Arrependimento

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Uma das pernas de Leopoldo estava em farrapos, o pé não existia mais, havia feridas até a altura da cintura, tínhamos que sair dali ou ele morreria.
- Leopoldo? Não durma, não feche os olhos, olhe pra mim, vou tirar você daqui, tudo vai ficar bem.
-Sr Reymod, acho que não consigo me mexer, só quero dormir um pouco, estou com frio, muito frio.
Sentia meu estômago embrulhar, o cheiro do sangue, as feridas, não me dava muito bem com isso.
Sr.André se aproxima com algumas tiras de pano, um cantil cheio de água.
- O que vai fazer?- Pergunto.
- Lavar as feridas e estancar o sangue.
Quando ele começa a lavar Leopoldo grita de dor, seguro na sua mão e peço que aguente firme, mas na hora de fazer o torniquete ele não aguenta e desmaia.
- Levantem acampamento, vamos sair deste lugar!
A equipe se apressa em direção a barraca,todos estão em choque,nem um de nós havia passado por uma situação dessas.
- Como vamos transporta-lo com segurança? Carro não chega a esse ponto da mata.
-Não podemos transporta-lo!Ele não aguentaria duas horas,perdeu muito sangue e está fraco.
-Então o que sugere?
-Vamos pedir ajuda a tribo mais próxima.
- Eles ajudariam?
-Sinceramente,não sei,mas é a nossa única opção,e pode ser a única do seu amigo também.
- Quanto tempo até a próxima aldeia?
-Não muito,mas a essa altura eles já sabem que estamos aqui. Deixe essa parte comigo fique aqui com ele,que vou buscar ajuda.
O guia sai. O pessoal me ajuda levar Leopoldo até o acampamento e o colocamos em sua barraca, ele ainda não tinha recobrado a consciência,mas o sangramento havia parado e estava se aquecendo.
A espera era torturante,me sentia culpado por ter arrastado meu pessoal até aquele lugar por um sonho que era meu,devia ter analisado direito,ter contratado pessoas mais experientes,mas fiquei receoso,agora Leopoldo está morrendo e a culpa é minha. Já passa da hora do almoço e nada do guia,talvez a tribo não quis ajudar e ele foi atrás de ajuda em outro lugar,ou se perdeu,ou sei lá, foi atacado por um animal também,as esperanças se esvaiam de mim,os nervos estavam a flor da pele.
Escutamos passos e vozes,nos levantamos em alerta,a medida que ia se aproximando a adrenalina aumentava o medo era palpável entre nós. Assim que vi o Sr André,relaxei,mas por pouco tempo,junto a ele estava seis homens fortes,morenos todos pintados e praticamente pelados,traziam em suas mãos arco e flecha, lanças, todo tipo de arma feita à mão. Estavam um pouco distantes ainda, o medo que antes era palpável agora emanava, não sabíamos se tinham vindo ajudar ou nos expulsar.
-Sr Reymod? Esses são os Ticunas ,vieram ajudar.
Estico minha mão para cumprimentá-los mas não recebo a mesma cortesia de volta,eles me olham como se não entendessem,o que está mais próximo da um passo atrás,recolho minha mão,fico parado tentando lembrar as palavras do sr André de como se comportar com eles.
- Onde está o homém de má sorte? - Um dos nativos pergunta.
O guia me olha esperando minha resposta,aponto para a barraca,mas caminho rápido até a mesma, estou surpreso por eles falarem nossa língua achei que tinham um dialeto próprio.
O índio caminha até a porta da barraca e para em minha frente,esperando que eu saia pra ele entrar,fico em dúvida do que fazer, sr.André se aproxima coloca a mão em um de meus ombros.
-Deixe-o passar eles vieram ajudar!
Relutante saio da frente o homem pintado entra, minutos depois sai. Se aproxima dos seus companheiros, agora falando uma língua que não entendo,um deles apanha no chão uma maca se é que posso chamar assim,feita de bambu e cipó, adentram a barraca e saem com Leopoldo nela.
-Temos que levá-lo ao ancião,a vida já está deixando seus olhos.
-Pessoal pegue só o necessário,na volta pegamos o resto.- Saímos em direção a aldeia, adentramos uma parte da floresta que era tão fechada que mau se enchergava o chão,os raios de sol que conseguiam passar,refletiam nas árvores e flores dando uma imagem imprecionante da beleza do lugar, o canto dos pássaros, os sons de animais,o balanço das árvores, o som do rio, tinham uma sintonia e juntos formavam um senario perfeito.
Já andávamos a quase uma hora estávamos sem fôlego e os nativos caminhavam como se estivesse na sala de casa,sabiam onde é como pisar.
-Temos que descansar!- Falo e todos me olham.
-Um pouco mais a frente.- O nativo que me parece ser o líder deles fala.
Paramos alguns metros a frente,onde a mata não era tão fechada e a claridade era maior. Vejo o guia e o homem pintado conversando e me aproximo.
- Falta muito pra chegarmos?
- Não!mais uma hora de caminhada.- Me responde o guia.
-Que bom,os homens estão com sede e fome.
Depois que recuperamos as forças voltamos a caminhar,os Ticunas carregaram Leopoldo por todo o trajeto e não parecia esforço nenhum,por mais que estivessem acostumados o porte físico deles e a força não me pareciam normais,meus pensamentos são interrompidos pelo guia.
-Chegamos.
Levanto o olhar e fico maravilhado com o que vejo.

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