Capítulo 10

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Quando a ninfa disse que seria um processo doloroso não imaginei que seria tanto assim. E agora enfeitando meu pulso esquerdo havia uma pequena marca, que segundo a ninfa nos protegeria da ira de Hera por levarmos Nicole para dentro do jardim. Mas será?

Nossas marcas não eram todas iguais, cada um representava algo do seu pai divino misturado com nossa personalidade. Todos nos estávamos apreensivos. Como iríamos conseguir esconder Nicole? De que maneira ela iria passar despercebida?

- Vocês agora podem passar, mas não esqueçam, esta marca que carregam é tanto uma proteção como uma maldição. Não pensem que ela os protegerá de todo mal. – disse a ninfa já desaparecendo entre as árvores. Em um momento estávamos sozinhos outra vez.

Caminhamos novamente e lentamente em direção ao portão. Nicole estava apreensiva, mas quando passou suspirou, soltando dos pulmões o ar, e aliviando a tensão.

Havia uma trilha muito mal feita pelo meio de arbustos e mato. Eu realmente não conseguia imaginar como aquele lugar era chamado de jardim de Hera. Não via nenhum motivo para um deus querer fazer qualquer coisa ali. Estava mais para ferro velho de Hefesto que para jardins bonitos.

Comecei a me sentir cansada, e vi que todos estavam assim. Alguma coisa parecia pesar sobre nossos ombros, fazendo com que tivéssemos vontade de parar para dormir. Então senti um repuxo em meu pulso, e vi que a marca que antes era preta, agora brilhava, e me dava animo para prosseguir.

Foi então que entendi. Aquilo era como um antídoto para as armadilhas daquele lugar. Mas ao mesmo tempo era muito perigoso, pois consumia nossa força de maneira dolorida e exagerada. Sentia meu pulso arder, e em minhas veias o sangue correr mais depressa. Foi então que ouvimos um barulho de alguma coisa que parecia estar vindo atrás de nós. Automaticamente nos olhamos e com um pensamento em comum, começamos a correr.

As minhas pernas doíam, a visão estava turva e eu não enxergava nada além de vultos e sombras. Ao meu lado Diana falava coisas sem sentido, como se estivesse discutindo com alguém que não estava ali.

Foi então que vi pessoas na minha frente. Todos nós paramos. E em minha frente havia uma família. Eu não sabia por que, mas sentia que precisava fugir, ou seria morta por aquelas pessoas. Ouvi Tainá gritando e olhei em sua direção. Não havia nada ali, mas ela gritava desesperada como se algo a tivesse dando medo.

- São ilusões! – gritou Vitor ao meu lado. - Elas não são reais, não lutem.

Aos poucos aquilo foi desaparecendo e então voltei a enxergar normalmente.

- O que foi aquilo? – perguntou Lucy.

- Acho que alguém realmente não nos quer aqui. – disse Jhimy.

- Temos que continuar, precisamos pegar aquela flor. – disse Elisa.

- Nunca conseguiremos chegar até o final vivos se eu estiver aqui. – disse Nicole. – Vão e eu espero vocês do lado de fora.

- Não! Você vem com a gente, se ficar vai ser pior. – eu disse. – Não vou arriscar te deixar aqui sozinha.

- Mas essa missão é mais importante que isso, não vamos provocar a ira de Hera por mero capricho.

- Você NÃO vai ficar para trás. Nem que para isso eu tenha de te carregar, agora vamos.

Continuamos a caminhar, agora mais rápido que antes, em direção ao final da trilha. Agora o lugar que antes parecia devastado estava tomando forma de jardim. Algumas flores se espalhavam ao nosso redor. Era bonitas e diferentes de qualquer coisa que eu já tivesse visto.

- Qual delas será? – perguntou Gian.

- Phobos disse que saberíamos de imediato a flor certa, então procurem algo que se destaque do resto. – disse Elisa.

Nos dividimos e começamos a andar de um lado para o outro procurando a maltita flor que poderia mudar as nossas vidas.

- Toma é pra você! – disse Vitor me entregando várias flores juntas.

- Obrigada. – respondi sem jeito.

- Só isso? – ele perguntou.

- O que você quer?

- Um sim estaria ótimo. – ele deu um sorriso.

- Está alucinando de novo? - eu disse sem entender – Um sim pra quê?

- Quer ser minha namorada? – ele mandou assim na lata. Minha reação: nenhuma. Fiquei sem saber o que dizer.

- Tem certeza do que está dizendo? – falei por fim.

- Kaila, eu passo o tempo todo pensando em você, querendo ficar com você. E quando estamos juntos minha vontade é te abraçar e te beijar. Não imaginei que isso seria assim, mas parece que você tem um imã que me atrai e que impede de me separar. Eu te amo.

Agora sim, eu estava sem palavras. Meu coração dava pulos de alegria e minhas pernas estavam quase perdendo a força. Não pude me segurar. Pulei nele e o beijei.

- Isso é um sim? – ele meu olhou.

- Pode apostar.

Ele me deu mais um beijo, e Laís, Diana, e Jhimy, que estavam por ali começaram a rir. Mas para minha infelicidade, ainda tínhamos que achar aquela planta, então voltamos ao trabalho. Embora agora nossos olhares se encontrassem de vez em quando.

Eu estava caminhando entre as flores e já sentia meu nariz coçar. Eu tinha alergia a poeira e pólen, e aquele jardim já estava se tornando o pior lugar na terra pelo qual eu já havia passado.

Foi então que minha visão alcançou uma pequena flor escondida no meio de tantas.

Não sei se isso já aconteceu com você alguma vez, mas quando olhei para ela, senti meu coração parar de bater por alguns segundo que pareciam horas.

- Pessoal! – gritei - Encontrei.

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