sim, ele sabia. Ver isso o traria lembranças felizes e amargas ao gosto frio dos lábios dele que há muito tempo não sentem nada além de sangue. Seu reflexo ou a falta dele ao espelho não fez a menor diferença a si mesmo vendo que ele não queria ter de encarar sua própria face.
Olhou para o espelho mais uma vez admirando-se mesmo sem se ver. Sua vestimenta era digna de um príncipe em sua legítima forma romena. A calça preta com botas da mesma cor e uma túnica vermelha que impedia a visão da camisa branca com abas de mangas longas que cobria sua pele branca e excessivamente fria. Os cabelos muito negros eram jogados para trás fazendo-lhe traços a altura de sua nuca. E os olhos... Ah, os olhos! Esses pareciam incrivelmente mágicos pelo modo único de nunca perderem seu brilho tão azul quanto um belo dia de primavera. Mas as batidas na porta o interromperam da nostalgia.
"Vlad? Está aí?" A voz do Intendente soou do lado de fora. Vlad foi atendê-lo. "Eu já... Nossa! Desse jeito roubará o coração de minha irmã! Está muito bem, meu amigo!" O homem moreno sorriu e entrou no quarto.
"Apenas gosto de estar apresentável, mas você não me parece incomodado com a ideia de ver roubar o coração de sua irmã." Vlad jogou verde e o outro mordeu a isca.
"Com certeza não, meu querido Tepes! Acho que seria capaz de agradecê-lo a tal ato." Ele sorriu abertamente para o Vlad.
"Não gosta do noivo da sua irmã?" Vlad indagou levemente confuso com tal afirmação.
"Aquele burguês de meia pataca?! Nem um pouco! Ele não passa de um burguês, imundo e mulherengo metido a galã de livros de romance! Repugnante!" O homem fechou a expressão diante de Vlad ao mencionar o tal noivo, mas logo sorriu de novo vendo Vlad rir daquela afirmação feita com tanto ardor.
Mas considerando o fato que o moreno alto a frente de Vlad também não eram um grande galã digno de livros de romance do melhor de Shakespeare, a ofensa explícita a até então um ser desconhecido não era de grande utilidade.
"Me lembre de morrer seu amigo, sim?!" Vlad disse e ambos riram.
"Não me preocupo com isso. Diante do apreço que tenho por nossa amizade acho difícil nos tornamos inimigos!"
"Mesmo assim me lembre. Quero garantir bons boatos antes de partir." Vlad caçoou dele que riu encarando-o de forma divertida.
"Muito bem, senhor boa fama! Vamos descer antes que os convidados cheguem. É indelicado deixar uma dama esperando." Ah sim, os franceses e sua típica mania de achar que são exemplares e devem ensinar boas maneiras aos outros. Se Vlad não os achasse curiosamente gozados ficaria incomodado com suas manias um tanto quanto... Curiosas.
[...]
"Querida, não podemos nos atrasar para o jantar de seu irmão! Vamos!" A mulher mais velha surgiu no quarto da jovem donzela apressando-a enquanto a mesma penteava calmamente seus cabelos longos e ruivos em seu tom escuro.
"Mas não dizem que é elegante um pequeno atraso?!" A menina-mulher caçoou com um leve sorriso que se fechou ao notar a expressão insatisfeita de sua mãe.
"Não nesse caso e creio sabe o quanto não suporto atrasos!" Ah sim, sabia bem o quanto sua mãe detestava atrasos. Era capaz de dar ataques de chilique e até mesmo fazer grandes dramas por conta disso. Difícil era tirá-la de um rio de choro onde lágrimas jamais chegavam aos olhos e desciam ao rosto. "Ande, agora deixe-me te ver." A mãe sorriu encarando a mais nova que se levantou.
Ela usava um vestido azul claríssimo que lhe tapava até o pescoço. Era longo e feito de uma fina seda que obrigava a fazer abas internas para que a bela moça não ficasse exposta. Afinal, era uma divina donzela às vésperas de seu casamento! Mais do que nunca deveria se resguardar. A mãe encarou-a com um sorriso no rosto de modo completamente orgulhoso de sua linda menina. Apesar de que os traços e o corpo já denotavam de uma mulher, mas a juventude e inocência comprovaram sua mocidade.
"Own! Está linda meu bem!" A mãe se antecipou indo de encontro a ela. "Agora vamos!" Puxou-a para fora do quarto descendo as grandes escadas da casa diante dos olhos atentos do par de homens que ali habitava.
"Está linda minha filha." O mais velho se pronunciou com um sorriso orgulhoso. "Digo que está..."
"Não, não e não. Você terá tempo para elogiar nossa princesa no caminho. Vamos!" Ela continuou. "E Hélio! Ajeita essa gravata!" Ela se referiu ao filho mais novo que bufou obedecendo.
O caminho para o Centro foi do mesmo jeito de sempre Hélio distribuindo sorrisinhos a cada moça por onde passavam, os pais em suas breves discussões e opiniões diferentes sobre quase tudo, a euforia da mãe relacionado ao casamento, o descaso do pai quanto ao casamento e os pensamentos da jovem donzela correndo longe pelo tempo. Ela gostava de livros, gostava ler livros e de se imaginar dentro de um livro cheio de romance, aventuras, paixão e tudo que uma garota deseja. Ah não! Não se engane pela posição firme que tinha de si mesma, por dentro ainda havia uma doce menina com desejos infantis que compartilhava com as amigas. Simples.
"Chegamos!" Sua mãe despertou-a com uma animação demasiada exagerada pronta para encontrar-se com seu irmão mais velho, ninguém menos que o cobiçado Intendente de Paris.
Ambos todos desceram da carruagem sendo recebidos pela chegada de seu irmão. Alto, moreno e de belo porte. Ela os suspiros das damas quando ele aparecia, seu charme era inegável.
"Mãe, pai!" Ele abraçou ambos e tratou com bom humor o fato de sua mãe aperta-lhe as bochechas, hábito criando quando ainda era uma criança. "Hélio! Cada dia que passa está mais homem, mas acho que se esqueceu de criar barba!" Caçoou do mais novo bagunçando lhe os cabelos escuros. O mesmo revirou os olhos irritado. "E você minha pequena..." O irmão aproximou-se dela beijando-lhe a mão carinhosamente. "Está cada dia mais bonita!"
"É uma pena não poder dizer o mesmo de você. Céus Sávio! Quantas vezes entrou na fila da feiura sem ser convidado?!" Ela zombou com um sorriso que quase se tornou uma gargalhada diante da risada de Hélio que estava por perto.
"Vou perdoar essa porque há um convidado à nossa espera, mas você não me escapa!" Ele disse nem tão brincalhão como deveria.
"Falando de mim, Senhor Intendente?" A voz! Céus! Ela conhecia aquela voz. Mas não pode ser o... Sim, o homem da poesia de Shakespeare e seu herói inusitado. "Senhorita Bardot?!" Ele encarou-a tão surpreso quanto.
"Vocês se conhecem?"
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O Amuleto de Sangue - Livro 1 Coletânea Van Helsing
VampireO Rei Drácula passou por grandes guerras, perdeu sua família, seu reino, seu povo e até mesmo sua vida em nome da liberdade, felicidade e paz. E quando todos acharam que ele estava morto viram-no renascer da próprias cinzas e do passado ergueu-se o...