Os ponteiros do relógio se mexiam diante dos olhos de Marina e tudo o que ela queria era impedir que eles continuassem andando. Queria que o tempo parasse o suficiente para que ela pudesse colocar os pensamentos no lugar. Mas não adiantava; o mundo continuava a girar contra a sua vontade e tudo parecia mais confuso a cada segundo que passava.
Ela atendeu o telefone celular, sem deixar de encarar o relógio que a hipnotizava.
— Ei, Cláudia.
— Tem compromisso hoje?
Marina moveu a cabeça para a esquerda e para a direita.
— Não...
— Bom, estou prestes a mudar a sua resposta. 'Tô esperando você abrir a sua porta.
Quando o telefone desligou, Marina o tirou de perto de seu ouvido, olhando para a tela e tentando ver se ela conseguia ter alguma resposta para o que tinha acabado de acontecer. Como seu objetivo não se cumpriu, ela resolveu que iria então abrir a porta.
— Achei que você 'tava ligando da livraria e que ia me chamar pro lançamento.
Cláudia deu um sorriso de lado.
— Pessoalmente sempre dá mais certo pra você.
Marina deu de ombros, sentando no sofá.
— Ela não precisa de mim. Você pode fazer companhia. E... bem, ela pode sempre chamar a ex, atual ou sei lá o que ela é.
Um suspiro profundo e Cláudia já estava sentada ao lado de Marina.
— Se ela tivesse voltado com a tal moça, não acha que teria ido com ela ao lançamento, e não comigo?
Ela olhou para Cláudia.
— Você tem razão. Mas...
— Nada de mas - ela interrompeu Marina, segurando a mão dela. — Só vamos lá apoiá-la e deixa o resto acontecer.
Cláudia levantou, ficando de frente para Marina, estendendo a mão. Marina olhou para os olhos da amiga, pegando a mão e resolvendo que não deveria ficar ali parada, deixando o tempo continuar a andar.
.::.
Quando os olhos de Marina cruzaram com os de Luciana, ela soube que deveria estar naquele lugar e nenhum outro. Não se perdoaria se perdesse aquele dia.
Marina piscou para Luciana, antes de ir para o caixa pegar um dos livros da amiga. Depois de pagá-lo, andou para a fila, entortando o nariz para o tanto de gente na sua frente. Contou em sua mente o tempo que a separava de Luciana e, a cada movimento da fila, seu sorriso aumentava.
— Você sabe que não precisava pegar essa fila, não é?
Marina sorriu, deixando que Luciana pegasse o livro de suas mãos e lhe indicasse o lugar para se sentar, bem ao lado dela.
— E me privar do ritual de fã? Nem pensar.
O riso de Luciana trouxe o seu. Era sempre assim para Marina quando estavam juntas: alguma coisa fazia com que elas estivessem em constante sintonia.
Marina observou enquanto Luciana abriu o livro em uma página qualquer, encostando a ponta da caneta na folha de papel.
— Vamos sair amanhã à noite?
A frase fez com que Marina perdesse o fôlego no mesmo segundo. Ela então se lembrou de respirar, continuando a sorrir.
— Claro, a gente combina com o pessoal pra ver aquele filme...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todos os sonhos do mundo
Dragoste"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Tabacaria - Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) Luciana tinha um sonho que estava guardado no fundo de sua gaveta há muito tempo, pegando a poeira do conformismo e d...