Capítulo XI

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Marina sentou ao lado de Cláudia no sofá da sala, colocando uma colher de sobremesa na mão dela. Ela deixou o pote de sorvete de dois litros entre elas, ficando a uma distância segura para poder pegar o conteúdo do pote sem gelar a perna. Então pegou a própria colher e começou a devorar o sorvete de chocolate junto com Cláudia.

— Quer dizer que a ex da Luciana apareceu assim, do nada?

— É, algo por aí.

Cláudia colocou os pés sobre o sofá, segurando os joelhos com o braço esquerdo.

— E aí? Bonita a moça?

Marina deu de ombros, pegando mais uma porção de sorvete com a colher.

— Não prestei atenção.

Cláudia olhou para a amiga, franzindo o cenho.

— Claro.

Dessa vez foi Marina quem deixou a interrogação flutuar em seu rosto.

— Quê?

Cláudia abriu um sorriso e pegou mais uma colherada de sorvete.

— 'Tô esperando você dizer o motivo de me contar isso. Embora eu já saiba, claro.

Marina deu uma cotovelada na amiga.

— Destesto quando você dá uma de misteriosa.

— Não tem mistério, Marina. Na verdade só você está se recusando a ver que está apaixonada pela Luciana.

Marina chegou a abrir os lábios, sem que palavra alguma saísse deles. Então os fechou, suspirando. Continuou a olhar para a frente, como se a verdade estivesse pendurada ali o tempo todo.

— Eu não estava me recusando a ver nada, só... sei lá, precisei ver essa ex dela pra perceber.

Cláudia passou o braço ao redor dos ombros de Marina, que olhou para ela.

— Acredito nisso — o sorriso zombeteiro de Cláudia tinha dado lugar a uma expressão mais séria. — Tudo isso com o Pedro é...bem, é recente pra você.

Marina assentiu, apertando os lábios.

— Talvez seja isso também, mas... não sei, acho que queria manter as coisas simples.

Cláudia se afastou, mantendo seus olhos sobre a amiga.

— As coisas podem continuar simples. Aliás, não há nada mais simples que admitir que gosta de alguém.

— Seria ainda mais simples se ela sentisse o mesmo.

Marina percebeu que Cláudia ia dizer alguma coisa, mas foi interrompida pelo celular em cima da mesa de centro, que tocou e acendeu, mostrando na tela o nome de Luciana.

— Falando no diabo... — Cláudia disse, o tom alegre retornando ao seu tom de voz.

Marina rolou os olhos, levanando, deixando o pote de sorvete sobre a mesa e pegando o celular para atender.

— Ei!

— Fala que estávamos conversando sobre ela agora mesmo — sussurrou Cláudia.

Os olhos de Marina ganharam o dobro de tamanho e ela levantou a mão direita espalmada, enquanto continuava a conversar com Luciana. Então ela parou, franzindo a testa e, em seguida, ganhando um sorriso.

— Sério? Isso é ótimo!

Cláudia levantou, indo em direção à Marina.

— O que ela disse? O que é ótimo?

Marina segurou o ombro de Cláudia.

— Sim, ela 'tá por aqui e ficou bem curiosa. Posso contar?

— Claro que pode contar! — A voz de Cláudia ficou um pouco alta demais e Marina não conseguiu segurar a risada.

— Ok, pode deixar que conto, espera só um pouco — Marina tirou o telefone do ouvido, virando-se para Cláudia. — Ela acabou de receber um e-mail: o original dela foi aprovado por uma editora!

Cláudia deu dois passos para trás, colocando a mão na boca. Marina encostou o telefone na orelha novamente.

— A notícia foi tão boa que conseguiu a proeza de deixar a Cláudia sem palavras.

A frase de Marina fez Cláudia lembrar de que sabia falar e ela se aproximou da amiga de novo.

— Fala que 'tô muito feliz! E que ela merece!

— É melhor você falar com ela — Marina disse, entregando o telefone à Cláudia.

Marina sorria enquanto via Cláudia falar com entusiasmo com Luciana pelo telefone. Era bom ter notícias tão boas. Era tão bom quanto celebrar a presença daquelas duas pessoas incríveis em sua vida.

Alguns minutos se passaram até que Cláudia retornou o telefone para Marina, que parabenizou Luciana mais uma vez antes de desligar.

— Cara, que incrível — Cláudia se sentou ao sofá, dando espaço para Marina, que sentou ao seu lado. — Aconteceu. Ela conseguiu dar um passo enorme.

— Sim, é maravilhoso.

— Ela disse que não quer comemorar ainda, porque quer verificar a editora.

— Luciana 'tá mais cautelosa depois do que aconteceu com o texto dela. Todo cuidado ainda é pouco.

Cláudia assentiu.

— Você voltando à faculdade, ela sendo publicada... esses últimos meses foram bem agitados.

Marina olhou para a amiga, sorrindo.

— Não é? Muitas coisas aconteceram.

— E muitas ainda podem acontecer.

Marina franziu o cenho, pegando o pote de sorvete da mesa e procurando pela colher, que achou em poucos segundos.

— Precisamos acabar com isso antes que derreta totalmente.

Cláudia suspirou, enchendo a própria colher.

— Ok, fingir que esse papo não aconteceu. Entendido.

— Não é isso.

Cláudia engoliu o sorvete da colher de uma só vez.

— Então o quê?

— Se ela não sentir o mesmo, faço o quê?

— Primeiro: tenho certeza que ela sente. Segundo: é só seguir a amizade.

— Fácil falar, Cláudia.

Marina suspirou, enchendo a boca de sorvete.

— Ok, ok, então vou dar uma sugestão: flerte e vê como ela reage.

A risada de Marina fez Cláudia fechar a cara.

— Não sei fazer isso, você sabe.

Cláudia fez uma careta.

— E eu já te disse que isso não é algo que se planeja. Você só precisa demonstrar o que sente e tentar perceber como ela reage.

— Quando você fala, parece tão fácil...

— Porque é! — Cláudia jogou as mãos ao ar.

Marina levou a mão à boca, tentando segurar o riso em vão.

— Ok, ok — Marina afirmou, recuperando-se da risada nervosa — Eu prometo que vou tentar. Mas preste atenção: — ela levantou o dedo em riste. — No segundo em que ela recuar, eu paro de tentar fazer papel de boba.

Cláudia sorriu, roubando a última colherada de sorvete do pote.

— Combinado, dona Marina. Mas olha, você sabe que eu tenho um bom instinto pra essas coisas. E, se eu estiver certa dessa vez, acho que você não vai precisar se preocupar com isso. 

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