A duquesa

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SEJAM BEM VINDOS, O VOO PARA NOVA MANHATTAN ESTÁ PRESTES A DECOLAR, PEÇO A TODOS QUE COLOQUEM O CINTO DE SEGURANÇA E PREPAREM-SE. O CAPITÃO DESEJA A TODOS UMA BOA VIAGEM.
Quanto tempo faz que não vou a Nova Manhattan? Eis uma boa pergunta. Fiquei muito surpresa quando há duas semanas, ele me ligou pedindo que eu voltasse, faço parte do plano eu sei, mas o que me surpreendeu foi como as coisas aconteceram, como eu me menti nisso eu não sei, depois de saber a verdade sobre a morte de meus irmãos, senti que eles mereciam que o culpado fosse condenado. Não me vêm à cabeça memórias frescas deles dois, o mais velho era muito parecido com papai, pelo menos eu achava que sim.
Minha mãe me tirou dele quando eu ainda tinha sete anos, ela me disse que a causa de tudo isso era porque meu pai foi culpado da morte de meus irmãos, mas eu sei que ele os amava, muito mais do que um dia ela nos amou.
Houve uma data especialmente marcada pela quase tragédia, eu sei que no fundo isso só prejudicou, cada vez mais a relação entre os dois.
John era um homem alto, robusto e muito sério  –  mas talvez por ser uma criança ele fosse mais simpático comigo. – neste dia ele estava notavelmente fechado, se encontrava do lado de fora da escola me esperando, perto do carro. Tive que comentar o porquê de sair tão cedo. Não disse sequer uma palavra, apenas sorriu e pediu que me apressasse pois meus pais me esperavam em casa. Despedi-me da tia Cassandra e entrei no carro, coloquei o sinto e deixei que o aroma que exalava dentro do carro percorresse meu corpo. Era um dia muito nublado, nuvens escuras davam a entender que se passava das seis da noite, o que era impossível já que era meio dia. Senti durante todo percurso de volta a minha casa, um pressentimento ruim, meus pais corriam perigo, ou algo do tipo. Fechei meus olhos, e tentei me convencer que John nunca deixaria que algo acontecesse comigo, ele daria a própria vida pela minha. Notei depois de alguns minutos, que o carro começou a desacelerar, andando lentamente, deveria estar em casa e enfim eu poderia abraçar meus amados pais e perceber que nada tinha acontecido de mal. Abri os olhos e minha casa estava vazia, sem vida, as árvores pareciam velhas e folhas secas, filme de velho oeste, o que havia acontecido ali? Eu estava certa? John parou o carro, e decidiu que iria até lá sozinho. Senti muito medo, se algo de ruim acontecesse, o que eu poderia fazer? Respirei fundo se passaram várias lembranças boas que eu tinha com papai, das vezes que íamos ao parque de diversão, tomávamos sorvete, uma simples garota normal, nada de privilégios.
John saiu de lá apressado, desnorteado, ficou algum tempo do lado de fora, parecia procurar palavras. Eu não podia aceitar isso, minha mãe estava morta, mesmo estando tão diferente depois da morte de meus irmãos, eu a amava, e papai, ele que sempre foi tão bondoso comigo, contava histórias, dormi junto de mim quando tinha pesadelos, comecei a chorar, todos na minha família estavam mortos, não havia me restado ninguém, me encolhi dentro do carro, fechei meus olhos e fiquei ali durante minutos que mais se pareceram horas. Minha tia, era a solução, gostava muito dela, e provável que a guarda passasse a ela. Pensando bem, eu iria morar com meu tio, em Mônaco, ele era legal e tudo mais, e ainda tinha uma companhia, Louis, um garoto estranho de aparência e de caráter. Ainda com os olhos fechados, ouvi um estrondo que nunca ouvi antes. Meu Deus eu era a próxima? (...) O carro foi aberto, estava com um vestido até os joelhos, e um casaco que me protegia, mas naquele instante não tive como não notar o quanto aquele vento me fez arrepiar toda, não tinha forças para encarar meu assassino, covarde. Querida você está bem? Papai.
Foram meses difíceis, até que eles simplesmente se separaram, eu não tive opção de escolha é claro, se fosse por mim teria preferido ficar com o papai. Ele é tão amável e seguro, era a imagem que eu tinha quando ele me ligava no natal, ano novo, aniversário, datas comemorativas. Quando estava para completar quinze anos, minha mãe decidiu por ventura, que eu teria a tão sonhada festa de debutante, fiquei ansiosa confesso, contudo não era um conto de fadas se meu pai não pudesse participar. – Tinha compromissos importantes que não iria poder comparecer. – Ele dizia do outro lado da linha. – Sou sua filha. Deus será que ele sequer se lembra de que tem uma linda menina do outro lado do continente com seu sangue? Chorei durante dias, comia igual um elefante e até ganhei 3 quilos a mais, quase cancelei aquela festa toda. – O que estava pensado, você é uma nobre, não tem opção de escolha, não até completar a maioridade. – Ela completava. – A minha adolescência foi uma fase conturbada, distante de um homem que talvez não me amasse. Ele nunca veio a Mônaco me visitar, sei que no fundo isso não era sua culpa, minha mãe não permitiria.
Quando completei a maioridade chegou às questões de arrumar um bom partido, é quem seria melhor do que o próximo rei de Mônaco que no caso era meu primo de primeiro grau. Deve se casar com Louis. O próprio Vaticano permitiu seu casamento com ele querida. Porra mãe, me casando ou não com Louis, eu sou a próxima na linha de sucessão, a Duquesa de Pari, da casa de Marc. Louis não pode dar a sua esposa um filho, óbvio que não permitiram que ficasse no trono. – Mas ela retrucava. – Por isso a casa de Marc deve continuar próspera, fique noiva dele, e eu apoiarei toda essa falcatrua na qual seus primos te envolveram. – E foi assim que após anunciar o noivado com meu querido primo, estava embarcando para o voo de Nova Manhattan.

Neste exato momento estava com a Telecam ligada falando em especial com Collin.
·        Como estão os preparativos para a festa? –
·        Estão indo bem, tudo caminhando conforme combinado. Tem certeza que o avião vai se atrasar?
·        Precisamente, chegarei ao Hotel e ei de ficar pronta o mais rápido possível.
·        Mando o chofer te buscar depois de 2 horas? – Ele deu uma imensa gargalhada.
·        Escute Collin, você tem notícias dele?
Acalmou-se e respirou fundo, abrindo a boca algumas vezes, ate que finalmente disse: Ele ganhou a eleição no Brasil, e o novo rei. Você é sortuda, absolutamente é da realeza.
·        Fico feliz por ter ganhado, sei o quanto ele sacrificou por essa eleição. – Sorri de canto.
·        Ele te ama, sabe disso? Todo o dia comentava o quanto sente sua falta, que nunca quis ser um pai ausente, mas você sabe o quanto sua mãe e difícil. –  Automaticamente tive que sorrir, ela realmente e ameaçadora quando quer. – Agora como você vem pra cá, tudo fica mais fácil.
·         Eu quero muito vê-lo... Deus sabe o quanto quero. – Serei forte, eu consigo. – Não é simples aceitar que todos esses anos ele sequer veio visitar sua filha, ele se lembra de mim? Você diz que sim, mas não é o que aparenta. Sangue do seu sangue era isso o que ele dizia a mim quando meus irmãos morreram. Que tipo de pai, não estava do seu lado ao ganhar a medalha de melhor aluna da escola? Quando eu completei 18 anos imaginei que ele marcaria uma viagem para passarmos um tempo juntos, ele apenas me mandou um carro. Sinto muito Collin, mas ele não é meu pai, é apenas um desconhecido que eu infelizmente carrego com o mesmo sobrenome.

DESEJA DESLIGAR A TELECAM?

Tudo o que eu disse ecoou em meus pensamentos, passei metade da minha vida imaginando que havia algo de errado, controvérsias que nós possibilitávamos de não se encontrar. Dormi durante todo o restante do voo, eu precisava descansar afinal o restante do dia seria bem revelador.

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