Capítulo III

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Quando Marina entrou na casa de Luciana, seus olhos encontraram a bagunça de papeis espalhados por todos os lugares da sala e ela imaginou se o apartamento da amiga tinha sido bombardeado.

— Desculpa a bagunça — Luciana coçou a cabeça, mordendo o lábio inferior. — Não te esperava hoje. Não esperava ninguém que pudesse se assustar com essa loucura pra falar a verdade.

Marina colocou a mão no queixo.

— Tudo bem, não ligo pra essas coisas, Lu. Posso ajudar em alguma coisa?

Não precisava ser detetive para imaginar que todos aqueles papéis estavam relacionados ao investimento na carreira de escritora. Marina sabia bem que Luciana não era uma pessoa que costumava levar trabalho para casa, a não ser que fosse muito urgente. Além disso, quase tudo o que a amiga falava nos últimos tempos era sobre os textos que estava escrevendo e os concursos dos quais pretendia participar.

— Eu 'tava tentando organizar que texto mandar pra onde, sabe? — Luciana desviou de alguns papeis, até que obteve êxito em chegar ao sofá, sentando-se. — Mas são muitos regulamentos, muitos detalhes e especificações diferentes. A linguagem que essas pessoas usam nos editais me deixam muito confusa. Imprimi tudo isso porque minha vista já 'tava toda embaçada de ficar lendo no computador. Mas, bem, não resolveu muita coisa também.

Marina se equilibrou nas pontas dos pés, tentando chegar até o sofá sem marcar nenhum daqueles papéis com a sola do sapato. Quando conseguiu se sentar, logo puxou o edital mais próximo para si, lendo o que estava ali.

— Vamos começar pelo início então: vamos ler um por um e entender as minúcias deles. Vou fazer algumas anotações em cada um desses papeis, bem — Marina se esticou e pegou uma caneta preta sobre a mesa de centro — Com isso. Coisas como: se é pra mandar pela internet, impresso, mínimo e máximo de palavras, detalhes de documentação, premiação e essas coisas. Aí você pode ver qual texto se encaixa ou mesmo se vale a pena investir.

Luciana olhava para a amiga, os olhos tão fixos nela que Marina teve medo de que ela tivesse ficado todo aquele tempo sem piscar.

— Hum, certo — Luciana olhou para o papel na mão de Marina e depois para o rosto dela novamente. — Agora que você traçou esse plano, parece que era tão simples.

Marina riu quando Luciana colocou a mão na testa.

— Não se preocupe. A maior parte das pessoas se dá mal em coisas como essas porque nem se dá ao trabalho de ler editais e regulamentos desse tipo.

— Ou manuais e termos de uso da internet.

— Ou manuais e termos de uso da internet — Marina riu diante da constatação. — O que pode dar problema. Minha mãe me falava isso desde que me entendo por gente e apliquei esse hábito muitas vezes. Isso já me salvou de muitas coisas.

Luciana olhou para Marina.

— Então acho que você é mesma a pessoa certa pra me ajudar.

Marina gostava de poder ser útil para sua amiga e, ao mesmo tempo, apreciando o fato de que ela e Luciana poderiam passar um pouco mais de tempo lado a lado. Quando Luciana sorriu para ela, percebeu que aqueles sentimentos eram recíprocos.

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Luciana mordeu os lábios, percebendo que as coisas estavam mais complicadas em seu coração quando viu que Marina estava acompanhada.

Marina sempre tinha sido uma boa companhia, Luciana não podia negar. E por isso mesmo, desde que tinham se reencontrado naquele barzinho no dia do aniversário do seu chefe, ela tinha ficado muito feliz de poder reatar uma relação que sempre lhe fora muito benéfica. Às vezes era muito difícil se acostumar com o ritmo de São Paulo. E as pessoas que ali moravam, por mais que fossem simpáticas e receptivas com quem vinha de fora, pareciam sempre tão aceleradas que era como se nunca fosse possível acompanhá-las. Marina entendia o que ela passava e o que era viver naquela cidade maluca, então era fácil poder contar com a garota e se apoiar na amizade dela.

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