Colmeia

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Lá estava eu, sentada em um banco duro de um trem que ia em direção a cidade vizinha a minha. Havia várias pessoas a minha volta (estilos variados: gestantes, idosos, hippies, vendedores de balas...), quis dizer, havia várias abelhas a minha volta, pois aquele trem mais parecia com uma colmeia cheia de abelhas que com um trem em si. Era um zumzum a todo instante, sem falar na pura coincidência de o lugar estar em parte cheirando a mel (culpa de um vendedor do próprio). Mesmo assim, nenhuma daquelas pessoas de histórias diversas prendiam a minha atenção, pois, por algum agrado do destino, sentei-me no banco logo ao lado da janela, pudendo assim observar o cenário decadente da cidade, onde o único agrado visual eram as árvores que rapidamente passavam (ou eu passava por elas), causando assim em mim uma enorme distração da vida a minha volta (algo que não era incomum).

Como observado anteriormente, a visualização da cidade não era nem um pouco cativante: casas empilhadas em cima de outras casas como num monta monta; um horizonte esverdeado em forma de névoa igual os das pinturas não tão antigas, e uma ou outra pessoa rodeando pelas ruas. De repente, fui subitamente acordada de meus devaneios quando um outro trem cruzou com o que eu estava. Corei ao pensar que alguém poderia ter visto minha expressão de susto.

Finalmente cheguei ao meu destino. Desci do trem sendo empurrada por aquele enxame de abelhas. Consegui afastar-me da multidão indo para o meu caminho que era o oposto (por sorte) da maioria deles. Como que pra compensar os presentes dados pela sorte, o destino logo se opôs contra mim (novidade): Foi só eu por os dois pés na escada rolante que ela imediatamente parou de circular. -Merda!- exclamei mentalmente. Tive que desce-la normalmente óbvio. Saí da estação até chegar as ruas da cidade.Delinquentes ruas, sempre movimentadas, com copos de papel rasgados e maços de cigarros enfeitando o chão.

Uma fileira de lojas e todos os tipos de comércio (a maioria de sapatos) ocupavam quase que toda a rua. Não se via quase que nenhuma casa normal e, das únicas que eram as "normais", logo abaixo se tinha um anuncio como: corte aqui! compre aqui! ou então um estampado "vende-se". A maioria desgasta.

Quanto mais eu andava, mais eu me conformava de morar em uma cidadezinha exatamente igual aquela.Prédios velhos com vidros sujos e por vezes quebrados; quase todo espaço de parede ocupado por pichação; barulho de motor; barulho de pessoas; barulho de passos; vozes e mais barulhos. Algumas lojas com seus produtos ocupando quase que todo o caminho livre da calçada. A lateral da estrada com uma fileira de automóveis estacionados;mercadinhos,bares,com seu cheiro de bebida e ocupado por homens velhos com mulheres novas; todos continham sinuca,é claro. As vezes, procurando fingir cortar caminho por dentro, entrava nos bares apenas para dar uma olhadela daqui e dali. Esses bares em particular me atraíam pelo simples fato de que sempre adorei ver a degeneração humana.

Já o meu destino final, o único lugar daquela cidade nem tão grande que era, digamos que, luxuoso(do qual eu estava quase chegando), era o shopping. Quase que um edifício gigante no meio de casebres, um ponto dourado no meio da escória. Lá perto o cenário mudava radicalmente. Bastava apenas por os dois pés na estrada que dava em frente ao shopping que todo aquele subúrbio dava espaço para carros importados estacionados, pessoas vestidas com roupas de grife (assim imaginava eu), adolescentes com roupas praticamente iguais, pois, sem estilo próprio creio eu, elas precisavam seguir todas as modas que as marcas mais famosas lançavam. Enfim, atravessei a rua e subi os degraus que dariam para a entrada.


The Darkside: O lado que ninguém vêOnde histórias criam vida. Descubra agora