Automaticamente a porta se abriu com o meu "Abre-te, Sésamo" dito mentalmente. Por dentro, esse shopping não se diferenciava dos demais, então creio que fazer uma descrição detalhada não valha a pena. A única coisa que quero ressaltar é o que mais me incomoda na industria: Sacolas, propagandas nas lojas, fotos, e mais um monte de diferentes lugares estampados com a cara ou o corpo de diversas modelos que a mídia insiste em por como o ideal. Meu cabelo ondulado e arrepiado não simpatizava com os cabelos sedosos das propagandas. Meu único objetivo lá dentro era encontrar minha amiga. Enquanto eu andava pelo lugar, parecia que todas aquelas pessoas direcionavam o seus olhares a mim, rindo do meu jeito e esperando que, a qualquer momento, eu desse um deslize e passasse vexame.
Como combinado, ela estaria me esperando no 2º andar em frente a uma loja de livros, então eu seria obrigada a usar a escada rolante. Dessa vez ela não parou. Creio que pela quantidade de pessoas na escada rolante o acaso não quis bancar o esperto pois eu não seria a única prejudicada se ela parasse. É, pelo visto o problema era comigo mesmo. Já no segundo andar andei até encontrar a loja de livros e como eu esperava, minha amiga me aguardava na porta de entrada. Demorei alguns segundos para reconhece-la mas pude identifica-la pelo seu jeito frenético e impaciente, típico de todos os portadores de ansiedade.
Quando me aproximei fui recebida com um abraço de quem não se vê a três anos junto com um "Oi" (detalhe: com um "e" acrescentado logo após o "i"). Retribuí o abraço no mesmo tom histérico. Antes de começar uma conversa ela logo disse: "Vamos entrar logo! To na dúvida entre dois livros!", o que me fez pensar em quantas horas ela já deveria estar ali. Esse era o grande "quê" de Bella (leia-se Anabella): sua indecisão. Poderia ter somente uma única opção, mas mesmo assim ela ainda ficaria beirando a dúvida. Ela foi em direção ao seu pai que segurava um livro em cada mão: Orgulho e preconceito e A culpa é das estrelas. Cumprimentei-o com um "Olá" e recebi um "Olá Duana".
-Estou na dúvida entre Jane Austen e John Green, o que você acha?- disse ela.
-Gosto de ambos mas acho que A culpa é das estrelas é menos ácido para você. -respondi.
-O que você quis dizer com "menos ácido"?- perguntou.
-Eu quis dizer que acho A cula é das estrelas muito mais apropriado para uma dramática de carteirinha como você- forcei um sorriso para não parecer arrogante. -Orgulho e preconceito é maravilhoso mas acho que o final irá lhe decepcionar.- acrescentei.
-Hmm, pela sinopse de cada um, acho que...Pensando bem, vou levar os dois! Não que eu não ache sua opinião válida mas ambos chamaram-me a atenção igualmente.
-Bom, você que sabe!
E assim ela fez. Depois de uma olhadela geral por alguns livros, saímos da loja.
-Como vai a vida? -ela perguntou.
-Perfeita, como de costume! Vou começar a fazer teatro semana que vem! -realmente, atriz seria uma profissão perfeita pra alguém que saiba mentir como eu.
-Ótimo! Mais que ótimo, maravilhoso! -ela exclamou. - Como conseguiu convencer seus pais?
-Bem, usei como desculpa a minha desatenção, dizendo que talvez o teatro fizesse com que eu tenha mais concentração em algo e, bem, daí ela deixou. -respondi. "Ah e esqueci de acrescentar que eu também tive que quase me ajoelhar para ela permitir e que ela quase implantou um GPS em mim"- minha mente lembrou.
-É um ótimo argumento! Talvez eu comece a fazer aulas de teatro também, já pensou se acabamos fazendo juntas?- ela disse.
-Nossa, realmente seria muito legal!- respondi.
Logo em seguida seu pai nos convidou para a praça de alimentação, e que, por insistência do próprio, ele acabou pagando meu lanche. Enquanto esperávamos na fila enorme, seu pai nos deu o dinheiro para pagar e foi-se olhar as vitrines.Ouvi, de repente, atrás de mim, vozes rindo. Virei pra trás e vi um daqueles grupos formados apenas por meninos. Ignorei. Logo depois, mais risadas, e continuei tentando ignorar. Olhei em volta para me certificar se mais alguém se incomodava com eles... Não, todos agiam normalmente. Nesse instante a minha ansiedade começou a aflorar. "Eles estão debochando de você, ainda não percebe?"- eu pensei. Perguntei a Bella se ela havia os notado. Ela virou-se para trás e disse: -Onde? Aqueles meninos? Eles estão apenas rindo, relaxa.
Apenas rindo, ok. Eles devem estar rindo da gente, quer dizer, de mim. Sabia que não deveria ter vindo vestida assim. Bella me olhou estranhamente e disse apenas: -Vem, a fila já andou. Olhei uma última vez fingidamente pra eles. Quando chegou a nossa vez, pegamos o lanche e fomos de encontro ao pai dela. -Ei, me espera, por que você está andando rápido?- ela disse. -Na-a-nada! - respondi gaguejando. Nada, só estou com medo que um deles derrube propositalmente sua bebida em mim. Logo encontramos seu pai. Depois disso, conversamos coisas banais enquanto olhávamos as vitrines e eu tinha a certeza absoluta de que um daqueles manequins estava vivo. Quando vi o horário, anunciei que já era hora de eu ir embora. Pai e filha concordaram que também já era hora de ir (passava-se das seis, e lembre-se de que eu morava em um subúrbio) e assim o fizemos. Seu pai, como uma boa pessoa que era, me deixou em casa.
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The Darkside: O lado que ninguém vê
Fantasía"Realidade ou invenção?" Esse é o grande questionamento que aflige a vida de Duana que, aos quatorze anos de idade, é diagnosticada com esquizofrenia, um distúrbio cerebral em que o indivíduo interpreta a realidade de maneira incomum. Além de ter qu...